Temporada do time de futebol masculino de Harvard é cancelada após escândalo de machismo

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A Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, cancelou o restante da temporada de sua equipe de futebol masculino após descobrir que seus “relatórios de avaliação” objetificando as atletas do time feminino ainda estavam em vigor, conforme o Boston Globe relatou na quinta-feira.

As investigações da escola foram motivadas por uma matéria publicada no jornal da Universidade sobre a prática do time de futebol masculino de fazer uma análise anual das calouras do time feminino. A grosseria do relatório fez com que as seis mulheres objetificadas na versão de 2012 respondessem publicando uma carta aberta no jornal universitário na semana passada.

O departamento responsável pelo programa atlético da Universidade obteve o documento de 2012 e acreditou que se tratava de algo restrito a aquele ano, embora na época não tenha ficado claro se a tradição já ocorria há mais tempo. Nele, havia a descrição e a pontuação das novas atletas. As seis, que não estão mais no time – cinco delas jogaram durante quatro anos e a sexta jogou somente em seu ano de caloura – decidiram se expressar por meio de uma carta aberta.

Nós somos estas mulheres, nós não somos anônimas. …

Quando ficamos sabendo deste “relatório de avaliação” cada uma de nós respondeu com surpresa e confusão, mas depois disso descartamos a notícia como se ela não importasse muito. Como se nós não estivéssemos surpresas por homens terem falado de nós de forma inapropriada. Como se esse tipo de coisa fosse simplesmente “normal.”

A triste realidade é que nós aprendemos a esperar este tipo de comportamento de muitos homens. Isso é tão “normal” para nós que muitas vezes decidimos que a situação não vale o nosso tempo ou esforço.

Nós sentimos que perdemos a esperança porque os homens que supostamente deveriam ser nossos irmãos nos degradam desta maneira. Ficamos consternadas com o fato de que as atletas femininas que ouvem mensagens de empoderamento e incentivo para que se sintam orgulhosas de suas habilidades sejam tão regularmente reduzidas a sua aparência física.

Tendo considerado membros deste time [masculino] nossos amigos próximos durante os últimos quatro anos, estamos incrivelmente machucadas por perceber que estes indivíduos possam encorajar, observar silenciosamente, ou participar deste tipo de comportamento, e que por mais de quatro anos tenham se recusado a pedir desculpas, até esta semana.

Este documento tenta nos avaliar em relação às outras, como se o julgamento de alguns homens fosse suficiente para determinar o nosso valor. Homens, nós sabemos que isso não é verdade. Dezoito anos jogando futebol nos ensinaram isso. Dezoito anos – como atletas femininas bem-sucedidas, poderosas e indiscutivelmente brilhantes – nos ensinaram isso.

Este documento pode ter machucado qualquer outro grupo de mulheres que vocês tenham definido como alvo, mas não a nós. Nós sabemos, como colegas de equipe, que crescemos com as dificuldades, que somos mais fortes juntas, e que não iremos tolerar nada menos do que respeito pelas mulheres com quem nos preocupamos mais do que com nós mesmas.

Finalmente, para os homens do time de futebol de Harvard e para qualquer futuro homem que queira avaliar nossos corpos e nos tratar como objetos sexuais, nas palavras de uma de nós, dizemos juntas: “Eu posso oferecer o meu perdão, que é – e sempre será – a única parte de mim que você poderá reivindicar como sua.”

O documento dava notas às jogadoras de acordo com sua aparência física, e fazia especulações a respeito de seus hábitos sexuais. Quando o jornal universitário apresentou o documento ao Diretor da Atlética de Harvard, Robert L. Scalise, ele expressou a sua preocupação e o seu desgosto, mas tentou impedir que a história fosse publicada.

“Isso não é algo para a mídia,” disse ele ao jornal, de acordo com a matéria publicada. “Isso é algo que nós, da administração, temos que analisar internamente para descobrir quais devem ser nossos próximos passos, mas não devemos usar a mídia mais do que o necessário.”

Esta postura também é perturbadora em uma realidade em que más condutas relacionadas a temas sexuais nas Universidades não costumam ser divulgadas e nem punidas. Escolas que querem manter episódios vergonhosos, assim como o exposto pelo jornal de Harvard, ou casos de violência sexual, como algo interno para não manchar sua reputação tendem a criar culturas de impunidade.

De acordo com o Globe, o departamento atlético de Harvard prometeu trabalhar com a área da Universidade especializada em abusos e agressões sexuais para educar seus jogadores do sexo masculino e outros atletas “a respeito da seriedade destes comportamentos e do padrão geral de respeito e conduta esperado.”

A equipe de futebol masculino de Harvard, que tinha mais dois jogos programados nesta temporada regular, estava disputando o título Ivy Leache e o NCAA Tournament.

Yahoo

10/11/2016

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