SAÚDE – O valor acessível dos cigarros estimula o início do hábito entre adolescentes.

Uma pesquisa recente divulgada pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca) constatou que o preço dos cigarros fabricados no Brasil, assim como dos cigarros contrabandeados, está extremamente baixo. De acordo com o estudo inédito intitulado “The cigarette market in Brazil: new evidence on illicit practices from the 2019 National Health Survey”, realizado em parceria com a Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, o preço do tabaco está congelado desde o final de 2016, sem nenhuma alteração nem nos impostos que incidem sobre esses produtos, nem no preço mínimo estabelecido por lei.

O médico e estudioso da Divisão de Pesquisa Populacional do Inca, André Szklo, ressaltou que essa falta de reajuste no preço do cigarro contribui para que ele se torne cada vez mais acessível à população. A estratégia das indústrias desses produtos é manter os preços baixos para inibir o contrabando. Essa política de preços tem refletido diretamente no aumento da proporção de fumantes entre os jovens e adolescentes, principalmente entre as meninas.

Esse barateamento do cigarro legal e ilegal favorece a iniciação precoce no hábito de fumar, especialmente entre a população de jovens e adolescentes com menos recursos financeiros. Essa proporção de fumantes entre os mais jovens vem aumentando nos últimos anos, algo que vinha recuando desde 1989. Essa mudança é um reflexo direto da política de preços e impostos mais fraca, que é uma das principais diretrizes para prevenir a iniciação ao fumo.

Esse cenário de preços baixos também tem gerado impactos negativos na saúde pública. Atualmente, o Brasil gasta cerca de R$ 125 bilhões por ano com doenças relacionadas ao uso de produtos derivados de tabaco, enquanto a arrecadação da indústria de tabaco não cobre nem 10% desse valor. Estudos também indicam que dois em cada três usuários de tabaco morrerão em decorrência do uso desses produtos.

Portanto, é crucial que se adotem medidas para combater esse cenário. O médico e pesquisador do Inca, André Szklo, defende o aumento do preço do cigarro, a implementação do Protocolo para Eliminar o Comércio Ilícito de Produtos de Tabaco, que o Brasil ratificou em 2018, e a reforma tributária que está sendo discutida no Congresso Nacional. Segundo ele, a reforma tributária é uma grande oportunidade para fortalecer a necessidade de impostos seletivos sobre produtos do tabaco, para que a arrecadação desse tributo possa ser usada em ações de tratamento, prevenção e conscientização sobre os riscos do tabagismo.

É importante ressaltar que o preço médio do cigarro legal brasileiro é o segundo mais baixo das Américas. A diferença de preço entre os produtos legais e ilegais tem diminuído significativamente nos últimos anos. Cerca de 40% dos cigarros consumidos no Brasil ainda são de marcas ilegais, o que demonstra a gravidade desse problema.

Os dados detalhados dessa pesquisa serão apresentados em um evento virtual promovido pelo Inca nesta terça-feira (29), durante a comemoração do Dia Nacional de Combate ao Fumo.

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