Possibilidade de juros mundiais elevados afugenta investidores estrangeiros e torna outubro o pior mês em três anos na B3.

A cautela geopolítica tem impactado negativamente os investimentos estrangeiros na Bolsa brasileira, levando a um possível cenário de juros elevados por um longo período. De acordo com especialistas consultados pelo Broadcast, a situação atual sugere que outubro será o pior mês em termos de ingresso de recursos externos em três anos.

Dados mostram que, até o momento, os investidores estrangeiros retiraram R$ 2,476 bilhões da B3. Esse valor é resultado das compras acumuladas de R$ 194,823 bilhões e das vendas de R$ 197,3 bilhões. A tendência é de que outubro seja o pior mês desde 2019, quando os investidores retiraram R$ 9,601 bilhões. Nos anos seguintes, outubro registrou aportes expressivos, de pelo menos R$ 2 bilhões.

Os entrevistados pelo Broadcast consideram pouco provável uma retomada substancial dos investimentos estrangeiros, devido às incertezas externas e às já conhecidas dúvidas fiscais internas. O economista-chefe do BV, Roberto Padovani, afirma que desde meados de 2015, 2016, os fluxos de capitais têm sido mais instáveis e essa tendência continuará. No entanto, ele ressalta que o Brasil está mais resistente a choques, devido às reformas realizadas, e não está tão mal posicionado em relação a outros países emergentes.

O economista Matheus Pizzani, da CM Capital, também não prevê mudanças significativas nos aportes de capital na B3 no curto prazo. Ele destaca que a mudança no cenário político e uma percepção diferente em relação ao Brasil no início de 2023 impulsionaram os investimentos estrangeiros. No entanto, agora há um movimento de saída devido a fatores conjunturais.

Segundo Jennie Li, estrategista de ações da XP, é necessário que haja um alívio no cenário internacional para que haja um retorno dos investidores estrangeiros na B3 nos próximos meses. Ela destaca que a principal incerteza está relacionada à postura do Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, em relação à política monetária.

Além das incertezas externas, a situação fiscal do Brasil também influencia os investimentos estrangeiros. O país não possui grau de investimento, o que aumenta a percepção de risco e deixa o fluxo de capital sujeito a informações de curto prazo. O economista do BV ressalta que o aumento do endividamento público torna o país mais vulnerável a choques, principalmente para os países emergentes exportadores de commodities como o Brasil.

Embora o cenário externo seja dominante, os especialistas acreditam que avanços internos, como a reforma tributária, podem motivar o investimento estrangeiro no Brasil. De acordo com Li, da XP, o país é visto como um mercado favorável, com preços das ações descontados em relação à média histórica. Além disso, a redução da taxa Selic em um momento em que outros países adotam uma política monetária restritiva também atrai investidores para a Bolsa brasileira.

Fernando Honorato, economista-chefe do Bradesco, destaca que o Brasil está mais bem posicionado ou sentindo menos os efeitos externos devido aos avanços internos. Ele ressalta que o Banco Central do Brasil começou o afrouxamento monetário antes de muitas outras autoridades e que as condições fiscais estão melhorando, o que pode permitir uma valorização do real. O Bradesco estima que a taxa de câmbio fechará o ano em R$ 5,00 e chegará a R$ 4,80 em 2024.

Outro fator que pode beneficiar o Brasil é a valorização do petróleo, segundo Honorato. Enquanto o país pode se beneficiar dessa valorização, outros podem ser afetados de forma desfavorável. No entanto, o cenário global ainda é incerto, e as preocupações conjunturais devem prevalecer até que haja uma certeza maior em relação aos juros nos Estados Unidos e ao crescimento chinês.

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