Por que você deve tomar (muito) cuidado ao expor seu filho nas redes sociais

Passamos gerações dizendo aos filhos: “Não converse com estranhos”. Por que oferecemos uma série de informações sobre as crianças nas redes sociais?

criancas

Nunca é demais lembrar. As redes sociais não são um lugar seguro para crianças. Está nas regras do Facebook: “Você não deve usar o Facebook se for menor de 13 anos”. O mesmo vale para Instagram, Pinterest, Snapchat e Twitter. No YouTube, crianças podem até assistir, mas apenas adolescentes a partir de 13 anos podem criar um canal. É bem esquisito que responsáveis deixem seus filhos virar estrelas youtubers mirins. Sem esquecer o WhatsApp… O aplicativo define a idade mínima de 16 anos (sim, 16…), ainda que muitos professores do ensino fundamental usem o aplicativo para manter contato com seus alunos. É uma tentativa de parecer “ligado nas novas tecnologias“, mas ajuda, junto a responsáveis mais permissivos, a construir um cenário preocupante: uma pesquisa publicada por ÉPOCA no ano passado mostrou que mais de 60% das crianças brasileiras com 7 a 12 anos se expõem em serviços como Facebook e WhatsApp.

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As redes sociais, que ganham dinheiro com o conteúdo que seus usuários publicam, não querem crianças compartilhando seus hábitos e gostos. Elas sabem que não têm como garantir a segurança desse público e “topam” abrir mão desse dinheiro que poderia ser gerado pela venda de publicidade infantil, por exemplo. Então por que tantos responsáveis insistem em expor seus filhos com fotos e vídeos que contam, com detalhes, cada etapa do crescimento da criança?

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Aqui há um desafio em não parecer radical. Não tenho filhos. Muitos amigos com crianças, especialmente em idade pré-adolescente, costumam me responder com o tradicional: “Quando você tiver as suas, verá como é na realidade…”. Também não quero dizer que responsáveis não devem postar qualquer foto de família em que uma criança apareça. Mas dou algumas dicas baseadas em exemplos – alguns um pouco fortes, me perdoem – que mostram que não custa nada tomar muito cuidado em relação ao que você compartilha nas redes.

1. A falta de bom-senso dos amigos e familiares
Se você preza por privacidade, tome cuidado. Sofremos com a falta de conhecimento sobre como as redes sociais funcionam e como elas distribuem nossas informações. Nem sempre por culpa dos serviços que usamos, mas porque não lemos os termos de uso e nem paramos para compreender como funcionam as ferramentas de privacidade. Às vezes, achamos que estamos publicando uma informação direcionada a um público restrito, só de amigos. Mas quem criou o grupo se esqueceu de torná-lo privado. Ou pior: um amigo ou familiar sem noção resolve divulgar aquela foto particular na página dele, com mais de 1.000 amigos que você pouco conhece. Como bom-senso é um conceito subjetivo, é bom evitar dois problemas: o de ver a foto de seu filho circulando por caminhos desconhecidos e o de precisar se indispor com algum amigo ou familiar que acha que não há problema em compartilhar em suas redes.

2. A atratividade de fotos aparentemente inofensivas
Fotos de criança sem roupa – tomando banho, por exemplo – nunca devem ir para as redes sociais. Se na era das fotos reveladas em papel tínhamos o controle de quem poderia vê-las, na das redes sociais é impossível impor um limite. Impossível mesmo. Se essas fotos caem em redes de pedofilia e pornografia infantil, fica impossível rastreá-las e apagá-las. Para usar uma analogia batida, é como querer tirar xixi de piscina.

Censurar fotos de pijamas e roupas de banho parece exagero? A mim parecia, mas vale contar a história de uma colega especializada em mídias sociais que trabalhou para uma marca de roupas infantis. A empresa identificou que nas páginas da loja on-line das marcas havia picos de audiência durante a madrugada de dois setores do site: o que havia modelos crianças com roupas de banho e crianças usando pijama. Especialmente meninas. Essa audiência não se convertia em vendas. Ou seja, não era o público normal comprando roupas. Era gente atrás das imagens das crianças, que também passam a circular em grupos de pedófilos.

3. A segurança física
Passamos gerações e gerações dizendo a nossos filhos: “Não converse com estranhos”. Por que então fornecemos uma série de dados que ajudam esses mesmos estranhos a rastrear, passo a passo, a rotina dos nossos filhos? Um exemplo hipotético: numa manhã você publica a foto da criança na festa junina da escola numa conta aberta do Instagram. Mais à noite, posta outra foto, a imagem dela em casa abraçando o animal de estimação. Marca como localização o nome de seu condomínio. Num espaço de poucas horas, um estranho sabe onde seu filho, ou filha, mora e estuda. E mais…

Às vezes até blindamos as crianças, mas nos esquecemos de proteger nossas informações pessoais. Uma advogada acompanhou o caso de uma menina de 9 anos que foi chantageada por um pedófilo no WhatsApp. Ele enviava uma mensagem do tipo “Oi. Tudo bem com você?” para um monte de números aleatórios. Alguns deles pertenciam a crianças. Algumas respondiam, e a interação começava. Com uma engenharia social básica, o pedófilo conseguiu convencer a menina a revelar o nome de seus pais. Ele então buscou no Facebook e descobriu ali a rotina detalhada da família, com o endereço do trabalho dos responsáveis e os lugares que eles frequentavam. Quando já tinha a confiança da criança, passou a exigir imagens da garota nua. Se ela não enviasse ou contasse para os pais, eles seriam mortos. A criança acabou enviando essas fotos, e os pais só descobriram depois de alguns dias, quando a menina não suportou e contou para a mãe.

4. O direito de não exposição da criança
Esta última parece menos grave, mas entra na mesma linha da privacidade. Nós, adultos, temos controle sobre o que publicamos nas redes sociais. Ou podemos tomar a decisão de não ter controle algum e respeitar os efeitos que isso pode trazer. A criança não tem. São os responsáveis que vão decidir por ela. Só que essa criança vai crescer e virar um adulto. E aí? E se o perfil dela for mais reservado do que dos pais? Não estamos falando de álbuns de fotografia de família guardados dentro de baús empoeirados. Falamos de crianças que em algum momento tomarão conhecimento de que há gigabytes de fotos digitais espalhadas por redes sociais frequentadas por estranhos. Será justo com elas?

Época

06/08/16

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