O doping é um bom negócio

Mais que resultados, as drogas no esporte fazem parte de uma economia bilionária que vende a ilusão de vitórias e de poder

1469819019533

Nos próximos dias, o Brasil será o centro das atenções mundiais com as vitórias, as derrotas e os recordes quebrados pelos quase 10,5 mil atletas de, aproximadamente, 200 países, que participarão da XXXI edição dos Jogos Olímpicos. Mas uma marca foi alcançada antes mesmo de os atletas entrarem nas arenas do Rio 2016: o elevado número de casos de doping. Nos últimos meses, um trabalho intenso de investigação da Agência Internacional Antidoping (Wada, na sigla em inglês) revelou uma série de esquemas para burlar a realização de exames.

Houve casos de atletas escondidos ou que foram pegos fugindo de ginásios, com a cobertura de seus treinadores. A Rússia foi o principal alvo e, sempre favorita ao pódio, ficou ameaçada de exclusão da Olimpíada. A Wada deixou a decisão da participação para as federações internacionais de cada uma das 42 modalidades. Se algumas deixaram um ou outro competidor de fora, apenas a federação de atletismo não se omitiu e excluiu todos os russos das competições.

Decisões como essa causam injustiças, como a punição à Yelena Isinbayeva, a bicampeã olímpica do salto com vara, que não faltou a nenhum teste, nem foi flagrada com substâncias proibidas. Ela tentou recorrer à Corte máxima para ser uma exceção, mas não conseguiu. Isinbayeva, que se preparou durante quatro anos, paga pelo crime dos outros. Mas esse preço alto é necessário quando algo maior do que o esporte está em jogo: dinheiro e poder. Sob a ótica do lucro, o doping é um bom negócio e alimenta uma rede clandestina em vários países. Só nos EUA, o mercado negro dos esteróides movimenta mais de US$ 100 milhões por ano para atender a três milhões de atletas profissionais e amadores, segundo um estudo da Universidade Harvard.

Para a indústria esportiva, que tem um faturamento anual de cerca de 1% do Produto Interno Bruto global – algo em torno de US$ 750 bilhões –, formar campeões é uma mina de riqueza a ser explorada. Patrocinadores só aceitam colar suas marcas nos vencedores. Muitos, para alcançar esse nível, aceitam injetar potentes hormônios para melhorar seu desempenho. A medalha é a ponte para o sucesso financeiro. Nesse mundo em que os louros se transformam em dinheiro, os atletas são a peça final de uma cadeia bilionária. E, não se engane, não existem inocentes.

O Comitê Olímpico Internacional quer limpar o esporte das drogas. Alguns, ao contrário, defendem a liberalização total delas para dar condições de igualdade a todos os atletas. Mas esse é um erro e seria a consagração da contravenção. A beleza do esporte está, justamente, na quebra diária dos limites do corpo humano, um exercício fantástico da evolução natural. A ilusão de poder só interessa àqueles que vendem falsos projetos, como a Alemanha Oriental ou a União Soviética, dois exemplos de formação de máquinas esportivas para transmitir uma fortaleza erguida com areia.

A evolução da ciência tem mostrado que as drogas no esporte não estão mais numa liderança folgada. Há cerca de 10 anos, dizia-se que o doping estava cinco passos a frente da tecnologia usada para sua detecção. Nessa corrida, o antidoping está mais próximo. A Wada demonstrou isso ao refazer 1,2 mil testes de atletas que participaram dos Jogos de Pequim, em 2008, e Londres, há quatro anos. Foram duas levas que encontraram, ao todo, quase 100 atletas dopados, muitos deles subiram ao pódio. O Rio 2016 tem tudo para ser inesquecível para o esporte, embora, no final, muitas glórias serão derrubadas pelas farsas.

Istoé

05/08/16

Jornal Rede Repórter - Click e confira!




Botão Voltar ao topo