Na CPMI do dia 8, um militar foi ouvido por movimentar dinheiro para Mauro Cid.

A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro ouvirá hoje o depoimento de Luis Marcos dos Reis, sargento do Exército que fazia parte da equipe da Ajudância de Ordens do então presidente Jair Bolsonaro. Reis é acusado de estar envolvido em movimentações financeiras suspeitas que beneficiaram o coronel Mauro Cesar Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro. As informações constam em um relatório de inteligência financeira (RIF) produzido pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e entregue à CPMI no último dia 11. Embora o documento seja sigiloso, parte de seu conteúdo foi divulgada pela imprensa.

O depoimento de Luis Marcos dos Reis foi solicitado pela relatora da CPMI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), e pelos parlamentares Fabiano Contarato (PT-ES), Rogério Correia (PT-MG), Delegada Adriana Accorsi (PT-GO), Rafael Brito (MDB-AL), Duarte Jr. (PSB-MA) e Jandira Feghali (PCdoB-RJ). Vale ressaltar que todos os requerimentos foram apresentados antes de a comissão ter acesso ao relatório do Coaf, portanto, não mencionam as movimentações financeiras como justificativa para a convocação.

Os requerimentos concentram-se nas conexões de Reis com a organização dos atos de 8 de janeiro. O senador Fabiano Contarato (PT-ES), por exemplo, argumenta que as investigações policiais envolvendo a equipe de auxiliares de Bolsonaro apontam para a premeditação e envolvimento dos servidores. Segundo o senador, “tais documentos que comprovariam a tentativa de golpe de estado foram encontrados em mensagens trocadas entre o coronel Mauro Cid e o sargento Luis Marcos dos Reis”.

A deputada Jandira Feghali destaca que a Polícia Federal encontrou no celular de Reis fotos e vídeos feitos durante a invasão das sedes dos três poderes. Ela critica, ainda, o fato de que, em um desses vídeos, o militar filma a si próprio em cima da cúpula do Congresso Nacional.

Luis Marcos dos Reis será ouvido na condição de testemunha. Em maio, ele foi preso durante as investigações de um esquema de falsificação do cartão de vacinação de Jair Bolsonaro.

A reunião da comissão está marcada para as 9 horas, no plenário 2 da ala Nilo Coelho, no Senado Federal.

A CPMI já ouviu outros depoentes anteriormente, como o ex-chefe do Departamento Operacional da Polícia Militar (DOP) do Distrito Federal, Jorge Eduardo Naime. Em seu depoimento, Naime afirmou que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) havia alertado sobre o risco de ataques, porém, o núcleo de inteligência do DOP não teve acesso a esses alertas.

Além disso, a comissão também interrogou o empresário George Washington Sousa, o diretor do Departamento de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado da Polícia Civil do DF, Leonardo de Castro, e os peritos da Polícia Civil do DF Renato Carrijo e Valdir Pires Filho, que realizaram exames nas proximidades do aeroporto e no caminhão onde uma bomba foi encontrada.

Também prestaram depoimento o ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal Silvinei Vasques, sobre as blitze realizadas nas rodovias federais durante o segundo turno das eleições, e o coronel Jean Lawand Júnior, que teve que explicar mensagens trocadas com o tenente-coronel Mauro Cid. Ambos negaram envolvimento em atividades golpistas.

O próximo a ser ouvido seria o próprio coronel Mauro Cid, porém, ele optou por não responder às perguntas dos parlamentares. O militar está preso desde maio, acusado de fraudar cartões de vacinação.

Outro depoimento importante foi o do ex-diretor adjunto da Abin, Saulo da Cunha, que afirmou que foram enviados 33 alertas de inteligência sobre o monitoramento de manifestantes contrários ao novo governo.

Anderson Torres, ex-secretário de Segurança do Distrito Federal e ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, também prestou depoimento sobre a “minuta do golpe”, um documento encontrado pela Polícia Federal em sua residência. Torres alegou que o texto é uma aberração jurídica e que não sabe quem o entregou ou produziu.

A relatora Eliziane Gama não acreditou na versão de Torres e considerou estranho que a “minuta do golpe” estivesse sendo guardada em sua casa.

Outros depoentes na CPMI incluem o fotógrafo da Agência Reuters, Adriano Machado, que explicou que estava sendo forçado por um invasor a apagar fotos da invasão, e o hacker Walter Delgatti Neto, que alegou ter recebido promessas de indulto por parte de Bolsonaro em troca de informações sobre grampo e invasão de urnas eletrônicas.

A CPMI foi criada em abril deste ano para investigar os atos ocorridos no dia 8 de janeiro, quando apoiadores de Bolsonaro invadiram e vandalizaram as sedes dos Três Poderes. Durante a invasão, centenas de pessoas foram presas.

A reação dos presidentes dos três Poderes, que divulgaram uma nota em defesa da democracia, e a aprovação da intervenção federal no Distrito Federal pelo Plenário da Câmara também foram eventos importantes relacionados a esse episódio.

Presidida pelo deputado Arthur Oliveira Maia, a CPMI é composta por 16 senadores e 16 deputados.

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