O ex-presidente da República expressou uma série de queixas sobre o comportamento de Pereira, que também é presidente do Republicanos. Ele citou acenos do partido ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva, como a inclusão de críticas a Israel em uma moção de repúdio ao Hamas aprovada pela Câmara no ano passado. Pereira presidia a Casa durante a votação e acatou uma emenda de petistas, gerando críticas de opositores.
A conversa entre Bolsonaro e o presidente da Câmara ocorreu em Alagoas no início de janeiro, e a posição do ex-presidente foi transmitida aos deputados bolsonaristas, que passaram a divulgar o veto ao ex-aliado. Apesar das críticas e da restrição ao seu nome, Pereira evita fazer acenos diretos ao Palácio do Planalto para não ser rotulado como candidato governista na disputa, tentando equilibrar o apoio da base e de parte da oposição. Apesar de seu partido integrar o governo, com um indicado da sigla no Ministério dos Portos e Aeroportos, o parlamentar mantém o discurso de independência.
Em sua estratégia, Pereira se envolveu com a comitiva de Lula em um evento em São Paulo no mês passado, além de criticar publicamente a fala do presidente da República que comparou os ataques de Israel na Faixa de Gaza ao Holocausto. Segundo Pereira, ele é pró-Israel e sempre foi, inclusive atuando como presidente do grupo parlamentar de amizade Brasil e Israel. Questionado sobre o veto de Bolsonaro à sua candidatura, Pereira disse não ter conhecimento a respeito.
O principal concorrente de Pereira na disputa pelo comando da Câmara é Elmar Nascimento (BA), líder do União Brasil, e considerado como o favorito de Lira. Deputados bolsonaristas também cogitam lançar um nome do PL ou alguém da oposição para rivalizar com a dupla. No entanto, o deputado Ricardo Salles (PL-SP) defendeu que os apoiadores de Bolsonaro escolham alguém da oposição a Lula para a sucessão de Lira, perfil que exclui Pereira.
Mesmo longe de deputados ligados ideologicamente a Bolsonaro, Pereira é um aliado próximo do presidente do PL, Valdemar Costa Neto. Além disso, o Republicanos abriga nomes que participaram do primeiro escalão do governo Bolsonaro e ainda são aliados do ex-presidente. Como bispo licenciado da Igreja Universal, Pereira já foi da base do governo de Dilma Rousseff e, em 2014, trabalhou para diminuir a resistência de evangélicos contra a petista. Em 2022, o Republicanos fez parte da coligação de Bolsonaro e comandava o Ministério da Cidadania, responsável por programas sociais.
Portanto, a situação de Pereira na disputa para a Mesa Diretora da Câmara permanece incerta, com desafios representados tanto pelo próprio governo Bolsonaro quanto por congressistas opositores. Entretanto, como a eleição está marcada para daqui a três anos, muitos acontecimentos ainda podem influenciar o desfecho desta narrativa política.