Estudo aponta que balneabilidade nas praias de Maceió é a pior em 10 anos

Um estudo coordenado pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), revelou que a balneabilidade nas praias urbanas de Maceió é a pior dos últimos 10 anos. De acordo com a pesquisa realizada pelo professor do Centro de Tecnologia da UFAL, Roberto Augusto, não é só o trecho da Praia da Avenida que, há anos, é evitado por conta do Riacho Salgadinho. A parte mais frequentada pela população, entre Pajuçara e Cruz das Almas, também está imprópria para o banho.

O pesquisador, que já foi consultor na área de Engenharia Ambiental e atualmente dá aulas na graduação e na pós-graduação do curso de Engenharia Ambiental da Ufal, vem acompanhando a balneabilidade da orla de Maceió desde 2009. Segundo ele, a balneabilidade pode ser definida como a qualidade das águas com fins de recreação de contato primário.

“Seu acompanhamento é essencial, pois o contato do nosso organismo com águas poluídas por esgoto gera riscos de contrairmos gastroenterites, causando diarreias e vômitos, infecções na pele, nos olhos e nos ouvidos, inflamações na garganta e nas vias aéreas e hepatites”, alertou Caffaro.

A Resolução 274/2000, do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), determina os critérios para enquadramento das praias nas categorias “própria” e “imprópria” para banho. O Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA) realiza análises semanais de balneabilidade em dezenas de praias do litoral alagoano e publica os resultados no site do órgão.

“No caso das praias urbanas de Maceió, já realizamos uma pesquisa aprofundada para compreender as causas da contaminação elevada na Praia da Jatiúca. Analisamos os dados históricos disponíveis e constatamos problemas em uma galeria pluvial da região. Esse estudo acaba de ser publicado na revista científica brasileira de maior importância na área de microbiologia, Brazilian Journal of Microbiology, que possui circulação internacional”, informou o professor.

Ampliando as pesquisas

Roberto Caffaro realizou pós-doutorado nos EUA, na University of Hawaii, onde, por um ano, realizou pesquisas em um centro que tem décadas de experiência na avaliação da qualidade de águas tropicais visando a proteger a saúde humana. Agora, ele orienta a bióloga Milena Bandeira de Melo que está realizando uma pesquisa de mestrado no Programa de Pós-graduação em Recursos Hídricos e Saneamento.

“Inicialmente iríamos aprofundar os estudos na Praia da Jatiúca, mas começamos a perceber uma piora generalizada na balneabilidade de todas as praias urbanas de Maceió, aquelas que concentram o maior número de hotéis. Decidimos aumentar a área de abrangência do estudo e levantamos os dados de monitoramento dessas praias durante os últimos 10 anos. Os resultados preliminares são alarmantes!”, ressaltou.

Foram avaliados os resultados de estações de monitoramento nas praias de Pajuçara, Ponta Verde, Jatiúca e Cruz das Almas.

“Para cada ano, calculamos a porcentagem de tempo em que determinado ponto foi considerado impróprio para banho. Comparamos os resultados nessas praias com os resultados de um ponto na Praia de Avenida que fica próximo à foz do Riacho Salgadinho. Essa praia é reconhecidamente poluída e visivelmente ninguém toma banho nesse ponto. Já sabíamos, pelo estudo anterior, que a qualidade na Praia de Jatiúca em frente ao antigo Hotel Meliá era péssima. Em 2011, essa praia ficou imprópria cem por cento do tempo. O que não esperávamos era observar tamanha deterioração na qualidade de praias que historicamente apresentavam qualidade regular, como a de Pajuçara e de Ponta Verde”, lamentou o pesquisador.

De acordo com gráfico, elaborado para visualizar melhor o resultado da pesquisa, os biólogos constataram que em 2014 e 2015, as praias urbanas de Maceió têm permanecido impróprias em proporção comparável à Praia da Avenida.

“A Praia de Pajuçara em frente ao Hotel Sete Coqueiros ficou mais de 90% do tempo imprópria para banho, tanto em 2014 quanto em 2015. Esse resultado foi pior do que o da Praia da Avenida no mesmo período. Uma mesma tendência tem sido sempre observada nessas praias urbanas. Na época das chuvas, a qualidade piora, por causa das famosas ‘línguas sujas’. Mas na época mais seca, que coincide com o verão, a balneabilidade na maior parte do tempo era boa. Desde o verão de 2014, isso não é mais verdadeiro. A qualidade no verão também está péssima,” alertou Caffaro.

Risco para os banhistas

Maceió possui as mais belas praias urbanas do Brasil, mas, segundo o biólogo, nenhuma outra capital no Nordeste está com a qualidade de todas as praias urbanas tão deteriorada. “É público e notório que a Praia da Avenida é poluída. Até os guias de viagem impressos informam isso. Mas esses mesmos guias recomendam banho nas praias de Pajuçara e Ponta Verde. A percepção geral do maceioense e do turista é que não há tanto problema nessas praias. Mesmo os resultados semanais estando disponíveis no site do IMA, quase ninguém os consulta. Ou seja, os usuários não estão tomando uma decisão informada quando se banham nessas praias. Isso é gravíssimo”, denunciou o pesquisador.

Essa contaminação generalizada deve ser comunicada à população. O biólogo ressalta que esse é o dever do poder público, mas também faz várias indagações, como: quais serão os impactos? O turista ainda vai querer vir a Maceió? Se vier, vai querer tomar banho? Vai permitir que seu filho tome banho? “Neste momento, está sendo elaborado o Plano Municipal de Saneamento Básico de Maceió. O plano está em fase de diagnóstico da situação atual do saneamento básico e seus impactos nas condições de vida da população. Tem havido audiências públicas para apresentação dos resultados. O diagnóstico da situação do sistema de esgotamento sanitário, caso seja bem feito, evidenciará a situação que descrevi”, garantiu Caffaro.

Na opinião do pesquisador, a causa desse quadro alarmante é um colapso no sistema de esgotamento sanitário que serve a região. “Todos que transitam pelas ruas e avenidas próximas à orla já viram diversas vezes, e em diversos pontos, o extravasamento de esgoto da rede coletora. Ora, esse esgoto não tem para onde ir senão para o mar, drenado pelas galerias pluviais. Esses extravasamentos se tornaram freqüentes desde meados de 2013, exatamente quando a balneabilidade começou a piorar significativamente. Muito se fala e já se tentou fazer para combater as ‘ligações clandestinas’ de esgoto nas redes pluviais. Mas, diante dos extravasamentos de esgoto da rede ‘oficial’, esta é uma questão secundária”, questionou o biólogo.

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