Esgrimista paralímpica: Paraplégica após contrariar decisão médica e ‘manter gravidez’

Paraplégica após contrariar decisão médica e manter gravidez, Mônica Santos conta com apoio da torcida para surpreender favoritas e buscar 1º pódio feminino do Brasil

Mônica Santos é abraçada pela filha Paolla
Mônica Santos é abraçada pela filha Paolla

Mônica tinha 18 anos quando soube que estava grávida. Em meio à alegria pela maternidade, veio o susto. Uma fraqueza até então inexplicável nas pernas foi atribuída à descoberta de um angioma medular. Ouviu dos médicos que o aconselhável seria interromper a gestação para evitar que a lesão pressionasse ainda mais a medula, o que poderia causar até tetraplegia. A gaúcha contrariou a recomendação e assumiu o risco. Deu à luz Paolla, e posteriormente se submeteu à cirurgia para a retirada do angioma. Perdeu o movimento das pernas, mas pôde carregar a filha nos braços.

– Me tornei cadeirante em 2002 por opção. Eu estava com dois meses de gestação quando tive um angioma medular e optei por ter a neném e ficar paraplégica. Não foi uma questão religiosa. Foi uma questão humana. Acho que, se cada um tivesse um pouquinho mais de humanização, o país estaria bem melhor. No momento eu nem pensava em ser contra aborto ou a favor. O fato é que eu queria ter um bebê, ali era uma vida, e eu não queria tirar aquela vida. Acho que era um ser humano desde o momento que estava ali batendo o coraçãozinho – disse Mônica.

Ela, que à época jogava futebol, não perdeu o ímpeto competitivo com a maternidade. Pelo contrário. Procurou esportes adaptados e fez vários testes. Se arriscou na natação, no tênis de mesa e no tiro esportivo. A bola da vez era o basquete em cadeira de rodas quando conheceu Jovane Guissone, que usava a modalidade para aprimorar a forma física. Ele, na verdade, era um expoente da esgrima em cadeira de rodas e em 2012 se tornaria o primeiro campeão paralímpico do Brasil no esporte, mais precisamente na espada, categoria B.

Apresentada às armas brancas, Mônica descobriu um caminho a trilhar como atleta profissional. Em um ano foi convocada para a seleção brasileira permanente e logo firmou-se como principal atleta feminina do país. Nas competições nacionais, como a Copa Brasil, é um dos trunfos do Rio Grande do Sul – as disputas são por representação dos estados da federação. Em torneios internacionais, ela também deixou sua marca. Sagrou-se bicampeã do Regional das Américas, garantindo a vaga para a Paralimpíada do Rio. Atualmente é a 19ª do ranking mundial do florete categoria A.

Mônica seria a única mulher da equipe verde-amarela, mas a saída da Rússia abriu espaço para que o Brasil competisse também na prova por equipes no feminino. Assim, Karina Maia e Suelen Rodolpho foram convidadas para integrar a delegação. Como Vanderson Chaves já havia herdado uma vaga no masculino, o país passou a ter oito representantes no esporte.

– Depois de 2012 a medalha do Jovane fez com que a gente ganhasse mais visibilidade e o esporte crescesse. Em Londres tínhamos um atleta, agora aumentou bastante. Isso é muito bom porque cresce a modalidade, e as pessoas veem que não é um bicho de sete cabeças. Não é o Zorro jogando, são atletas mesmo que estão buscando resultados para poder representar bem o Brasil – completou Mônica.

Eduardo Nunes, um dos três técnicos do Brasil na Paralimpíada, cita China, Ucrânia, Itália e França como principais potências na briga por medalhas. Com a saída da Rússia, ele vê um cenário mais favorável para os atletas da casa, tanto pelo aumento da delegação quanto pela saída de adversários de peso.

Durante a preparação, a equipe técnica cuidou para que Mônica e companhia tivessem a melhor estrutura de treinos possível. Fernando Scavasin e Guilherme Melaragno, esgrimistas que disputaram a Olimpíada pelo Brasil, serviram de sparrings para os colegas paralímpicos no Centro de Treinamento de São Paulo. Passaram impressões e dicas valiosas para serem usadas durante a Paralimpíada.

– Falaram como agir, para focar dentro da pista mas trazer a torcida para a gente. Acho que a grande diferença vai ser a torcida, vai empolgar muito a gente e passar energia boa. Está na sua casa, tu que manda, então vamos incomodar. Cada um luta com as armas que tem. Acho muito importante essa energia passada para a gente – disse a esgrimista.

Nas arquibancadas, dentre tantos torcedores, estará Paolla apoiando a mãe. A esgrima em cadeira de rodas terá competição de 12 a 16 de setembro, sempre na Arena Carioca 3.

ge

02/09/16

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