Gala, vencedor de prêmios como Pinos Nuevos (1999), Alejo Carpentier (2012) e Ñ Clarín (2018), nasceu em Havana e reside em Buenos Aires desde 2014. Seu livro “Me chame de Cassandra” conta a história de Raul, um rapaz magricela que acredita ser a reencarnação da personagem mitológica Cassandra. Assim como a princesa e sacerdotisa de Troia, o protagonista consegue prever o futuro, mas é incapaz de mudá-lo, vendo-se destinado a morrer aos 18 anos na Guerra de Angola.
A homofobia latente na sociedade cubana, principalmente nos anos 1970, é um tema muito presente no livro. Raul sofre por ser visto como afeminado pela sociedade ao seu redor. Gala relatou suas experiências, lembrando que, quando era voluntário do exército, testemunhou um soldado ser espancado e humilhado por ter atitudes consideradas pouco masculinas. Ele admitiu não ter feito nada para impedir, mas acredita que Cuba avançou no debate sobre o tema nas últimas décadas.
O autor também destacou em seu livro a relação complexa entre as tradições clássicas e a religiosidade que veio da África. Segundo ele, é possível traçar paralelos entre as deidades do panteão grego e as entidades da religião afrocubana, assim como fez em sua obra.
Gala também mencionou o cantor brasileiro Roberto Carlos, que é citado quatro vezes em “Me chame de Cassandra”. Ele explicou que a cultura brasileira é muito bem vista em Cuba e que, ao chegar ao Rio de Janeiro, se sentiu em uma cena de novela brasileira. A popularidade do “Rei”, segundo o autor, é imbatível na ilha do Caribe, sendo praticamente idolatrado pelos cubanos.
No geral, o evento proporcionou ao público uma visão mais ampla das obras e da cultura cubana, além de evidenciar a importância do diálogo intercultural e da diversidade representada pelas obras de Gala.