Uma das especialistas presentes no evento foi a americana Sherry Towers, renomada pesquisadora do impacto da cobertura da imprensa nos ataques a escolas nos Estados Unidos. Sua análise mostra que existe um efeito contágio, em que pessoas se inspiram em casos noticiados para realizar ações semelhantes. Segundo Towers, entre 20% e 30% dos tiroteios em escolas nos Estados Unidos são motivados pelo contágio e esse efeito dura aproximadamente duas semanas.
No Brasil, os relatos de violência em escolas são mais recentes do que nos Estados Unidos, o que dificulta uma análise mais precisa. No entanto, Towers acredita que o contágio também tem um papel significativo no país.
Um levantamento do Instituto Sou da Paz mostra que, desde 2021, o Brasil registrou 24 ataques em escolas, que resultaram em 45 mortes. Mais da metade desses ataques ocorreram nos últimos quatro anos.
Sherry Towers destaca a importância de evitar fornecer detalhes sobre os ataques, citando o caso conhecido como Massacre de Columbine, nos Estados Unidos. Ela critica a mídia por fornecer um verdadeiro roteiro dos eventos, incluindo detalhes como roupas e armas utilizadas pelos agressores. Ela aponta a semelhança desse caso com os ataques em Suzano, São Paulo, em 2019, e em Realengo, Rio de Janeiro, em 2011, em que os agressores copiaram o perfil dos crimes.
Essa recomendação de cautela na divulgação de detalhes dos ataques vai ao encontro da orientação da Associação de Jornalistas de Educação (Jeduca). Segundo a associação, é recomendável que os veículos de imprensa evitem informar o nome dos agressores, detalhes sobre o modo como os ataques ocorreram, roupas utilizadas e ambientes virtuais em que os agressores obtiveram informações que os ajudaram no crime.
A professora Telma Vinha, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), defende que a cobertura da imprensa sobre educação não se restrinja apenas a dados quantitativos e resultados, mas também tenha uma preocupação com o ambiente escolar, considerando a qualidade do clima e da convivência.
A decisão de limitar a divulgação de detalhes dos ataques nas redações dos veículos de imprensa também foi discutida entre os jornalistas presentes no congresso. Victor Vieira, do Estado de São Paulo, destaca a importância da transparência com o público para evitar interpretações equivocadas. Laura Mattos, da Folha de S.Paulo, afirma que essa decisão exigiu sair do “piloto automático” e analisar caso a caso. Maurício Xavier, do O Globo, ainda acredita que há discussões em progresso sobre a forma ideal de cobertura desses casos.
O congresso da Jeduca continua até terça-feira e aborda temas como inteligência artificial no jornalismo, novo ensino médio e educação midiática. Na abertura do evento, foram apresentados projetos jornalísticos que recontam a história em perspectiva afrocentrada.