Além do impacto das expectativas em torno da política monetária nos EUA, também contribuíram para a alta do dólar os temores de aumento das tensões geopolíticas e a preocupação com o ritmo de crescimento da economia chinesa. Apesar de o crescimento da China em 2023 ter superado a meta estabelecida pelo governo, houve sinais de desaceleração da atividade econômica no quarto trimestre, o que teve reflexos nos preços das commodities, como o minério de ferro.
Durante a manhã, o dólar chegou a ultrapassar o teto de R$4,95 e atingiu a máxima de R$4,9547. No entanto, a febre compradora diminuiu no início da tarde, levando a moeda a operar em terreno negativo, com mínima a R$4,9237. Ao final da sessão, o dólar avançava 0,09%, cotado a R$4,9301 – o maior valor de fechamento desde 15 de dezembro. Na semana, o dólar acumula uma valorização de 1,49%.
A desaceleração da alta do dólar ao longo da tarde foi atribuída por operadores a ajustes técnicos e movimentos de realização de lucros. A proximidade do nível técnico de R$4,95 costuma atrair vendedores, o que ajuda a explicar a força vendedora observada quando a moeda se aproxima desse valor.
A busca global pela moeda americana também foi influenciada pelo aumento das tensões geopolíticas, como os recentes ataques de rebeldes Houthis a embarcações americanas na região do Mar Vermelho, e pela reação negativa de autoridades chinesas a cumprimentos de países como os EUA ao novo presidente de Taiwan. No Brasil, as tensões entre o Congresso e o Governo em relação a desonerações também contribuem para prejudicar o apetite pelo real.
O índice DXY, que serve de referência para o comportamento do dólar em relação a seis divisas fortes, operava em leve alta quando o mercado local fechou, aos 103,454 pontos. O economista-chefe do Banco Fibra, Marco Maciel, atribui a recente alta do dólar para o nível de R$4,90 à contenção do otimismo excessivo do mercado em relação ao início do afrouxamento monetário nos Estados Unidos. Segundo Maciel, pelo menos 70% da valorização do real entre dezembro de 2023 e o início deste ano está relacionada à queda dos juros futuros americanos, refletindo apostas crescentes de corte de juros pelo Fed em março deste ano.
Maciel destaca ainda que o discurso do diretor do BC americano Christopher Waller, alertando para o nível elevado do núcleo da inflação ao consumidor e dos preços de serviços, levou a uma alta dos Treasuries, impactando a taxa de câmbio. Ele estima um valor justo para a taxa de câmbio no curto prazo em R$4,95, dado o fluxo cambial negativo neste início de ano.