Para Dojival Vieira dos Santos, advogado e ativista do Coletivo Cidadania Antirracismo e Direitos Humanos, a tragédia da Vila Socó em Cubatão é um reflexo do modelo econômico implantado pela ditadura militar. Ele destaca que Cubatão era uma cidade classificada como Área de Segurança Nacional e que o incêndio ocorreu no final do governo do último presidente militar, João Baptista Figueiredo. Segundo ele, a prefeitura poderia ter acionado a Defesa Civil para evacuar os moradores da comunidade antes da tragédia, mas isso não foi feito.
Uma das poucas pessoas indenizadas pelo acidente, Neigila Aparecida Soares da Silva, que perdeu sua mãe, pai e tio no incêndio, ainda aguarda por justiça. Ela afirma que nunca recebeu uma pensão vitalícia prometida e que a indenização recebida na época foi irrisória. Para Neigila, a justiça ainda não foi feita, mesmo após 40 anos do ocorrido.
Durante a cerimônia em homenagem às vítimas, a prefeitura de Cubatão se absteve de apoiar o evento, com o Secretário de Governo informando que a decisão foi deixar a responsabilidade para a sociedade civil. O memorial instalado na comunidade teve sua placa de bronze furtada e agora conta com uma de plástico, que também foi vandalizada. A decisão da prefeitura é remover o monumento do local e transferi-lo para uma praça, em um local mais visível para todos.
A Petrobrás, responsável pelo duto que vazou a gasolina causando o incêndio, não participou da cerimônia e não se manifestou sobre a responsabilidade da empresa na tragédia da Vila Socó. O pedido da Comissão da Verdade da OAB de Cubatão para que os nomes das vítimas sejam oficialmente reconhecidos como desaparecidos políticos pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos ressalta a importância de manter viva a memória das vítimas e buscar por justiça, mesmo após décadas do ocorrido.
