Desastre em Muçum (RS): FGTS usado para remediar falta de prevenção em áreas de risco

No último domingo de setembro, a pequena cidade de Muçum, localizada no Rio Grande do Sul, foi atingida por fortes chuvas que resultaram no transbordamento do rio Taguari. Moradores como Jorge Fronchetti, um produtor de eventos de 41 anos, foram surpreendidos pela rápida elevação das águas e tiveram que agir rapidamente para tentar diminuir os danos.

Por volta das 15h, Jorge percebeu que o rio estava subindo rapidamente e com um forte cheiro de lodo. Decidiu então elevar os eletrodomésticos para a parte de cima do sobrado onde mora com sua mãe, cerca de 400 metros longe do rio. Mas em poucas horas a lama já estava passando pela porta, e Jorge começou a receber mensagens no celular de familiares e vizinhos desesperados.

Durante a noite, a falta de luz e a queda da internet dificultaram ainda mais a situação. Ao amanhecer, Jorge viu que as ruas estavam desaparecidas e o cemitério local estava alagado. Pessoas e animais estavam desaparecidos, e a comunidade estava em estado de choque.

Apesar de ter sua casa parcialmente atingida, Jorge decidiu ajudar seus vizinhos na limpeza assim que a água baixou. Ele também criou um grupo de voluntários para resgatar e tratar os animais atingidos pela enchente. Ao longo desse trabalho, ele adotou um cão chamado Chocolate.

Para Jorge, a situação poderia ter sido evitada com medidas simples, como a dragagem do rio para retirar entulhos. Ele destaca que, embora o saque emergencial do FGTS ajude financeiramente, ele não soluciona o problema por completo.

De acordo com a Caixa Econômica Federal, os saques do FGTS em calamidades já atingiram a marca de R$ 3,7 bilhões em cerca de 10 anos. No entanto, os recursos efetivamente pagos para a redução de riscos de desastres pelo governo federal foram de aproximadamente R$ 1,1 bilhão, de acordo com a Consultoria de Orçamento da Câmara. Além disso, desde 2009, foram investidos cerca de R$ 900 milhões no programa Minha Casa Minha Vida para deslocar moradores de áreas de risco.

Maria Henriqueta Arantes, integrante do grupo técnico de apoio ao FGTS, ressalta que muitas vezes a falta de prevenção por parte do governo é a origem das calamidades. Isso faz com que o trabalhador, mesmo sem ter culpa no ocorrido, precise recorrer ao FGTS para tentar remediar a situação.

Ermínia Maricato, professora da USP e especialista em urbanismo, afirma que o sofrimento dos moradores em áreas de risco se repete todos os anos pela falta de uma política efetiva do governo. Segundo ela, não falta conhecimento e planos para lidar com o problema, mas sim uma correlação de forças para enfrentar as desigualdades sociais.

Enquanto isso, o governo federal está trabalhando na construção do Plano Nacional de Proteção e Defesa Civil, que busca mapear áreas de risco em todo o país e indicar soluções para cada órgão responsável pela prevenção de desastres. A previsão é que o plano esteja pronto para divulgação no primeiro semestre de 2024.

Enquanto isso, moradores como Cristine Balestro, de 46 anos, que também teve a casa invadida pelas águas lamacentas, estão enfrentando dificuldades para reconstruir suas vidas. Ela destaca que o valor do FGTS liberado para saque é insuficiente para cobrir os custos de reconstrução.

Nesse contexto, é importante que o governo invista em medidas preventivas e de assistência às vítimas de desastres naturais. A redução de riscos e a melhora das condições de moradia são essenciais para evitar que situações como essas se repitam a cada ano.

Jornal Rede Repórter - Click e confira!




Botão Voltar ao topo