Deputados de oposição ao governo Lula focam em convocação de ministros alinhados ao Planalto, deixando de lado membros do Centrão.

Deputados federais de oposição ao governo Lula têm adotado uma estratégia pouco convencional na convocação de ministros para prestar esclarecimentos em comissões. Oposicionistas têm evitado requerimentos para convocar membros do Centrão, bloco partidário que integrou a gestão Bolsonaro, optando por mirar em nomes alinhados ao Palácio do Planalto.

Segundo dados levantados pelo GLOBO no site da Câmara, desde fevereiro, os deputados protocolaram, em média, mais de um requerimento por dia, em um patamar recorde nas últimas duas décadas. Até a última sexta-feira, 401 requerimentos já haviam sido apresentados, com 31% deles já arquivados e os demais aguardando análise dos membros dos colegiados.

O ministro Flávio Dino, da Justiça, foi o alvo preferencial nesse período, com 89 pedidos protocolados em diferentes comissões, quase metade já arquivados. Já outros ministros, como Renan Filho, Jader Filho, Waldez Goés e Juscelino Filho, praticamente não constaram dos requerimentos.

A estratégia adotada pelos deputados é resultado da presidência de importantes comissões da Câmara por parte da oposição. Sete em cada dez requerimentos foram protocolados nas comissões de Fiscalização Financeira e Controle, presidida pela deputada bolsonarista Bia Kicis (PL-DF), e de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado, sob comando de Sanderson (PL-RS).

A estratégia para pressionar membros da Esplanada é adotada principalmente por deputados do PL e do PP. O pesquisador do Observatório do Legislativo Brasileiro Bruno Schaefer aponta que a profusão de pedidos de convocação e convites é explicada pelo fato de a oposição ter ficado com a presidência de comissões importantes na Câmara. No entanto, apesar do esforço concentrado, o ministro Flávio Dino tem evitado falar aos deputados no colegiado de segurança pública.

O caso do ministro das Comunicações, Juscelino Filho, também gerou pouca atenção por parte da oposição, com apenas dois pedidos de convocação ainda aguardando análise. Outro nome “esquecido” na mira da oposição é o do ministro da Educação, Camilo Santana, que é alvo de 32 requerimentos nos diferentes colegiados da Casa.

O cientista político Carlos Ranulfo, da UFMG, ressalta que o alto volume de convocações tem mais a ver com o estilo provocativo da base bolsonarista e avalia que a estratégia expõe o isolamento desse segmento na Casa. Segundo Ranulfo, “o bolsonarismo não dá a tônica da pauta, então intensifica a provocação”.

Em meio à estratégia de convocar ministros alinhados ao governo, a oposição tem ampliado a pressão sobre temas considerados polêmicos, como o acesso a armas de fogo e as ações de combate a queimadas na região da Amazônia. Entretanto, especialistas destacam que, apesar do alto número de requerimentos, o impacto prático das convocações dos ministros é mínimo e serve mais para desgastar o governo do que efetivamente fiscalizar as ações dos ministros.

Jornal Rede Repórter - Click e confira!




Botão Voltar ao topo