A difícil equação para o controle da obesidade e do diabetes

Em 2021, completaremos cem anos da descoberta da insulina, um potente aliado no tratamento do diabetes. Um século de erros, acertos e poucas soluções reais para uma doença que hoje afeta milhões de brasileiros. O Ministério da Saúde acaba de divulgar um dado alarmante: pela primeira vez em três anos, voltou a crescer o número de obesos no país. Atingimos o maior patamar dos últimos 13 anos. Em 2018, mais da metade da população já estava acima do peso. E os quilos a mais, como se sabe, aumentam a propensão ao diabetes.

A previsão para as próximas décadas é de colapso nos sistemas de saúde e incapacidade econômica e estrutural para tratar as consequências da associação entre obesidade e diabetes. O crescimento exponencial da população está diretamente associado a maus hábitos alimentares, sedentarismo, ganho de peso, crises e disparidades econômicas. Estamos diante de um caldeirão fervilhante de problemas, diz o MSN.

A quantidade de pessoas com doenças cardiovasculares, amputações, impotência, cegueira, doenças renais e desordens nas articulações e nos ossos tornará todo o sistema de saúde inviável. Adotar medidas como a educação alimentar é a melhor solução para a prevenção. No entanto, já existem milhões de indivíduos doentes e com um final previsível. Temos que fazer algo para tratá-los.

Em 1995, observações clínicas demonstraram que pacientes portadores de obesidade mórbida submetidos à cirurgia bariátrica apresentavam remissão do diabetes tipo 2 quase que imediatamente. Descobriu-se que o desvio e encurtamento do caminho do alimento ao final do intestino levam à melhor produção de insulina e menor absorção de calorias.

A desconexão do estômago leva a menos fome e à diminuição da gordura, principalmente a visceral, e melhora a ação da insulina nas células, reduzindo os níveis de glicose circulantes. O modelo clássico de cirurgia bariátrica, por esses e outro fatores, conseguiu uma remissão em quase 90% dos casos de diabetes tipo 2.

Dez anos depois foi realizado o primeiro encontro sobre cirurgia para o diabetes em Estrasburgo, na França, com seis profissionais. Em 2007, em Roma, éramos cerca de 700 e, em 2008, em Nova York, mais de 1 000.

Já estava evidente que esse modelo poderia ajudar também indivíduos com sobrepeso. Sociedades e conselhos de medicina autorizaram, então, a cirurgia metabólica para pacientes diabéticos com menor grau de obesidade.

É importante destacar que a cirurgia metabólica não é indicada para qualquer pessoa com diabetes. Os critérios dessa indicação devem ser rigorosos e avaliados por cirurgião e equipe multidisciplinar qualificada.

Em meio a balanços negativos das operadoras de saúde e do próprio SUS, além da sobrecarga do sistema como um todo, chegamos a um dilema: um custo futuro insustentável de doentes por consequência do diabetes versus um enorme custo imediato em cirurgias, na tentativa de conter a evolução dessa doença.

No momento, não temos cirurgiões suficientes que sejam habilitados e treinados para executar esse procedimento nem recursos que sustentem a intervenção. Esse cenário promoveria, atualmente, um colapso das operadoras de saúde.

Devemos discutir soluções urgentes: medidas como conscientização do problema para a população, planos e ações para diminuir a incidência da obesidade, estratégias para aperfeiçoar o controle clínico, laboratorial e medicamentoso da doença e, principalmente, altos investimentos em campanhas educativas para minimizar o impacto dessa epidemia. Para os candidatos à cirurgia, a rigorosa avaliação da indicação será fundamental.

Vivemos entre a difícil equação de difundir urgentemente um caríssimo tratamento cirúrgico ou esperar por um impagável pesadelo de doenças no futuro. Essa é uma equação que deverá ser resolvida com o esforço de todos: profissionais de saúde, pacientes e sociedade. Só assim seremos capazes de salvar o maior número de vidas possíveis.

13/08/2019

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