Universitário acusa motorista de ônibus de homofobia: ‘Viado tem que morrer’

“Viado tinha que morrer. Sorte a dele que não passei com o ônibus por cima”. Esse foi a frase que um estudante de Direito relata ter ouvido após cair de um coletivo no momento do desembarque no bairro Campinho, Zona Norte do Rio. Charles, de 29 anos — ele preferiu dar apenas o primeiro nome para se “expor o mínimo possível” —, acusa o motorista de homofobia. O caso aconteceu na noite do último sábado, quando o universitário estava a caminho de sua casa em Jacarepaguá, na Zona Oeste da cidade. De acordo com o jovem, o condutor teria dado uma arrancada no momento em que descia. Na queda, ele feriu um dos joelhos, diz o Extra.

— Fiz sinal para descer. Quando o ônibus estava parado, com as portas devidamente abertas, e eu já no último degrau, o motorista deu uma arrancada de forma proposital. Eu caí, machuquei o joelho e fiquei com alguns hematomas na perna — afirmou Charles.

Segundo o jovem, outro passageiro que desceria no mesmo ponto chamou a atenção do motorista e pediu para que que ele não fizesse aquilo com o rapaz:

— O senhor gritou com o motorista. (O condutor) respondeu que viado tinha que morrer. E que sorte a minha ele não ter passado com o carro por cima — relatou ele.

Charles contou que que havia pegado o ônibus da Linha 746 (Jabour x Cascadura) em Realengo, na Zona Oeste. Ele desceria em Campinho, para, então, tomar outra condução até o bairro onde mora. No momento em que o outro passageiro tentou repreender o condutor, o universitário narra, o motorista teria respondido que “o problema não era com o macho, mas, sim, com o viado”.

— Na hora, a gente só chora e fica sem saber o que fazer. Sem qualquer tipo de direção. Estou mais calmo, pensando em levar o caso judicialmente adiante. O que aconteceu comigo foi o mínimo, mas não menos importante, diante de tantos casos (de homofobia) que acontecem por ai. Tem gente que perde a vida por causa de atitudes imbecis como a desse cara.

Um passageiro desembarcou e o auxiliou a pegar outro ônibus para que Charles voltasse para casa. Num primeiro momento, ele se predispôs a testemunhar em favor da vítima, caso levasse o caso adiante. O universitário disse, porém, que a testemunha acabou desistindo por medo de represálias e também por “questões religiosas”.

O jovem disse ainda que essa foi a primeira vez que sofreu uma violência por conta de sua orientação sexual:

— Quando entrei no ônibus, o motorista já havia dito, discretamente, a palavra “viadinho”. Eu fingi que não ouvi. Essa foi a primeira vez que fui agredido. Essa coisa de andar na rua e, de vez em quando, escutar um palavreado ou outro acontece. Finjo que nem é comigo. Agora, agressão foi a primeira vez .

O estudante acrescentou que ainda não foi até uma delegacia para fazer o registro da ocorrência. Ele, no entanto, afirmou que fez um primeiro contato com o Núcleo de Defesa dos Direitos Homoafetivos e Diversidade Sexual (Nudiversis) da Defensoria Pública. O EXTRA entrou em contato com o órgão nesta segunda-feira para confirmar a informação, mas ainda não obteve resposta.

Sobre a conduta do motorista, a Transporte Barra informou, por meio de nota, que não foi comunicada oficialmente sobre nenhuma ocorrência na linha 746. No texto, porém, a empresa reitera que “repudia qualquer ato de discriminação e afirma que realiza treinamentos constantes com os seus profissionais”. E assegurou que “diante da denúncia comunicada neste ato, iniciou uma apuração interna sobre o caso e não hesitará em punir qualquer funcionário eventualmente envolvido no caso”.

24/07/2018

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