Responde por Tio Ricco uma das contas do Instagram mais comentadas nas rodas do mercado financeiro. Quem é? Ninguém sabe, ou “quase ninguém”, segundo ele. A identidade secreta causa curiosidade nos seus cerca de 31 mil seguidores que formulam dezenas de perguntas em seus Stories; desde pedidos de conselhos de investimentos até sua marca preferida de private jet, “minha mulher não se adapta à primeira classe”.
De qualquer forma, sob os jargões “muito risco e pouco ego”, “puta farra” e “beijo grande”, ele abusa do sarcasmo em respostas em áudio com uma voz rouca marcante. Não à toa, sua primeira pergunta quando entramos em contato pelo direct foi: “Liberado whisky no meio da entrevista?”
A diversão começou nas tratativas, um Tio Ricco temeroso acabou se tornando amigo. Do nada vinham mensagens como: “Tô chapado já. Como faz?” ou “Tô no vinho já”. Depois de desejos de Feliz Natal e Ano Novo, em janeiro de 2019, direto do Salão de Alta Relojoaria de Genebra, chegou finalmente o áudio com as respostas.
Marido de Bettina, que volta e meia fica deprimida e quer se separar – “por que ela sempre faz isso quando a Bolsa sobe?” –, Tio Ricco é pai de Isa e Rafa, que vivem batendo o carro. Os membros do Mossad – serviço secreto de Israel –, responsáveis pela segurança da família, ficam enlouquecidos correndo atrás “das meninas”. Ainda no âmbito familiar, estão Doda Odete, a cozinheira que ganhou de presente um pedicure depois de ter operado o joanete, e “uns cinco vira-latas”, resgatados por Bettina nas ruas.
O casamento sempre está em pauta: “Tio Ricco, a Bettina já te traiu? Espero que sim.” Entre as obras da coleção de arte contemporânea da esposa, que ocupa um apê em Higienópolis, há uma caveira do britânico Damien Hirst e peças de Jeff Koons, mas uma “equipe de psicólogos” vive na sua cola por causa das crises de depressão.
Entre os ricos e poderosos citados com intimidade, estão José Sarney, a quem chama de padrinho; Jorge Paulo Lemann, de quem tira sarro pelo estilo monástico; Abílio Diniz, que fica “chateado” quando ele diz que prefere Courchevel a Aspen para esquiar, e até Donald Trump, com quem já fez negócios, e Vladimir Putin, amigo de infância. Entre os destinos de que mais gosta está Fisher Island, “único lugar de Miami que frequento”, e Mônaco, onde conheceu Bettina no Carnaval de 1971, quando seus pais eram parceiros comerciais. De resto, “não piso em Punta, Mykonos é como a Enseada do Guarujá no Carnaval e Angra é farofa”. Qual é o melhor lugar para dar uma festa? “No jato, pois dá para fazer qualquer cagada, o céu é o limite”.
Quando o assunto é business, responde aos pedidos de emprego dizendo que quem quiser trabalhar com ele “tem que ser cachorro louco”, que é “24/7 com maçarico no rabo, não dá pra ter família” e que só se ganha dinheiro em país com “tiro, porrada e bomba”. Embora tenha nascido rico, seu primeiro estágio foi no Goldman Sachs em Nova York, com passagens pelos bancos Pactual e Garantia. Odeia imposto (que novidade) e renda fixa. Sua formação? “Pós-graduado em festa e doutorado em putaria”. Segundo ele, não existe “jabá” no seu Instagram, que volta e meia tem fotos de carros e relógios, mas “se der dinheiro, vou fazer”. Pratica a filantropia, mas sempre no anonimato, “não tem sala no meu nome, placa, ONG e o cacete; nada”.
Seus ternos são feitos em Milão, ele gosta de Zegna e do vinho da Borgonha Henri Jayer. É cliente do escritório da arquiteta iraquiana Zaha Hadid, falecida em 2016. Seu hobbie? “Ganhar e gastar dinheiro”, mas de presente de Natal queria um neto. Jogar bola, nem pensar: “Se eu correr 100 metros, já traz o caixão”. Faz análise de vez em quando, “para aguentar a minha mulher”, por quem – está na cara – é apaixonado.
O estilo liberal na economia também se estende a pautas polêmicas: é a favor da liberação dos cassinos, do casamento gay e apoia a legalização da maconha.
Mas a pergunta que não quer calar é: Tio Ricco, você tem medo de ficar pobre? “Não, tenho medo de não viver”.
09/06/2019