Preso na 21ª fase Operação da Lava Jato, Bumlai chega à Polícia Federal

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O pecuarista José Carlos Bumlai chegou à Superintendência da Polícia Federal (PF), em Curitiba, onde fica detido, por volta do meio-dia desta terça-feira (24). Pela manhã, ele foi preso, na capital federal, durante a deflagração da 21ª fase da Operação Lava Jato.

À tarde, ele deve fazer o exame de corpo de delito no Instituto Médico-Legal. O procedimento é de praxe após a prisão.

Empréstimos quitados com propina
De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), José Carlos Bumlai utilizou contratos firmados na Petrobras para quitar empréstimos junto ao Banco Schahin. O dinheiro destes financiamentos era destinado ao Partido dos Trabalhadores (PT), de acordo com o procurador do Ministério Público Federal (MPF) Diogo Castor de Mattos.

O principal empréstimo em investigação nesta fase era de R$ 12 milhões e teve o valor elevado para R$ 21 milhões devido aos acréscimos. A dívida, de acordo com o Ministério Público Federal, foi perdoada, e a irregularidade foi mascarada com uma falsa quitação no valor inicial do empréstimo.

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Preso na Lava Jato, Bumlai embarca em avião da PF de Brasília para Curitiba (Foto: André Dusek/Estadão Conteúdo)

Em troca deste financiamento, empresas do grupo Schahin conquistaram o contrato de operação do navio-sonda Vitória 10.000, sem licitação, ainda conforme o Ministério Público Federal. O G1 entrou em contato com o PT, mas o partido ainda não se posicionou sobre as acusações.

A prisão de Bumlai é preventiva, ou seja, não tem data para vencer. A defesa do pecuarista preferiu não se manifestar nesta manhã. “Por enquanto a defesa não vai se manifestar. estamos tomando conhecimento das alegações do juiz Sérgio Moro”, afirmou o advogado Arnaldo Malheiros.

A fraude
Para justificar ao Banco Central a falta de pagamento, o banco Schahin efetivou um novo empréstimo em nome de uma empresa do pecuarista. Foi criado um falso contrato entre o empresário e fazendas do grupo Schahin.

“Houve uma simulação de contrato de venda de embriões por parte do senhor José Carlos Bumlai para as fazendas de Schahin. Essa operação consistiu basicamente em uma complexa engenharia financeira e resultou no recibo de quitação da dívida. No entender do Ministério Público Federal, este recibo de quitação consistiu na vantagem indevida que foi oferecida aos funcionários corruptos da Petrobras em troca do contrato de operação do navio sonda Vitória 10.000”, explicou o procurador Diogo Castor de Mattos.

Ele disse ainda que, além do empréstimo principal, há pelo menos uma dezena de outros empréstimos, no valor de dezenas de milhões de reais, envolvendo pessoas físicas ligadas ao pecuarista.

“As diligencias investigativas em relação ao senhor José Carlos Bumlai demonstraram várias operações com suspeitas de lavagem de dinheiro e movimentação de recursos vultuosos em espécies”, citou o procurador.

Bumlai e delações
O nome de Bumlai, que é empresário do setor sucroalcooleiro e amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com livre acesso ao Palácio do Planato, apareceu em colaboração premiada de Eduardo Musa, ex-gerente da Petrobras, e do lobista Fernando Baiano.

De acordo com o despacho do juiz sérgio Moro, que autorizou a prisão de Bumlai, Eduardo Musa relatou na colaboração premiada que recebeu 720 mil dólares de propinas em depósitos feitos em conta na Suíça, com pagamentos feitos por Fernando Schahin, ex-executivo do grupo.

Além disso, o delator declarou que foi utilizado um argumento tecnicamente falso para o direcionamento da contratação da Schahin para operar o navio-sonda Vitória 10.000.

Baiano afirmou que Bumlai recebeu R$ 2 milhões em propina. O dinheiro, conforme colaboração premiada do lobista, era o pagamento em virtude da intermediação de Bumlai junto ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para um contrato com a petrolífera.

Relaçao com o governo
Ao complementar as explicações sobre esta nova fase, o procurador Carlos Fernando de Santos Lima disse que a comprovação dos fatos envolvendo a Petrobras está adiantada. Ele afirmou que existe claramente uma “vinculação política” nesse primeiro empréstimo, à época que José Dirceu era ministro da Casa Civil.

Dirceu, condenado pelo caso Mensalão, também é réu em ação no âmbito da Lava Jato e está preso no Complexo Médico-Penal, em Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba.

Diante da proximidade entre Bumlai e Lula, o procurador afirmou que há comprovação de envolvimento do ex-presidente petista no esquema de corrupção. É sabido, segundo Lima, que houve o uso do nome de Lula. “Existem notícias de que a ordem tenha vindo de cima, mas é uma informação que não teve o conteúdo efetivo”.

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Empresário José Carlos Bumlai tinha livre acesso ao Palácio do Planalto, de acordo com a PF
(Foto: Gabriela Biló/ Estadão Conteúdo)

‘Passe livre’
A Polícia Federal e o Ministério Público Federal afirmam que Bumlai tinha livre acesso ao Palácio do Planalto, à época do presidente Lula. Por este motoivo, esta 21ª fase foi intutulada ‘Passe Livre’.

Entre os crimes investigados estão fraudes a licitação, falsidade ideológica, falsificação de documentos, corrupção ativa e passiva, tráfico de influência e lavagem de dinheiro, entre outros.

De acordo com a PF, complexas medidas de engenharia financeira foram utilizadas pelos investigados para ocultar a real destinação de valores indevidos pagos a agentes públicos e diretores da estatal.

Ao todo, foram expedidos 25 mandados judiciais, sendo um de prisão preventiva (a de Bumlai), além de 25 mandados de busca e apreensão e seis de condução coercitiva (dois para os filhos de Bumlai). A ação é realizada em São Paulo, Rio de Janeiro,  Mato Grosso do Sul e Distrito Federal.

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Chaveiro abrindo cofre na casa do Bumlai em Campo Grande (Foto: Arquivo pessoal)

20ª fase
A  fase anterior da Lava Jato, deflagrada na semana passada, havia cumprido 18 mandados judiciais e prendeu o ex-gerente executivo da Petrobras Roberto Gonçalves e Nelson Martins Ribeiro, apontado como operador financeiro.

O objetivo desta etapa, conforme o Ministério Público Federal (MPF) e a PF foi buscar provas documentais sobre crimes cometidos dentro da petrolífera. Os dois presos são suspeitos de participação no esquema criminoso de fraude, corrupção e desvio de dinheiro.

Eles são investigados por receber valores indevidos de representantes de empresas com contratos relacionados às refinarias Abreu e Lima, em Pernambuco, e Pasadena, nos Estados Unidos, segundo a PF.

Ambos tiveram um mandado de prisão temporária expedido. Após o término do prazo, no dia 20 de novembro, a Justiça pediu a prorrogação por mais cinco dias. O prazo vence nesta quarta-feira (25).

G1

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