Pode faltar insulina para diabéticos do mundo inteiro?

O fenômeno tem sido chamado de flagelo da vida urbana: um estilo de vida não saudável e obesidade levaram a um ressurgimento da diabetes de tipo 2, que ocorre quando o corpo não consegue produzir insulina suficiente para regular os níveis de açúcar no sangue.

Agora os cientistas afirmam que milhões de pessoas ao redor do mundo que têm diabetes podem não conseguir acesso à insulina ao longo da próxima década – e, talvez, por ainda mais tempo.

Cerca de 400 milhões de pessoas entre 20 e 79 anos vivem com a diabetes de tipo 2, que é a forma mais comum da doença. Mais da metade delas na China, na Índia e nos Estados Unidos. Até 2030, acredita-se que os números ultrapassem 500 milhões. A outra forma da diabetes é a de tipo 1, na qual o corpo ataca as células do pâncreas que produzem insulina, revela o Terra.

Um novo estudo publicado no periódico científico Lancet Diabetes and Endocrinology afirma que aproximadamente 80 milhões de pessoas com diabetes vão precisar de insulina até 2030. Mas cerca de metade delas – possivelmente, a maioria na Ásia e na África – não conseguirá. Atualmente, uma em cada duas pessoas com diabetes de tipo 2 não têm acesso à insulina que precisam.

“O acesso (à insulina) é definido como a combinação da disponibilidade do produto e se ele é acessível”, afirmou o médico Sanjay Basu, da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, que coordenou a pesquisa. “Além da questão dos preços, também deve existir uma cadeia de abastecimento que consiga distribuir de forma segura uma droga refrigerada e tudo aquilo que a acompanha – como agulhas esterelizadas e seringas”.

Por que a insulina, um medicamento que já existe há 97 anos e que já foi considerada uma das drogas revolucionárias do século 20, continua a ser muito cara ao longo dos anos?

Uma razão, dizem os cientistas, é que três empresas multinacionais (Novo Nordisk, Eli Lilly and Company, Sanofi) controlam 96% do volume de insulina vendido no mundo e 99% do valor estimado de vendas, de US$ 21 bilhões de dólares.

Controle global

Apesar de mais de 90 países entre 132 não aplicarem tarifas para insulina, a droga continua a ser muito cara para muitas pessoas.

Até nos Estados Unidos, onde mais de 20 milhões de pacientes foram diagnosticadas com diabetes, despesas pessoais com insulina aumentaram 89% entre 2000 e 2010. Inclusive entre adultos que têm plano de saúde. O preço do frasco da droga subiu de US$ 40 para US$ 130 – cada frasco costuma durar por algumas semanas.

Também há considerações sobre a disponibilidade da droga.

O controle global do mercado de insulina, de acordo com David Henri Beran, dos Hospitais Universitários de Genebra e da Universidade de Genebra, significa que os países têm poucas opções de fornecedores. “Isso fez com que as pessoas tivessem que mudar o tipo de insulina que tomavam porque as empresas retiraram os produtos do mercado”.

Há diferentes tipos de insulina. E os médicos prescrevem o tipo mais benéfico para cada paciente, dependendo de como respondem à droga, o tipo de vida que levam, a idade, as metas de açúcar no sangue e o número de injeções a serem tomadas por dia.

Diversos países de renda baixa e média estão particularmente vulneráveis a quebra de estoque. Um estudo sobre a disponibilidade de insulina descobriu que os estoques estavam baixos em seis países – Brasil, Bangladesh, Malauí, Nepal, Paquistão e Sri Lanka. Gestão precária e distribuição insuficiente podem prejudicar o quadro – em Moçambique, por exemplo, 77% do estoque total de insulina do país fica na capital, provocando falta do medicamento em outras regiões.

“Em todo o mundo, problemas como a disponibilidade do produto e se ele é acessível ameaçam a vida e desafiam o direito à saúde”, falou Beran.

Então, por que uma droga que foi descoberta há tanto tempo por cientistas da Universidade Toronto ainda não está disponível como um genérico de baixo custo? (Os cientistas venderam a patente para a universidade por US$ 1). Drogas de alta demanda costumam se tornar mais acessíveis depois que suas patentes expiram, graças a competidores baratos. Mas isso não ocorreu nesse caso.

Uma razão, segundo os cientistas Jeremy A Greene e Kevin Riggs, é que a insulina é mais complexa e difícil de copiar. E as fabricantes de medicamentos genéricos consideraram que “não vale a pena”. Insulina biosimilar, que é similar à insulina, também está disponível no mercado, com preços mais competitivos, mas fica aquém de uma versão genérica.

Cientistas dizem que a insulina deveria ser incluída em pacotes universais de cobertura de saúde e que doadores globais deveriam alocar parte dos seus fundos em inovação na prestação de cuidados de saúde e para a própria droga.

Claramente, sistemas de saúde fracos, acesso precário a unidades de saúde, cuidados de saúde com o diabético e o preço estão impedindo o acesso à insulina.

“Poucas coisas precisam ocorrer, incluindo o preço e a infraestrutura de distribuição”, explicou Basu. Até lá, a injeção de insulina não deve ficar mais acessível.

O básico sobre as diabetes

– Há dois tipos principais de diabetes – tipo 1 e tipo 2. Também há diabetes gestacional, que pode aparecer durante a gravidez.

– No tipo 1, que é tipicamente diagnosticado logo no começo da vida mas que pode aparecer em qualquer idade, a insulina precisa ser injetada. Não é prevenível nem curável e não é causada pelo estilo de vida.

– As pessoas desenvolvem o tipo 2 quando a insulina que elas produzem não está funcionando adequadamente, ou então quando não está sendo produzido o suficiente. Pode estar relacionada à pessoa estar acima do peso, inativa, ou também ao histórico familiar. É muito mais comum que o tipo 1, respondendo por 90% de todas as pessoas com diabetes. Algumas pessoas com tipo 2 tomam insulina, enquanto outras controlam o nível de açúcar no sangue com medicamentos, exercício físico e uma dieta mais saudável.

– Não controlar o nível de glicose no sangue no longo prazo pode gerar complicações, como problemas nos nervos, rins, olhos e pés, mas o risco pode ser reduzido com o tratamento e cuidado corretos.

03/12/2018

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