Pneumologista alerta para riscos do aumento do consumo de cigarros

O número de fumantes no mundo aumentou para 1,1 bilhão segundo levantamento da revista médica britânica The Lancet, publicado em maio de 2021, reunindo dados de 204 países. E, segundo outra pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), os fumantes brasileiros aumentaram seu consumo de cigarro em 34% desde o início da pandemia, em 2020. Esses dados estão na base da discussão da Associação Médica Brasileira (AMB) durante o Dia Nacional de Combate ao Fumo, comemorado no próximo domingo, 29 de agosto.

Os dados da Fiocruz apontam que 34% dos fumantes brasileiros declararam ter aumentado o número de cigarros fumados durante a pandemia diante de sentimentos como isolamento, tristeza, depressão, ansiedade, medo, pior qualidade de sono, perda de rendimentos e a incerteza sobre a vida e o futuro.

“Ao longo dos anos, as medidas sanitárias contra o fumo e a propaganda negativa com imagens e informações sobre causar impotência, cânceres e cardiopatias, trouxe, aparentemente, uma redução do número de fumantes, mas com a pandemia enfrentamos esse aumento no consumo de cigarros. A dependência que a nicotina provoca é muito grande, além disso, o cigarro possui mais de 4.700 substâncias tóxicas”, aponta o pneumologista e intensivista João Geraldo Simões Houly, professor de Medicina do Centro Universitário Tiradentes (Unit/AL).

Houly, que também é diretor Executivo do Hospital do Coração de Alagoas, alerta que é preciso diferenciar o número de fumantes do número de consumo de cigarros. Esta analogia e sua ligação com as incertezas trazidas pela pandemia encontra correspondência também no fato de que a própria Organização Mundial da Saúde (OMS) registrou aumento no consumo de álcool durante o isolamento social.

E, não custa lembrar, álcool e cigarro são drogas lícitas que podem ser adquiridas com facilidade por pessoas maiores de 18 anos, comumente utilizadas como ‘cano de escape’ das tensões e dores do dia a dia.

Narguilé e cigarros eletrônicos

Largamente utilizado no Oriente Médio, o narguilé é um dispositivo usado para o fumo seja com essências, tabaco ou até mesmo substâncias psicoativas, entre elas o ópio. O uso deste equipamento tem crescido entre a população mais jovem no Brasil, assim como os cigarros eletrônicos.

Para o professor João Houly, tanto o narguilé quanto o cigarro eletrônico são igualmente perigosos e prejudiciais à saúde. “Narguilé é pior que cigarro convencional, pois aumenta a exposição aos componentes do cigarro comum e, como linha de regra, acaba sendo ainda mais deletério. Já o cigarro eletrônico tem a vantagem de não ter nicotina, então a dependência física não existe. Contudo, a dependência psíquica acaba sendo semelhante. Ainda negativo é que o vapor do ar aquecido entra nos brônquios pulmonares e isso é de um componente lesivo, embora menor do que o cigarro comum”, explica.

Outro problema do cigarro eletrônico é a composição das substâncias, que inclui algumas semelhantes ao cigarro, mas com cheiros diferentes e essências. “Alguns usam vapor d’água exclusivamente, mas neste caso o grande problema é o calor sobre a árvore brônquica. Quando há os aromatizantes e até mesmo a nicotina, essa mistura é tão ruim quanto o cigarro convencional. Pode até ser mais viciante”, alerta o médico.

Prejuízos do fumo

No Brasil, 17,6% da população é fumante. O Tobbaco Atlas aponta que houve no último ano 150.177 mortes relacionadas ao fumo e isso custou mais de 73 milhões de dólares para os cofres públicos. Já a revista The Lancet estima que 443 pessoas morrem por dia por causa do tabagismo, ou seja, mais de 160 mil mortes anualmente somente no Brasil.

O aumento do consumo de cigarros é preocupante, porque desde o início das propagandas e legislações federal, estaduais e municipais contra o tabagismo, este consumo estava em declínio: saiu de pouco mais de 6,36 trilhões de unidades no ano 2000 para 5,7 trilhões em 2016 (Tobbaco Atlas). Os dados referentes ao aumento do consumo durante a pandemia ainda estão sendo computados e serão apresentados na próxima edição do Atlas, em 2022.

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