PMs flagrados em execução no Rio alegam ameaça; delegado contesta

Em depoimento, policiais contaram detalhes da operação realizada em Acari, quando mataram dois homens. Delegado diz que vídeo desmente versão.

Os dois policiais militares flagrados em vídeo executando dois homens do lado de fora de uma escola pública em Acari, na Zona Norte do Rio, alegaram em depoimento prestado à Polícia Civil que se sentiram ameaçados. O delegado responsável pelas investigações, no entanto, contesta a versão. A GloboNews teve acesso à íntegra dos depoimentos.

O vídeo mostra os dois PMs atirando em dois homens que já estavam caídos no chão, feridos e desarmados. O caso ocorreu na quinta-feira da semana passada e gerou grande repercussão no país. No mesmo dia, a estudante Maria Eduarda Alves, de 13 anos, foi morta a tiros dentro dessa mesma escola.

Os policiais militares que aparecem no vídeo executando os dois homens foram presos em flagrante enquanto prestavam depoimento na Divisão de Homicídios da capital. Eles foram autuados por homicídio qualificado.

A versão apresentada pelo cabo Fábio Barros Dias e pelo sargento David Gomes Centeno de que os dois homens ofereciam perigo não convenceu o delegado responsável pelas investigações. Por isso, ambos foram presos logo após serem ouvidos.

Operação de combate ao tráfico

O sargento contou que por volta das 16h30 daquela quinta-feira foi dado início à uma operação para combater o tráfico de drogas no Complexo de Favelas da Pedreira. A equipe de policiais entrou na comunidade em um veículo blindado da corporação, o chamado Caveirão.

Segundo o militar, ele e o colega Fábio desembarcaram na localidade conhecida como Barreirinha. O sargento afirmou que em determinado momento eles encontraram vários homens fortemente armados no local onde, segundo ele, ficam os traficantes que atuam por lá.

Suposto confronto e execução

O sargento afirmou que os criminosos atiraram contra ele e o cabo Fábio. Ambos se protegeram atrás de um muro, na esquina da localidade, e revidaram os tiros. Em seguida, eles seguiram adentro na comunidade quando se depararam com os dois homens caídos do lado de fora da escola.

O primeiro homem visto pelos policiais no chão foi identificado como Júlio Cesar Ferreira de Jesus, de 38 anos. O sargento afirmou que o homem estava ao lado de um fuzil AK 47 com um cartucho carregado. O oficial declarou, ainda, que o cabo Dias foi quem retirou o fuzil do lado de Júlio César, que teria esboçado “uma reação de confronto”, já que estava com uma pistola. Foi então que o cabo atirou contra ele.

No vídeo que registrou a execução dos dois homens é possível ver que um dos policiais recolhe um fuzil ao lado de um dos homens caídos. Porém, não há indícios de que ele tenha tentado reagir. O homem levanta a cabeça e se apoia nos braços, mas aparentemente não parece exibir ameaça antes de ser baleado pelo militar.

O sargento disse que, em seguida, se aproximou do outro homem com mais cautela e verificou que ele portava uma pistola. O oficial alegou que sentiu receio de ser atacado e, por isso, decidiu atirar contra o suspeito.

O vídeo, porém, sugere que o segundo suspeito, identificado como Alexandre dos Santos Albuquerque, que estava deitado no chão, não esboçou qualquer reação, aparentando estar desacordado quando o policial se aproxima.

O sargento contou ainda que enquanto estiveram no local souberam por meio de moradores que uma menina havia sido baleada dentro da escola. Era a estudante Maria Eduarda, de 13 anos, que morreu baleada no pátio da escola.

O depoimento do Cabo Fábio se assemelha ao do sargento. Porém, acrescenta um terceiro suspeito na cena. Segundo o policial, este terceiro homem, que estava junto aos dois outros caídos no chão, portava um fuzil e fugiu ao perceber a aproximação da dupla de policiais.

Segundo o policial, este suspeito se parece com o traficante Peterson Sodré Jorge, de 25 anos, que foi preso na segunda-feira seguinte em um hospital em Duque de Caxias onde procurou atendimento médico por ter sido baleado.

PMs agiram com excesso, afirma delegado

Segundo o delegado André Leiras, a análise do vídeo permite atestar que as duas vítimas que estavam no chão apresentavam sinais vitais, mas em momento algum pareceram esboçar qualquer reação que ameaçasse os PMs. Para o delegado, houve excesso por parte dos dois militares.

Ainda segundo o delegado, “não há que se falar que os policiais militares agiram no estrito cumprimento do dever legal, pois em momento algum o ordenamento jurídico autoriza os agentes do estado a ceifar a vida de criminosos que já estejam neutralizados”.

O relatório da Divisão de Homicídios destacou ainda que o relato de dos PMs de que o clima era hostil naquela ocasião é incompatível com o que as imagens registradas pelo vídeo revelam, pois os dois militares “se comportavam de forma normal como se não houvesse nenhum tipo de anormalidade”.

O delegado acrescentou no relatório, ainda, que “há clara dissonância entre a realidade dos fatos e as declarações” dos dois PMs.

g1

05/04/2017

Jornal Rede Repórter - Click e confira!




Botão Voltar ao topo