Pandemia: Não dá para esperar muita coisa dos jogadores da seleção

Eu sei que no fundo seu coração diz para acreditar que os jogadores da seleção brasileira estão indignados com a realização da Copa América em plena pandemia com quase 500 mil dos seus compatriotas mortos. Sei que seria até alentador que isso fosse verdade, mas, infelizmente, não é.

A maioria dos jogadores não tem a menor consciência da necessidade de contenção da pandemia ou de que eles como ‘celebridades’ do futebol poderiam dar uma demonstração cabal de resistência contra o negacionismo. Não, gente. Tudo o que aconteceu na treta teve a ver muito mais pela indignação dos nossos jogadores milionários com o discurso tosco de um presidente da CBF supostamente embriagado. Neste discurso, os jogadores se sentiram humilhados, relegados a empregadinhos da Confederação e obrigados a jogar, queiram ou não.

A reação do técnico Tite ficando ao lado dos seus jogadores foi totalmente normal e é o que se espera do chefe imediato do grupo.

Dito isto, vamos aos fatos. A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) nada mais é do que um grande centrão de presidente de federações futebolísticas, muitos há gerações no poder. Esses senhores, conhecidos como cartolas mandam e desmandam na paixão nacional, enchendo seus bolsos de dinheiro, erguendo carreiras políticas em cima do futebol de forma descarada.

O esporte preferido mundialmente é gerido e gerado para dar dinheiro aos dirigentes, patrocinadores e televisões. Nada mais é do que um grande negócio, praticamente de família.

Por falar em família, a família do presidente Jair Bolsonaro, como não poderia deixar de ser, acabou se metendo e muito nesta questão, visto que a realização intempestiva da Copa América no Brasil, depois de ter sido recusada na Argentina por conta da pandemia, tornou-se um  caso de política governamental. O senador Flávio Bolsonaro chegou a ‘acusar’ o técnico Tite de comunista e o vice-presidente Mourão a destratar o treinador de forma humilhante.

Diante da possibilidade, mesmo que pequena, dos jogadores se recusarem a jogar na Copa América, o presidente Bolsonaro do alto da sua verve autoritária, tratou de articular a saída do técnico Tite, colocando em seu lugar ninguém menos do que o técnico bolsonarista Renato Gaúcho. Bolsonaro, inclusive, chegou a pensar em trocar também os jogadores, tudo em nome da Copa América, da CBF e dos lucros.

Vale lembrar que a CBF, apesar de muitos brasileiros usarem a camisa da seleção como algo patriota, não passa de uma organização privada, dominada por cartolas setentões, muitos enrolados até a gola da camisa de seda em corrupção.

A realização da Copa América no Brasil, além de ser desnecessária, trará enormes gastos públicos, visto que teremos que bancar logística de segurança e outros mimos para nove delegações de seleções de futebol. Imaginem a quantidade de policiais, guardas de trânsito, médicos, ambulâncias, enfermeiros e tantos outros servidores públicos que terão que estar a disposição destas delegações durante um mês no país, isso divididos em cinco ou seis estados.

Como podemos ver a ‘briga’ de jogadores, Tite e CBF não passou de uma grande guerra de egos. Os jogadores ficaram putos com a fala do presidente supostamente embriagado tratando-os como empregadinhos de luxo. Nada, ou quase nada, teve a ver com os mortos, com a pandemia e com a solidariedade dos nossos bravos esportistas como o povo brasileiro que sofre há mais de um ano com toda essa crise, que já gerou mais de 20 milhões de desempregados e muitos, muitos famintos.

O futebol, como no passado, está sendo usado politicamente por um quase ditador para angariar apoios e, talvez, dividendos para ele e sua corja de abutres empedernidos, ávidos pela próxima carniça a ser degustada neste país de miseráveis.

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