Os micos e os acertos da primeira semana de Temer no poder

temergovernoForam apenas sete dias, mas parece muito mais. Como já era esperado, a primeira semana do governo interino de Michel Temer (PMDB) – completada ontem – foi para lá de intensa.

“Este governo começou já em terceira marcha”, afirma Michael Mohallen, professor da FGV Rio. “É um governo que chega muito acelerado. Há muita ansiedade e pouca articulação”.

Nesse contexto, escorregões são inevitáveis. Nos primeiros sete dias da nova gestão, os erros ofuscaram até mesmo os acertos da equipe do peemedebista. Veja um balanço:

ERROS

O arranjo polêmico

A primeira aparição de Temer como presidente interino da República, de cara, causou controvérsia. Escoltado por uma equipe ministerial 100% masculina e branca, o governante provisório perdeu a chance de sinalizar, logo no início, que – para além das questões pertinentes à economia – sua gestão também estaria alinhada com temas caros para a sociedade, como a igualdade racial e de gênero.

Ao mesmo tempo, apesar da lacuna na representação feminina e de minorias, não faltaram no novo ministério nomes ligados ao escândalo de corrupção da Petrobras. Ao menos 7 de seus 22 ministros foram citados durantes as investigações da Operação Lava Jato.

O fim do Ministério da Cultura

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Da mesma forma que subestimou o impacto que um gabinete sem mulheres teria na opinião pública, o presidente interino Michel Temer também não conseguiu prever o quanto a extinção de pastas como o Ministério Da Cultura poderia dar o que falar.

Desde que a pasta perdeu o status de ministério, uma jornada de protestos e ocupações capitaneadas por artistas tomaram o país. Ao mesmo tempo, o governo, empenhado em encontrar uma mulher de renome para liderar a nova secretaria, recebeu ao menos cinco recusas como resposta.

Diante da negativa de nomes como da cantora Daniela Mercury, da atriz Bruna Lombardi e da jornalista Marília Gabriela, Temer acabou escolhendo mais um homem para chefiar o núcleo cultural do governo.

No afã de apresentar um suposto retrato mais eficiente do governo, Temer deu um tiro no pé.

“Em termos simbólicos do que representa o Ministério da Cultura, é um erro. Em termos econômicos, não deve trazer resultados para o governo porque não é um ministério que tem um uso grande de recursos”, afirma Marcos Vinicius Pó, professor de ciências políticas da UFABC.

Mais que um cálculo político equivocado, o arranjo polêmico da equipe ministerial pode revelar uma deficiência da atual gestão. “Temer não tem articulação com a opinião pública”, afirma o professor da FGV.

Se no seu discurso de posse, o presidente interino fez um claro aceno ao mercado e à bancada religiosa do Congresso, ele não fez o mesmo para movimentos próximos ao governo petista.

Faltou media training

Foram apenas sete dias de governo, mas foi tempo suficiente para que ministros de Temer tivessem que “desdizer” declarações polêmicas concedidas por eles mesmos.

Na segunda, o ministro Alexandre de Moraes (Justiça) afirmou ao jornal Folha de S. Paulo que Temer não precisaria necessariamente escolher para o cargo de procurador-geral da República o nome mais votado entre juristas – tradição nas escolhas dos últimos anos.

Poucas horas depois da publicação da entrevista, o presidente interino afirmou à GloboNews que iria manter a tradição de seus antecessores e escolher o mais votado na categoria.

Um dia depois, foi a vez do ministro da Saúde, Ricardo Barros, afirmar que o tamanho do SUS precisaria ser revisto. Horas depois, ele mesmo veio a público para negar o teor de suas declarações.

“Não há um plano geral de ação. Com exceção da área fiscal, cada ministro vai levando um pouco de sua agenda ou da agenda que apoia a sua base de apoio”, afirma Marcos Vinicius Pó, professor de ciências políticas da UFABC.

ACERTOS

A equipe econômica “dos sonhos”

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Uma bola dentro dos primeiros dias de Temer no comando do Planalto foi o anúncio da nova equipe econômica – classificada por economistas como um “time dos sonhos”.

O pelotão da área fiscal até pode ser “dos sonhos”, mas o problema é que a realidade política brasileira não é nada fácil. “O governo está ficando cada vez mais fragmentado, o que aumenta o custo de negociação para os políticos”, diz o professor da UFABC.

O ministério mais equilibrado 

Para além das polêmicas que acompanharam a apresentação do novo gabinete, o arranjo ministerial de Temer revela um objetivo claro da atual gestão: garantir uma base de apoio sólida no Congresso.

Estudo da Pulso Público revela que, ao lado da equipe do governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), a equipe do peemedebista é a mais equilibrada em termos partidários e a mais coerente com o Congresso desde a redemocratização.

A consultoria chegou a essa conclusão após calcular a taxa de coalescência do gabinete de Temer. Tal indicador mede a proporção entre a importância dos partidos da base aliada no Congresso e a quantidade de ministérios recebidos por cada legenda. Ele vai de 0 a 1. Quanto mais próximo de 1, mais proporcional é a repartição do poder entre as siglas da coalizão.

No caso do governo Temer, a taxa de coalescência está em 0,805. Durante o segundo mandato da presidente afastada Dilma Rousseff (PT), não passou de 0,714 – o pior desempenho nesse quesito desde o governo Collor.

Faz sentido que, no momento atual, o peemedebista tenha se atentado a criar um governo coerente com as forças do Legislativo. Ele tem pouco tempo – bem menos do que os 180 dias de julgamento do impeachment – para mostrar a que veio. Sem apoio, dificilmente, conseguirá tirar medidas impopulares do papel – muitas delas necessárias para que a economia volte aos trilhos.

No entanto, para os analistas ouvidos por EXAME.com, ter um ministério equilibrado não é tudo em termos de governabilidade. “É suficiente como ponto de largada, mas não vai ser suficiente para outras questões”, diz Mohallen. “Por mais que um político seja da base do governo, ele sempre vai ter o compromisso com a sua base como termômetro”.

A questão, agora, é se Temer conseguirá superar a antecessora em termos de habilidades políticas. Até o momento, ele dá sinais de que – pelo menos no diálogo com o Congresso – já deu um baile no tom do segundo mandato de Dilma Rousseff, que foi afastada do cargo no último dia 12.

EXAME

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