O que levou a Ford a sair do Brasil: ‘culpa’ dos elétricos?

A Ford deu todas as pistas de que estava abandonando a produção de carros a combustão por veículos elétricos. Por isso, quem acompanha a movimentação deste mercado não se surpreendeu com a decisão da montadora de fechar suas fábricas brasileiras e encerrar definitivamente suas atividades fabris no país, depois de 101 anos.

A estratégia da montadora americana, segundo o presidente do Grupo Ford para Américas e Mercados Internacionais, Kumar Galhotra, é “fornecer veículos elétricos capazes e acessíveis ao coração do mercado de varejo e comercial, em vez de veículos de luxo que custam seis dígitos”.

Como o mercado de elétricos no Brasil ainda é insignificante a nível global, e o governo não dá nenhum sinal de que pretende ajudar a acelerar a transição para o novo modelo de transporte individual, as iniciativas da Ford por aqui simplesmente perderam sentido.

Outro problema: a Ford demorou muito para levar a corrida pelo carro elétrico a sério. O único projeto competitivo de carro 100% elétrico que a marca conseguiu colocar nas ruas até agora é o Mustang Mach-e, mas ele acabou de chegar ao mercado no finzinho de 2020. A empresa ainda tem uma van elétrica, a e-Transit, chegando e uma F-150 elétrica em desenvolvimento. Mas é apenas isso.

Agora, com líderes de mercado já estabelecidas, como a Tesla, e gigantes como a Volkswagen investindo bilhões de dólares para migrar 100% da sua produção para o meio elétrico, há muito pouco o que a Ford possa fazer a não ser uma reestruturação global para escapar de um possível desaparecimento.

Os planos de eletrificação da montadora (incluindo tanto renovar seu portfólio de modelos tradicionais transformando-os em veículos elétricos puros ou híbridos e lançar novos modelos) preveem um investimento de US$ 11,5 bilhões até o fim de 2022.

“É uma decisão ligada à estratégia de negócios global da Ford visando realocar investimentos em mercados mais prioritários, notadamente na China e nos EUA”, disse à revista Exame Ricardo Bacellar, sócio da consultoria KPMG.

Ainda assim, os números são baixos. O grupo Volkswagen, por exemplo, anunciou em 2020 que investiria US$ 84 bilhões em mobilidade elétrica até 2025. Metade disso será dedicado ao aperfeiçoamento da sua plataforma para carros elétricos MEB, a qual já tem 2 modelos à venda no mercado internacional e vários outros em desenvolvimento.

Para piorar a situação, o ano passado representou para a Ford do Brasil uma queda nas vendas de veículos de 39,5%, enquanto todo o setor de automóveis encolheu 28,6%, segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

Explicações

Mas a saída da montadora do país não será suave: ao anúncio da montadora nesta segunda (11), seguiu-se comunicado do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Em nota, o banco afirmou que pedirá explicações à Ford não apenas sobre o fechamento em si (o que deve impactar diretamente os 5,3 mil empregos nas plantas de Camaçari (BA), Taubaté (SP) e Horizonte (CE)) como sobre seus dois empréstimos ativos, no valor de R$ 335 milhões, para o desenvolvimento de novos veículos e de projetos sociais.

A Ford diz que manterá suporte no Brasil para sua rede de concessionárias e escritórios em São Paulo.

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