O primeiro beijo gay da televisão brasileira foi entre duas mulheres. Aconteceu no teleteatro A Calúnia, em 1963, na TV Tupi, quando as personagens das atrizes Vida Alves (1928-2017) e Georgia Gomide (1937-2011) trocaram juras de amor.
Mas o tabu só foi rompido realmente em janeiro de 2014: a Globo exibiu o beijo na boca entre dois homens – Félix (Mateus Solano) e Niko (Thiago Fragoso) – no último capítulo de Amor à Vida, de Walcyr Carrasco.
O mesmo autor, bissexual assumido, volta a provocar o telespectador conservador em A Dona do Pedaço. O vilão Agno (Malvino Salvador) é, assim como Félix, um pai de família aparentemente exemplar, porém, esconde uma vida dupla, informa o Terra.
Na semana passada, o grande segredo – que, na verdade, todo mundo já sabia – veio à tona: o empresário gosta de contratar garotos de programa nas ruas para realizar sua homossexualidade represada.
O próximo passo de Agno será conseguir a separação de Lyris (Deborah Evelyn) e, depois, seduzir seu novo protegido, o aprendiz de boxeador Rock (Caio Castro). Sem titubear, o machão enrustido já avisou a namorada do rapaz, Fabiana (Nathália Dill), que vai roubá-lo dela.
Aparentemente, Rock é heterossexual, mas a sinopse da novela prevê que ele cairá nas garras do investidor. Do tórrido romance gay surgirão beijos – e mais polêmica.
Walcyr Carrasco não tem medo de provocar o público avesso à diversidade sexual. Em seu folhetim anterior, O Outro Lado do Paraíso, ele fez o médico tirano Samuel (Eriberto Leão) beijar apaixonadamente o ‘ex-hétero’ Cido (Rafael Zulu). Na época, houve mais apoio do que protestos.
Ainda em A Dona do Pedaço, a transexual Britney (Glamour Garcia) engatou romance rocambolesco com Abel (Pedro Carvalho). O confeiteiro português é a única pessoa no planeta Terra que não percebeu a mudança de gênero da namorada, que se diz virgem.
Quando a verdade prevalecer, a trans enfrentará o preconceito do rapaz. Depois desse conflito, os dois viverão sua história de amor contra tudo e todos.
A abordagem dessas questões – orientação sexual, transição de gênero, homofobia e transfobia – não foram criadas ao acaso. O autor parece enviar um recado direto a quem faz campanha de boicote à Globo por conta da promoção desses temas sociais na teledramaturgia do canal.
Resta saber como será a reação popular em um País cada vez mais polarizado e intolerante. Por enquanto, a novela passa incólume aos ataques lançados nas redes sociais.
A audiência está 4 pontos acima da produção anterior, O Sétimo Guardião. Somente na Grande São Paulo, o novelão atual trouxe de volta à Globo cerca de 800 mil telespectadores nas últimas semanas.
01/07/2019