Na TV, um exame de testículos feito ao vivo e sem censura

E, no meio da explicação sobre a importância do autoexame masculino para detectar possíveis alterações e até o câncer, o médico apalpa o saco escrotal depilado do modelo, que esconde o pênis com a mão. A câmera filma tudo em close-up.

Questionado pelos apresentadores se está confortável com a demonstração em seu corpo, o rapaz responde tranquilamente que sim, sem qualquer constrangimento.

A cena aconteceu semana passada no “This Morning“, programa do canal britânico ITV. Como o próprio título diz, a atração vai ao ar pela manhã, ao vivo.

Nos últimos dias, as imagens da orientação sobre o autoexame de testículos circularam pelo planeta por meio das redes sociais e de serviços de mensagens como o WhatsApp, informa o Terra.

O que foi visto como normal pela maioria dos telespectadores da terra da Rainha Elizabeth causou espanto em muitas culturas. Tal cena seria improvável de ser vista numa grande emissora brasileira de sinal aberto, como é a ITV no Reino Unido.

Em 2013, o “Bem Estar“, da Globo, abordou o tema dos cânceres de testículo e próstata. Foram usados um molde plástico e ilustrações num telão. Não houve demonstração real do autoexame em um homem.

Essa mesma autocensura aconteceu em matérias de outros canais. A televisão do Brasil reflete o estranho puritanismo de nossa sociedade.

Somos um povo visto como extremamente liberal pelo resto do mundo. Afinal, a nudez e a sensualidade mostradas no Carnaval são a imagem que nos representa.

Na verdade, o brasileiro em geral ainda é mal resolvido em relação à exposição do corpo nu – o seu próprio e o dos outros.

Nos últimos tempos, com o recrudescimento do conservadorismo e do moralismo, essa contradição está ainda mais evidente. Aqui, a figura de uma mulher nua ou homem nu ainda é associada a algo proibido e obsceno.

A maior parte dos europeus, e entre eles os ingleses, encara essa questão com naturalidade.

O irônico é que, apesar de progressistas em relação à nudez, eles passam a maior parte do tempo com o corpo quase todo coberto por conta das baixas temperaturas do hemisfério norte.

O tal modelo que mostrou os testículos no “This Morning” não o fez por exibicionismo. Chris Hughes, 25 anos, teve um problema urológico e acompanhou o tratamento de um primo com câncer testicular.

Ele aceitou participar da pauta por conta do Novembro Azul, campanha universal de conscientização sobre o valor da prevenção da saúde do homem. Centenas de telespectadores se manifestaram para elogiar sua atitude.

Não foi a primeira vez que Hughes apareceu sem cueca na TV. No ano passado, se deixou flagrar pelado enquanto andava pelo cenário de Love Island (Ilha do Amor, em tradução livre), um reality show de formação de casais.

O autoexame pode salvar vida

No Brasil, o tumor no testículo representa 5% dos casos de câncer em homens, segundo o INCA (Instituto Nacional do Câncer). Ocorre mais frequentemente em jovens.

De acordo com o site do Hospital Sírio Libanês, de São Paulo, ‘o principal sintoma do câncer de testículo é o aumento do volume de um dos testículos e incômodo na região. Pode também se apresentar como um nódulo duro, do tamanho de uma ervilha. Além disso, outros sintomas como dor imprecisa na parte baixa do abdômen e aumento ou sensibilidade dos mamilos também merecem atenção’.

No autoexame, o homem pode identificar tais alterações e então procurar ajuda médica. Quanto mais cedo o tumor for diagnosticado, maior a chance de cura.

Dois casos médicos geraram manchetes no Brasil. Em julho de 2017, o jogador de futebol Ederson, que na época defendia o Flamengo e estava com 31 anos, revelou numa coletiva de imprensa ter descoberto um tumor no testículo após um teste antidoping. A cura foi divulgada em fevereiro.

Em agosto do ano passado, o jornalista Felipeh Campos, do programa “A Tarde é Sua“, comandado por Sonia Abrão na RedeTV!, contou na TV ter descoberto um tumor testicular depois de sentir um caroço na região.

Desde então, ele usa a visibilidade na mídia e suas redes sociais para alertar os brasileiros a respeito da importância do autoexame. Campos, de 44 anos, continua em tratamento.

06/12/2018

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