Morre menino de 12 anos que não conseguiu coração por falta de transporte

Surgeon holding a heart in his hands
Surgeon holding a heart in his hands

Na fila por um coração sadio, um menino de 12 anos morreu na última sexta-feira, na UTI do Instituto de Cardiologia do DF. No primeiro dia do ano, Gabriel L.A – o nome completo não foi divulgado a pedido da família – teve uma chance de receber o novo órgão que poderia salvar a sua vida. Surgiu um doador possivelmente compatível de Pouso Alegre, no Sul de Minas Gerais, cidade a 980 quilômetros da capital federal. A Central Nacional de Transplantes comunicou ao comando do DF sobre a oportunidade de ouro. A falta de um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) que fizesse o transporte com a agilidade necessária, no entanto, frustrou a esperança da família.

Na semana passada, o Ministério da Saúde emitiu uma nota sobre a falta de transporte para o coração. “O serviço de transporte de órgãos é feito com o apoio da Força Aérea Brasileira (FAB), de prefeituras, governos estaduais e por meio de parceria com as empresas de aviação civil, de forma gratuita e voluntária”, justifica o texto. Por sua vez, a FAB diz que não pôde realizar o deslocamento devido a questões operacionais. Além de Gabriel, um bebê de 10 meses aguarda por um coração. Encontrar um doador compatível, especialmente para crianças e adolescentes, é extremamente difícil. Por isso, todas as chances são tratadas como uma operação de guerra. Um coração resiste apenas quatro horas entre o momento em que é retirado do doador até o implante no peito do paciente.

Em 2013, o Comando da Aeronáutica e o Ministério da Saúde firmaram um acordo de cooperação técnica que trata da condução de órgãos sólidos e de tecidos. O documento obriga a FAB a dar prioridade de pouso e decolagem a aeronaves que carregam as doações. Uma cláusula estabelece como responsabilidade a permissão do acesso dos servidores do Sistema Nacional de Transplante (SNT) ou da Confederação Nacional de Transportes (CNT) à sala de Decisões Colaborativas, onde poderão analisar quais os melhores itinerários e viações para o desempenho da função.

A FAB esclarece ainda que “realiza o transporte de órgãos em aproveitamento de missões militares, de acordo com a disponibilidade e considerando aspectos operacionais”. Gabriel estava sendo acompanhado pelo Instituto de Cardiologia do Distrito Federal (ICDF), o único em Brasília capacitado a fazer transplante de coração. Os pais do adolescente não autorizaram a entidade a divulgar nenhuma informação sobre o caso.

Para Daniela Salomão, coordenadora de transplantes no DF, é preciso estimular a doação e viabilizar o processo. “Normalmente eles (crianças) não ficam muito tempo na fila de espera. Em média são seis meses aguardando”, explica Daniela. Porém, ela salienta a necessidade de campanhas para estimular a doação de órgãos. “A gente tem que mostrar que vidas dependem desse gesto”, pontua.

A Força Aérea Brasileira realizou, em 2015, 42 missões de transporte de pacientes e órgãos em todo o país. Para a capital da República, no mesmo ano, chegaram seis corações em aviões da FAB. Segundo dados do Sistema Nacional de Transplante (SNT), em 2014, 2,5 mil dos 23 mil órgãos transplantados em todo o Brasil foram conduzidos por avião, o que corresponde a 10% do total. Em média, ocorrem 20 transportes de órgãos (coração, rim, pulmão, fígado, além de tecidos, como córnea e pele) por dia em aeronaves.

Caso bem-sucedido
Em novembro do ano passado, o analista de sistemas Welson André de Oliveira, 57 anos, recebeu transplante de coração em Brasília. A necessidade da cirurgia surgiu depois que ele sofreu um AVC e um infarto, em 1997. Desde então, ele sofria de insuficiência cardíaca. Agora, dois meses após a operação, Welson afirma que está reagindo bem e que se sente muito grato, principalmente à família do doador.

“Tive muita sorte. Vi pessoas que ficam anos na fila e outras que não aguentam esperar e acabam falecendo. As minhas orações hoje em dia são para a família dessa pessoa, em gratidão, e pedindo para que Deus cuide delas. Sem isso, a minha situação seria bem grave”, revela. Da recomendação dos médicos até a data do transplante, foram 25 dias de espera.

Apesar de bem-sucedida, a recuperação requer cuidados especiais. Welson ainda não pode ingerir nenhum alimento que esteja cru, voltará à fisioterapia neste mês e precisa comparecer a consultas no Instituto do Coração com frequência. Se, por um lado, o acompanhamento é rigoroso, em contrapartida, o aproximou de pessoas queridas. “Quando a pessoa sai de uma cirurgia grave como essa, não tem condições de tocar a vida sozinha. Por isso, dá uma sacudida nos nossos valores, passamos a ver quem realmente se importa conosco”, comenta.

Torcedor do Botafogo, Welson recebeu o novo órgão dias antes da partida em que o alvinegro conseguiu o retorno à Série A do futebol brasileiro, em novembro de 2015. No hospital, ele acompanhou o jogo ao lado do filho Rafael Rabadan de Oliveira. Agora ele poderá acompanhar de casa o desempenho do time do coração.

Para saber mais


Autorização para cirurgias

O Hospital de Base (HBDF) teve o credenciamento no Ministério da Saúde renovado. A liberação permite que a unidade médica volte a realizar transplantes de rim. Na última quarta-feira, uma mulher de 47 anos passou pelo primeiro procedimento após a suspensão desde o ano passado. Atualmente, a fila de espera para esse tipo de cirurgia conta com 310 nomes. Em 2015, 77 pessoas chegaram ao centro cirúrgico para realizarem o processo. Durante o período de paralisação do Base, os pacientes tiveram o atendimento encaminhado ao Hospital Universitário de Brasília (HUB) e ao Instituto de Cardiologia (ICDF). A autorização do Ministério da Saúde passa por revalidação a cada dois anos.

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