Médico que fez procedimento estético em modelo morta responde a 51 ações

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Wagner de Moraes terá que explicar nesta quinta-feira, às 10h, ao delegado Mario José Lamblet dos Santos, titular da 79ª DP (Jurujuba), o motivo de ter assinado a declaração de óbito de Raquel Santos, de 28 anos. O médico foi responsável por um procedimento estético no rosto da modelo, cujo corpo foi enterrado nesta quinta, no Cemitério Parque da Paz, no Pacheco, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio. Ao contrário do que Wagner alega, o delegado afirma que os exames iniciais não indicam que a morte da modelo tenha ocorrido por causa do uso de anabolizantes nem pelo consumo de cigarro.

O cirurgião e a clínica que leva seu nome, em Niterói, também na Região Metropolitana, colecionam processos judiciais. Em consulta ao site do Tribunal de Justiça do estado, é possível acessar ao menos 51 ações, cíveis e criminais, tendo um dos dois como réu. De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Wagner não é membro da instituição.

— Tenho 44 anos de experiência, formação nos Estados Unidos, operei 20 mil pessoas que estão lindas e maravilhosas por aí. Vê se o Pitangy não tem as mesmas coisas que eu. A gente opera muito. Todo médico tem de 1 a 2% de possibilidade de ter erros, problemas. Mas como operei 20 mil, devo ter 0,1% (de problemas) — defendeu-se.

Em um dos processos, Wagner foi condenado pela juíza Juliana Benevides de Barros Araújo, da 41ª Vara Cível do Rio, ao pagamento de pensão vitalícia a Raul Souza Silveira, após uma cirurgia o deixar “praticamente cego’’. O procedimento foi realizado no dia 7 de julho de 1999, depois que o advogado, com 76 anos à época, procurou o médico a fim de corrigir as as pálpebras, que estariam “caídas”.

De acordo com a sentença da magistrada, no momento da operação, que teria sido feita sem a realização de exames prévios, houve ‘‘forte hemorragia’’ e foi feita punção. O paciente alegou que Wagner pediu que ele procurasse um oftalmologista e foi constatada lesão no nervo óptico. “A sequela resultante com perda da visão nos olhos esquerdo (total) e direito (com mais de 50%) gera uma deficiência cujo percentual é 100%”, acrescentou, na sentença, a juíza.

Resultado desastroso
A advogada Celia Destri, que defende a família de Raul, já falecido, e é presidente da Associação de Vítimas de Erro Médico (Avermes), lamenta os “erros” cometidos:

— A cirurgia foi muito mal feita. Foi retirado um pedaço tão grande da pálpebra que os olhos não fechavam mais, e, por ressecamento, foi causada a cegueira. A negligência imperou e até hoje não foi feita Justiça — critica a advogada.

Wagner de Moraes foi condenado também pela juíza Margaret de Olivaes Valle dos Santos, da 4ª Vara Cível de Niterói, a indenizar uma produtora de 62 anos. A mulher o acusa de deixá-la com um resultado “desastroso” no corpo.

— Tenho 1,57m de altura. Tinha o busto (tamanho) 46 e ele me deixou com o (tamanho) 40, mas tirou tanta massa mamária que destruiu meu corpo — contou, em entrevista exclusiva ao EXTRA.

Em 12 de junho de 2006, outra condenação do médico Wagner de Moraes por danos morais, estéticos e materiais: na sentença, a juíza Simone Gastesi Chevrand, da 25ª Vara Cível da capital, afirmou que uma paciente que pagou, em 25 parcelas, para a realização de duas cirurgias (abdominal e seios), sete anos antes, também teria ficado com sequelas. A operação tinha “caráter não estético” e não teria sido bem sucedida.

‘Uma bomba relógio no corpo’

Entrevista com Wagner de Moraes, médico responsável pelo procedimento feito em Raquel

O que o senhor tem a dizer sobre os processos na Justiça?

Eu divulguei muito a clínica nos Estados Unidos, então tive alguns problemas com Código de Ética, mas jamais erro médico. Se vocês quiserem vasculhar a minha vida agora pra isso aí, você está mudando de foco. Nós temos que esperar para ver o que vai acontecer. Vocês querem me derrubar?

Só estou apurando os fatos…

Você apurou que tenho 44 anos de experiência, operei 20 mil pacientes e fiz 450 (cirurgias) de lábios leporinos de graça?

Mas e com relação a condenação sobre o paciente que ficou cego?

Ele (o paciente) já tinha problema, era um senhor de idade, não teve nada a ver (com a cirurgia).

E sobre as outras acusações de erros médicos?

(Para) você remoer um casinho ou outro que aconteceu lá pra trás tem que saber o ângulo, como foi. Foram coisas que aconteceram na minha vida e isso tudo não tem nada a ver. Não quero saber de nada neste momento. A menina (Raquel) foi displicente, ela tinha uma bomba relógio no corpo.

Os dados, no entanto, são públicos…

Não é possível, você tem alguma coisa contra mim? Minha vida é bem livro aberto.

‘Fiquei muito traumatizada depois de tudo’

Depoimento de uma produtora, de 62 anos, que processou o médico; ela ainda espera a indenização

“Tinha 40 e poucos anos e procurei o Wagner para reduzir as mamas. Havia tido dois filhos e queria, na época, levantar os seios. Fui na clínica dele, fiz os exames e, então, marquei a cirurgia. Logo na primeira troca de curativo, vi que o procedimento não tinha dado certo. Marquei consulta no outro consultório dele, ele não lembrou de mim e disse que minha cirurgia realmente havia sido mal feita. Fiquei muito traumatizada com a situação. Apesar da condenação, até hoje não recebi nada dele.”

Extra

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