Maior parte dos indígenas que morreram de Covid em Alagoas têm menos de 60 anos

60% das mortes ocorridas em comunidades indígenas de Alagoas são de pessoas com menos de 60 anos de idade. É o que revelam os dados analisados pela Agência Tatu, extraídos do Painel Covid-19 – Etnias Indígenas de Alagoas, mantido pela Secretaria de Planejamento, Gestão e Patrimônio.

Ainda segundo o Painel, foram registrados, até essa segunda-feira (19), 321 casos do novo coronavírus e oito mortes desde o início da pandemia de Covid-19. Destas, duas eram de mulheres com idade entre 30 e 39 anos; duas de homens com idades entre 40 a 49 anos; uma de mulher entre 50 e 59 anos; as últimas de uma mulher com 80 anos ou mais e dois homens nesta mesma faixa etária.

Os dados se referem às seis etnias indígenas de Alagoas, divididas em Xukuru Kariri, Jeripancó, Tinguí Botó, Kariri Xocó, Karapató e o Wassu Cocal.

Esses dados revelam ainda que houve um aumento de 42% entre janeiro e abril deste ano no número de casos do novo coronavírus. O número de mortes também cresceu 60% em três meses, passando de cinco para oito mortes registradas. As etnias Xukuru-Kariri e Kariri-Xocó, com presença nos municípios de São Brás, Porto Real do Colégio e Palmeira dos Índios, foram as que mais registraram mortes dentre as seis etnias.

A técnica de enfermagem da equipe multidisciplinar da Aldeia Mata da Cafurna e indígena Koram Xukuru, de Palmeira dos Índios, diz que houve um relaxamento nos cuidados para prevenção do coronavírus também na comunidade.

Koram Xukuru, técnica de enfermagem e meizinheira (mestra de saberes tradicionais)

“O trabalho de prevenção na comunidade no início foi bem assustador, porque era algo novo. Hoje, não temos a mesma intensidade de antes quanto aos cuidados, as pessoas parecem que perderam o medo, não apenas porque a maioria já foi vacinada, mas porque foram se acostumando. Um outro fator é que não tivemos uma aplicação de testes, o que gera subnotificação”, explica.

De acordo com Koram, é feito um trabalho educativo para que os indígenas não se desloquem para a cidade e fiquem mais expostos ao vírus.

“A maior dificuldade foi a questão de parar tudo. Aqui a maioria vive do bolsa família e de artesanato, ou seja, não há geração de renda no momento. Recebemos ajuda da Prefeitura,  da Companhia Nacional de Abastecimento e da Funai, mas foram coisas mínimas. Então é bem difícil controlar as pessoas que estão precisando de alguma renda”, conta Koram, que também é meizinheira da aldeia – utiliza plantas medicinais na criação de remédios caseiros.

Para Jorge Vieira, membro do Conselho Indigenista Missionário e professor com doutorado pela Universidade Stendhal (na França), a ausência de uma política mais articulada pelos entes federativos dificulta a proteção ao grupo considerado vulnerável.

Professor doutor Jorge Vieira (Foto: Ascom Cesmac)

“Faltam ações, de fato, preventivas, de assistência no campo social para efetivar a garantia dos direitos constitucionais, especialmente a demarcação da terra. Historicamente, os indígenas não têm a mesma imunidade do que pessoas não indígenas”, explica Vieira.

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