João de Deus e filho recebem primeiro habeas corpus; mulheres que o denunciaram temem ameaças

O filho de João de Deus, Sandro Teixeira de Oliveira, acusado de coagir e oferecer propina a uma testemunha dos abusos sexuais cometidos por seu pai, teve Habeas Corpus parcialmente aceito e deve ser liberado ainda hoje, em Goiás. A única restrição dada pelos desembargadores do Tribunal Regional de Justiça de Goiás foi a proibição de se apoximar a menos de 500 metros ou de estabelecer qualquer contato – mesmo que indireto – com as cinco denunciantes e a testemunha envolvidas no processo de coação e corrupção ativa ao qual o médium e seu filho respondem juntos. Cinco mulheres que denunciaram João de Deus ao GLOBO em novembro de 2018 entraram em contato com a reportagem hoje mesmo para afirmar, sob anonimato, estarem preocupadas com suas vidas, agora que Sandro será solto.

João Teixeira de Faria, conhecido como João de Deus, é acusado de abuso sexual e estupro por mais de 300 mulheres. As centenas de denúncias feitas contra ele resultaram em três processos até agora. Como há outros dois processos correndo contra João, nos quais há também pedidos de prisão preventiva, o médium – que é réu por abuso e estupro – permanecerá na cadeia.

O processo analisado pelos quatro desembargadores de Goiás na sessão de hoje diz respeito à coação que João e seu filho Sandro fizeram com uma testemunha. A pessoa, que mora perto da Casa de Dom Inácio, em Abadiânia, acompanhou uma mulher vítima de abuso sexual até a polícia para denunciar João. No dia seguinte, o médium e seu filho foram à residência desta testemunha para oferecer bens no valor de R$30 mil como moeda de troca por seu silêncio.

A desembargadora Avelirdes Pinheiro foi a última a votar pela aceitação parcial da liberação de Sandro, “reconhendo parcialmente e acolhendo a ordem impetrada para revogar a prisão preventiva de Sandro Teixeira em razão da falta de fundamentação e ausência de contemporaneidade do crime”, leu em seu voto, o quarto a fechar decisão unânime.

O advogado Guilherme Pereira, que representa Sandro, explica que não há outros pedidos de prisão preventiva contra seu cliente. E martelou, ao fim da sessão.

– Ele hoje vai para casa.

Mulheres que denunciaram médium estão com medo de ameaças

“Estou com muito medo pela minha vida agora que Sandro está solto. Acho que ele vai mandar me matar” escreveu ao Globo, sob anonimato, uma mulher que denunciou João ao Ministério Público em novembro. Outras quatro mulheres procuraram a reportagem com preocupações similares.

O promotor Augusto César de Souza, que integra a força-tarefa do Ministério Público que está investigando João e sua família, explica que qualquer fato novo deve ser reportado imediatamente ao MP.

– A gente não tem como dizer que isso (o caso de coação e corrupção ativa) foi um fato isolado, ou que não vai acontecer com outras vítimas. Contudo, não é possível, ainda, estender isso a outras vítimas enquanto não houver um vínculo factual. Se outras vítimas trouxerem ao conhecimento do MP novas situações de ameaça ou coação, estamos abertos a receber essas pessoas. Se ele tiver alguma nova participação no sentido de coagir novas vítimas, farenis o que for necessário para manter as pessoas protegidas. Mas a gente imagina que ele não vá fazer isso. Qualquer deslize dele será motivo para decretar nova prisão.

O investigador explica que a liberação foi referente ao pedido de prisão preventiva, mas que o processo penal segue em desenvolvimento.

– Ele ainda é réu. Vai ser marcada uma audiência, as vítimas e a testemunha deste caso serão ouvidas em seus respectivos estados. Elas podem pedir aos promotores e juízes para serem ouvidas sem a presença do Sandro ou do João para que não se sintam constrangidas.

12/03/2019

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