Fora do PSL, Frota deve virar tucano pelas mãos de Doria

Expulso do PSL, partido que o acolheu em seu primeiro mandato, o deputado Alexandre Frota (sem partido-SP) já é praticamente certeza nos quadros do PSDB. A decisão da legenda de Jair Bolsonaro foi, na verdade, uma exigência do presidente, devido às críticas que o parlamentar vinha fazendo à indicação do filho Eduardo à embaixada dos Estados Unidos. “Nada pode atrapalhar os planos [de Bolsonaro]. Ainda mais um deputado do partido falando mal”, justificou um interlocutor palaciano.

Frota recebeu convites de outras legendas, como DEM, Podemos e PRB, mas se derrete em elogios ao governador de São Paulo, João Doria, que encabeçou as negociações dele com a sigla. “O Doria é um cara extremamente inteligente. É um grande gestor. Um grande empresário. Um cara que atinge sempre os objetivos dele com muito trabalho e muita dedicação. Gosto muito do Doria. (…) Acho que o Doria é um grande nome que pode vir a fazer um grande trabalho. Fez um bom trabalho na Prefeitura de São Paulo, apesar de ter saído precocemente. Está fazendo uma excelente gestão no estado de São Paulo, todos os dias entregando coisas, cumprindo as promessas de campanha”, afirmou o deputado em entrevista exclusiva ao HuffPost na semana passada.

Na ocasião, Frota destacou em diversas ocasiões que “seu problema” não era com o PSL, mas com Bolsonaro. O tom com que se dirigiu ao governador Doria contrastou com o discurso de reprovação sobre o presidente da República. “Eu discordo do governo paralelo que é o governo do Olavo de Carvalho, que exerce uma pressão em cima do nosso presidente, que não deveria exercer, mas exerce. Discordo da indicação do nome do Eduardo Bolsonaro para a embaixada [dos Estados Unidos]. Acho que tinham outras pessoas que estariam mais preparadas para esse momento”, também disse o parlamentar na entrevista, revela o MSN.

Apesar de ter sido expulso, Alexandre Frota mantém o mandato e os benefícios que vêm junto com ele — verba de gabinete, cota parlamentar, auxílio moradia. Pode também continuar fazendo discursos e trabalhando normalmente, embora não tenha sido encontrado pela reportagem do HuffPost nesta quarta-feira (14) na Câmara.

Eleito com 155 mil votos, Frota também leva consigo sua fatia do fundo eleitoral — verba que os partidos recebem em anos de eleição e podem usar para financiar campanhas —, feito com base no número atualizado de parlamentares da bancada da Câmara. A divisão é feita de forma proporcional entre todos os partidos. É diferente do fundo partidário — verba repassada mensalmente às legendas para subsídio que também pode ser usada na eleição —, que considera a bancada eleita no pleito anterior. É a mesma regra usada para a divisão de tempo de propaganda de rádio e televisão.

Sem partido, Frota fica impedido, porém, de exercer cargos em função. Foi, por exemplo, destituído da vice-liderança das comissões e do partido, claro.

Negociações entre Frota e PSDB

Ainda não há previsão de quando a ida de Alexandre Frota para o tucanato será formalizada, mas circula nos bastidores do PSDB que ele pode chegar a ganhar um cargo do governo de São Paulo ou ser contemplado com uma liderança do partido na Câmara dos Deputados. Isso é, inclusive motivo de preocupação entre alguns integrantes do PSL. “O jogo pode virar, né. Ele pode tentar dificultar a vida do governo aqui na Casa”, disse um deputado pesselista.

Mais que cargos, o que está em vista, de fato, é a eleição do ano que vem. No PSL, Frota era um entusiasta do lançamento da líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann (PR), na disputa à Prefeitura de São Paulo no ano que vem. “Com certeza, é a pessoa que eu gostaria que fosse a prefeita de São Paulo. Ela reúne todas as condições para isso”, destacou ao HuffPost.

Eduardo Bolsonaro e o líder do partido no Senado, Major Olímpio (SP), contudo, defendem o nome do apresentador José Luiz Datena na disputa. O senador apresentou uma das representações contra Alexandre Frota analisadas pela cúpula pesselista que culminaram com a expulsão. A outra foi da deputada Carla Zambelli (SP).

Ambos alegaram desrespeito a orientações da legenda e mencionaram o fato de Frota não ter votado a favor da reforma da Previdência na última semana. Ele foi o único deputado presente na sessão a se abster. Detalhe: ao longo da tramitação do texto na Câmara, ele assumira a coordenação da proposta de emenda à Constituição (PEC), o que lhe rendeu, inclusive, elogios do ministro da Economia, Paulo Guedes, e aproximação do presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

15/08/2019

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