Fome e desperdício como desafio social são tema de fórum no Rio

Nesta quarta-feira (29), quando se comemora o Dia Internacional da Perda e Conscientização sobre o Desperdício Alimentar, instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU), o Serviço Social do Comércio do Estado do Rio de Janeiro (Sesc RJ) deu início ao Fórum Internacional Mesa Brasil Sesc RJ – Fome e Desperdício: um desafio social. O evento reúne virtualmente especialistas brasileiros e estrangeiros de instituições como Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O objetivo é debater a fome no Brasil e no mundo. O fórum se estenderá até amanhã (30).

A coordenadora do Programa Mesa Brasil Sesc RJ, Cida Pessoa, informou à Agência Brasil que o evento pretende chamar a atenção e apontar soluções para o problema da fome e do desperdício de alimentos, que se agravou durante a pandemia do novo coronavírus. De acordo com o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia, realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede PENSSAN) em parceria com outras instituições nacionais e internacionais, 116,8 milhões de pessoas não têm acesso pleno e permanente a alimentos, no Brasil. Desse total, 43,4 milhões (20,5% da população) não contam com alimentos em quantidade suficiente e 19,1 milhões (9% da população) estão passando fome. O inquérito foi divulgado em abril passado.

Consciência cidadã

Na manhã de hoje (29), a diretora executiva do Food Nation, Lise Walbom, da Dinamarca, mostrou várias soluções adotadas naquele país para combater o desperdício de forma geral, não só na área agrícola, mas também no comércio. Lise destacou a consciência cidadã. Por meio de um aplicativo, as pessoas são alertadas para a data em que um alimento está vencendo, com o objetivo de consumir o mais rápido possível para evitar que ele se perca e chegue ao lixo. “Ela trouxe muitas iniciativas no sentido de não permitir que esse alimento chegue ao lixo mas que, antes disso, a gente tenha uma atitude coerente, sabendo que tantas pessoas passam fome”, destacou a coordenadora do Mesa Brasil Sesc RJ. Estimou que se fosse colocado em valor tudo o que se joga fora, nas casas dos consumidores, isso representaria milhões de dólares, “independente de toda a cadeia produtiva que a gente sabe que também tem essa perda”.

A diretora regional do Sesc RJ, Regina Pinho, propôs o estabelecimento de parcerias do Food Nation com o Mesa Brasil Sesc. No painel Desafios e oportunidades para redução do desperdício de alimentos, o Programa Mesa Brasil Sesc RJ foi apontado como eficaz na ajuda ao alcance dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONUe também para evitar a perda de alimentos e a fome.

Foi feita referência também à Lei nº 14.016/20, sancionada pelo governo federal, que combate perdas e desperdícios de alimentos e autoriza estabelecimentos como bares, lanchonetes, cooperativas, restaurantes e supermercados a doarem alimentos para o consumo humano. Cida Pessoa ressaltou que é preciso ainda saber como agir com relação aos alimentos prontos.

“A gente está falando de toda a cadeia produtiva do alimento, desde o plantio”, observou. O Programa Mesa no Campo Sesc recolhe o alimento que não foi colhido no campo e que seria perdido, mas que está próprio para consumo. A Dinamarca tem a mesma preocupação de recolher alimentos na área rural e não deixar nada se perder, acentuou a coordenadora. Segundo ela, é uma incoerência saber que tanta comida vai para o lixo quando há tanta gente com fome.

Desigualdade

A questão da desigualdade foi muito abordada no primeiro dia do fórum. “O não acesso ao alimento básico, a questão mesmo da sobrevivência”, observou Cida Pessoa. Com a pandemia, foi percebido no dia a dia que a fome aumentou muito. “São muitas pessoas que não estavam em vulnerabilidade social e hoje estão, começaram a pandemia empregados e hoje não estão mais empregados. Automaticamente, essa pessoa passa a necessitar de uma ajuda, de um apoio. Com certeza, o Brasil, que já estava fora do mapa da fome, voltou para o mapa. Realmente, é uma situação muito séria, muito grave”, lamentou Cida Pessoa.

Cida afirmou que chegou o momento de todos participarem e contribuírem em uma rede de solidariedade. O Mesa Brasil propõe exatamente isso: que todas as pessoas e empresas participem doando alimentos, ou serviços, ou tempo como voluntário, ou fazendo a distribuição. “A gente viu tantas pessoas se comovendo durante a pandemia. Acho que é mesmo uma questão maior de cidadão. O que eu posso fazer pelo meu próximo, por alguém que está do meu lado em uma situação tão difícil nesse momento”.

Amanhã, o fórum debaterá, entre outros temas, o desperdício de alimentos e um sistema alimentar regenerativo nas cidades; e a possibilidade de se alcançar a meta 12.3 dos ODS da ONU, que visa reduzir pela metade o desperdício alimentar global per capita (por indivíduo) no varejo e no nível do consumidor, bem como diminuir as perdas ao longo das cadeias de produção e fornecimento.

Participam do Fórum, além da FAO e OCDE, representantes da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), ONU Meio Ambiente, ONU Habitat, Ação da Cidadania, Fundo Mundial para a Natureza (WWF, do nome em inglês), Global FoodBanking Network, além de pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade de Sorbonne, na França.

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