Flavio Bolsonaro trabalha para sepultar a Lava Toga

Há duas semanas, uma conversa entre os quatro senadores do PSL em torno da CPI da Lava Toga quase provocou a saída de Major Olímpio (SP) da liderança do partido no Senado. A explosão do senador foi gerada por uma investida nada ortodoxa: a insistência de Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente, para que eles retirassem as assinaturas de apoio à CPI destinada a investigar irregularidades no Judiciário. Desde que a Comissão de Inquérito foi proposta, Flávio estranhamente uniu-se a um grupo de senadores do PT e do MDB, encrencados com processos, para trabalhar contra as apurações envolvendo a Justiça. “É bom que essas pressões parem, caso contrário eu chamo a imprensa e conto tudo”, ameaçou Major Olimpio dirigindo-se a Flávio.“Se não cessarem, eu deixo a liderança”, completou. O que move Flávio Bolsonaro é sempre um mistério. O mais importante é saber se ele age com o consentimento do Planalto. Se for o caso, a ação do “03” de Bolsonaro é ainda mais grave.

Na tentativa de enterrar a CPI, Flávio circula com desenvoltura nos bastidores do Senado. No dia 26 de março, por exemplo, Flávio adentrou ao gabinete do presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP), durante uma reunião de líderes. No encontro também estava presente Alessandro Vieira, autor do requerimento da CPI. Foi quando Flávio fez uma defesa enfática da “inconveniência” da investigação. “Meu pai não é contra a CPI, mas ela pode criar constrangimento para o governo”, disse ele, conforme relato dos presentes à reunião. Flávio tem argumentado que a Lava Toga pode “afetar a governabilidade”. Para ele, a única prioridade deve ser a reforma da Previdência. Que as alterações nas regras das aposentadorias são fundamentais para o soerguimento da economia do País, não pairam dúvidas. Falta esclarecer como as investigações sobre eventuais malfeitos dos senhores de toga afetariam o Brasil – a não ser positivamente.

O fato é que não são poucos os interessados em jogar os podres do Judiciário para debaixo do tapete. Por isso, Flávio arregimenta aliados com a naturalidade de quem toma um simples suco de laranja. Entre os quais os senadores Humberto Costa (PT-PE), Renan Calheiros (MDB-AL) e Eduardo Braga (MDB-PA). Todos investigados pela Justiça, eles passaram a se empenhar pessoalmente ao lado do filho do presidente para que a CPI não siga adiante, revela o MSN.

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No PSL, as maiores pressões de Flávio recaíram sobre as senadoras Soraya Thronicke (PSL-MS) e Selma Arruda (PSL-MT). Na dúvida se as articulações do “03” tinham por origem o Palácio do Planalto, elas foram pessoalmente tratar do tema com o presidente da República. Numa reunião com o testemunho de outros senadores, elas entabularam o assunto. Na conversa, cobraram uma posição de Bolsonaro. Ao que o presidente reconheceu, como se desautorizasse as ofensivas do rebento: “Realmente é muito ruim retirar assinatura de uma CPI”. Jogo de cena? O senador Jorge Kajuru (PSB-GO) conta que também foi instado por Flávio a não subscrever o documento que cria a Comissão de Inquérito. Durante uma conversa após a primeira fase da coleta de assinaturas, o filho do presidente justificou: “Isso (a CPI) vai gerar um caos no país. Não faça isso”.

Por força ou não das ações de Flávio Bolsonaro, na quarta-feira 10 uma segunda tentativa de instalação da Lava Toga foi barrada na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, por 19 votos a 7. O tema ainda será tratado pelo plenário, mas a expectativa é de que ali seja enterrado também.

12/04/2019

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