JURÍDICO (TERMO)
Contrário, hostil à democracia; antidemocrático
A mais recente polêmica envolvendo o maior influenciador digital brasileiro gira em torno de um setor cultural profundamente vinculado à ideologia reacionária. Estamos falando dos cantores sertanejos.
“Quero parabenizar a todos os artistas que usam seu espaço de maneira consciente. A todos cantores que andam na contramão disso tudo, perdendo campanhas publicitárias, perdendo dinheiro”, começou Felipe. “Agora, quantos estão em silêncio? Cadê os artistas sertanejos? Estão fazendo o quê? Tem gente morrendo e a única preocupação é ‘livezinha’ enchendo a cara”.
Eles são imensamente ricos. Possuem propriedades rurais e, apesar de morarem em centros urbanos, mantém costumes e falas geralmente vinculadas ao meio rural. Estou falando dos cantores sertanejos. Muitos são provenientes de núcleos familiares pobres, galgaram o sucesso praticamente com as próprias forças e representam o brasileiro médio. Desde a eleição do presidente Jair Bolsonaro eles passaram a representar um dos setores de apoio do bolsonarismo, sempre defendendo bandeiras da ultradireita e fortalecendo o conceito bolsonarista de que não tem que ter isolamento social para combater a pandemia. Pela maioria dos sertanejos, não haveria isolamento social no Brasil, sendo liberado shows e outras aglomerações, independente do caráter mortal do vírus da Covid-19.
O outro é um influenciador digital, proveniente de classe média. Um fenômeno das redes sociais, especialmente o Youtube, onde conseguiu ser alçado ao mais influente nesse tipo de plataforma. Felipe Neto também tem forte atuação no twitter, de onde de uns tempos para cá vem usando o meio para difundir ideias políticas, notadamente consideradas progressistas ou de esquerda.
Durante uma live com diversos advogados progressistas no grupo chamado ‘Prerrogativas’, Felipe teceu um comentário sobre os cantores sertanejos, criticando o fato deles não falarem nada a respeito da pandemia, muito menos do presidente Jair Bolsonaro. Felipe também criticou o fato de milhares de pessoas estarem morrendo no Brasil, enquanto este nicho musical se esbalda em festas ao vivo, muitas transmitidas pelas redes sociais, com o consumo excessivo de bebidas e desrespeitando o distanciamento social.
Diante dos comentários de Felipe, o chamado ‘mundo sertanejo’ veio a público, através do filho do cantor Leonardo, conhecido como Zé Felipe, onde tece comentários desabonadores contra Felipe Neto, numa tentativa de defender o modo sertanejo de negar a pandemia mundial.
Fica claro nas declarações de outros nomes do sertanejo desdenham de Felipe, não comentam suas críticas e partem para agressões pessoais, chamando o influenciador digital de ‘moleque’ e ‘menino de condomínio’.
Felipe Neto agora amarga uma espécie de cancelamento oficial dos sertanejos, que têm nele um ‘inimigo da classe’. Note-se que todos eles, de Zezé Di Camargo a Gustavo Lima, são profundos apoiadores do presidente Bolsonaro, usando Felipe Neto para atacar o que consideram ‘pensamento esquerdista’ de preservação da vida, utilizando isolamento social, máscaras faciais, vacinas e outros meios cientificamente comprovados de contenção da pandemia.
Ao escancarar a atuação de muitos dos sertanejos durante a pandemia, festejando sabe-se lá o que diante de milhares de mortos, Felipe Neto foi direto na ferida da hipocrisia geral e irrestrita que move esse setor cultural, que em linhas gerais, não tem tido uma atuação louvável para ajudar a dar visibilidade às medidas sanitárias capazes de diminuir a contaminação e tirar o Brasil do ranking mundial de grande fomentador do vírus.
Deixo aqui minha total solidariedade a Felipe Neto. Ele mexeu com uma categoria poderosa de influenciadores sociais. Felipe vai sofrer por mais essa posição pública, mas foi por uma boa causa.