Evento da Chape causa controvérsias, e familiares das vítimas criticam: Não há o que festejar

Com hashtag em alusão à #prasemprechape, parentes de vítimas fatais da tragédia se manifestam contrariamente às ações realizadas pelo clube no jogo da Recopa e reclamam da falta de amparo

O clima em Chapecó para o jogo da Recopa entre Chapecoense e Atlético Nacional foi bastante festivo, com tom de superação do luto e agradecimento. Se por um lado, passou a imagem de “página virada” e de solidariedade com o povo colombiano, por outro, não agradou aos familiares das vítimas fatais da tragédia, em novembro de 2016. Muitas viúvas dos atletas e também demais parentes entenderam que o evento foi transformado em uma festa, sendo que não há motivos para comemorações.

Além de Matheus Saroli, filho de Caio Jr., que usou as redes sociais para criticar a postura do clube ao longo da última terça, algumas esposas de atletas e funcionários também se manifestaram. Em alusão à #prasemprechape, utilizada como mote pelo clube durante o jogo, e que chegou a estar no topo dos assuntos mais falados do Twitter, familiares trocaram a palavra “chape” pelo nome de seus entes. Leticia, esposa do goleiro Danilo, foi uma das pessoas que se manifestou. Com uma imagem da camisa da Chape sobreposta pela #prasempredanilo, a esposa do atleta afirmou que o momento não é de festa.

– Hoje não é dia de festa, fogos de artifício, de comemoração, isso dói pra gente que perdeu nossa metade naquela noite, que quem vivenciou de perto a dor de perder alguém naquela maneira, nunca mais irá esquecer. Hoje sofremos, amanhã e pra sempre, porque metade de nossa história, nossa vida foi junto com eles. Força minhas amigas, minha dor é de vocês também – diz parte da publicação.

As viúvas dos atletas Ananinas, Gimenez, Filipe Machado, William Thiego, Gil e Kempes, do preparador físico Anderson paixão, do supervisor Chinho Di Domenico e do médico Marcio Koury também usaram as redes sociais para se manifestar. De uma forma conjunta, elas utilizaram a mesma imagem, também com a utilização da hashtag #unidasporamor. Há um movimento organizado pelos familiares, que discutem, entre outros assuntos, as ações que podem ser definidas de forma conjunta.

Graciela Missel, esposa do médico Marcio Koury que estava no clube há quatro anos e também foi uma das vítimas do voo, achou o evento “exagerado” e falou que não há motivos para festejos, apesar de ponderar e entender ser grata pela posição exibida pelo povo colombiano. Ela esteve presente na Arena Condá.

– Achei exagerada, foi uma festa. Uma coisa é ser grato, fazer homenagem. Gratidão todos nós temos, pois o povo colombiano fez muito bonito e nos auxiliou em tudo o que foi preciso. As famílias especialmente têm muita gratidão, mas o que aconteceu foi uma festa de Carnaval, foi show pirotécnico, show de música. Acho que ainda dói muito, é muito recente. E não tem como não lembrar de Medellin, da Colômbia sem sofrer. Não acho que seja a hora de tanto alvoroço. Era uma festa muito alegre, de como se nada tivesse acontecido. Foi como se nos dessem um tapa na cara. Sou muito grata, mas o nome era uma “Fan Fest”, qual o motivo de se festejar? Queremos agradecer, não festejar – disse ao GloboEsporte.com

A principal queixa apontada das famílias das vítimas fatais passa pela falta de atenção do clube com os familiares. Há uma sensação de falta de amparo, como exemplo, até mesmo no apoio psicológico, sem que no clube exista pessoas ou setores para lidar com as famílias. De acordo com relatos, até mesmo as carteirinhas para assistir aos jogos no setor das cadeiras foram retiradas, dando acesso aos familiares apenas às arquibancadas sociais. Para a partida contra o Nacional, que envolvia também homenagens às vítimas, o convite para o duelo da Recopa foi enviado apenas no sábado à tarde, quatro dias antes do evento, após reclamação de algumas viúvas.

A esposa do atacante Ananias esteve no jogo entre Chapecoense e Atlético Nacional. Na manhã desta quarta-feira, a viúva publicou uma foto da partida e usou uma música de Renato Russo (Por enquanto) para se expressar e concluiu com a #tatudotaoestranho, questionando o momento em que vive após a tragédia.

– Mudaram as estações. Nada mudou. Mas eu sei que alguma coisa aconteceu. Tá tudo assim tão diferente. Se lembra quando a gente chegou um dia acreditar, que tudo era pra sempre, sem saber,que o pra sempre sempre acaba #pareceoutravida #tatudotaoestranho #ananiaseternoguerreiro – diz o texto.

Recentemente a Chapecoense foi acionada na justiça por viúvas de algumas vítimas fatais, cobrando integralização da remuneração do marido, danos morais e lucro cessante, referente a expectativa de vida profissional interrompida pela morte.

ge

05/04/2017

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