Delegado procura local para onde médico foi levado com traficante ferido

O delegado Wellington Vieira, titular da 21ª DP (Bonsucesso) e responsável pela investigação sobre o sequestro de um médico ocorrido dentro da Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) do Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio, na madrugada deste domingo, quer localizar o local — uma clínica ou um hospital clandestino do tráfico — para onde foi levado um traficante baleado. O profissional de saúde foi obrigado a acompanhar a transferência do criminoso.

Wellington classificou como uma “operação de guerra” a ação dos bandidos para socorrer o cúmplice, que havia sido ferido em um dos braços, atesta o Extra.

— Ainda não sabemos quem é esse bandido. Pode ser o TH (Thiago da Silva Folly, um dos chefes do tráfico na Maré). Mas, se não for ele, é alguém de destaque na hierarquia do quadrilha. Só isso justificaria uma mobilização como a que foi feita, uma operação de guerra. Uma ação desesperada e ousada — disse o delegado.

Segundo ele, providências já estão sendo tomadas para que o médico sequestado preste depoimento. De acordo com o motorista da ambulância roubada pelos criminosos para socorrer o traficante ferido, o médico está “em pânico” e relatou aos colegas que não prestaria depoimento “de forma alguma”. O motorista foi ouvido na 21ª DP neste domingo.

— Nós vamos garantir que esse profissional não seja exposto. Sabemos da situação de vulnerabilidade dele. O médico corre risco e será preservado. Já estamos em contato com a direção da UPA — garantiu o delegado, adiantando que outros funcionários da unidade de saúde, cerca de dez, também serão ouvidos.

O policial informou, ainda, que tem um “vasto” banco de dados com fotos de bandidos da comunidade e, assim que uma testemunha do crime foi localizada, será feita uma tentativa de reconhecimento.

— Também vamos tentar as imagens de câmeras instaladas em qualquer dos locais por onde os criminosos passaram — afirmou Wellington, que já enviou um ofício ao Viva Rio pedindo as imagens das câmeras da UPA.

A Polícia Civil fará um levantamento de quantos quilômetros os bandidos rodaram com a ambulância para socorrer o comparsa. O veículo possui uma planilha de controle dessa quilometragem que será fornecida pela UPA à polícia. O médico sequestrado foi deixado pelos criminosos na Baixada Fluminense, por volta das 7h de domingo.

Em depoimento, o motorista relatou ainda que os bandidos, antes de levarem a ambulância, questionaram se o veículo possuía GPS. Diante da resposta positiva do profissional, eles disseram que possuíam um aparelho para desativar o serviço de localização.

Em nota, a Secretaria estadual de Saúde informou que dá apoio a seus profissionais e colabora com as investigações: “A Secretaria de Estado de Saúde informa que está dando todo apoio necessário aos profissionais da unidade e colaborando com as investigações da Polícia Civil”.

Ambulância foi lavada

Um supervisor da empresa Savior, proprietária da ambulância, foi chamado à delegacia na manhã desta segunda-feira para explicar por que o veículo foi lavado antes da perícia. De acordo com Wellington Vieira, o supervisor pode responder por fraude processual, já que a lavagem pode prejudicar o trabalho da perícia.

O supervisor da Savior deixou a delegacia por volta das 11h e não quis falar com a imprensa. Segundo o delegado, ele explicou que existe um protocolo da empresa que determina que a empresa seja lavada sempre que ficar suja de sangue.

— A justificativa é até plausível, mas nesse caso deveria ser preservado, pois pode prejudicar a investigação — disse o policial.

Transferência para possível hospital clandestino

O caso ocorreu por volta de 1h deste domingo. Cerca de 50 criminosos invadiram a UPA da Maré e exigiram que os profissionais atendessem um bandido que tinha sido baleado em um dos braços. O tiro atingiu uma artéria e seu estado de saúde era extremamente grave. Como o ferido precisava de uma cirurgia, os médicos informaram que seria necessário transferi-lo para outra unidade de saúde. Os traficantes, no entanto, queriam levá-lo para outro local, possivelmente o hospital clandestino, utilizando a ambulância da UPA, o que não foi aceito pelos profissionais.

Os criminosos retiraram o motorista da ambulância, um deles vestiu seu jaleco e assumiu a direção do veículo. Como o estado de saúde do paciente era extremamente grave, levaram um médico junto. O profissional foi liberado pelos bandidos por volta das 7h deste domingo, na Baixada Fluminense. Já a ambulância foi deixada na UPA da Maré por volta das 11h30.

Troca de tiros na Avenida Brasil

A Polícia Civil suspeita que o bandido baleado tenha sido ferido numa troca de tiros com policiais militares do Batalhão de Policiamento em Vias Expressas (BPVE) na Avenida Brasil, altura de Bonsucesso, também na Zona Norte do Rio.

Os agentes faziam uma blitz na pista sentido Centro quando criminosos armados que estavam em um Renault Logan preto desobedeceram a ordem de parada e atiraram contra os policiais. Houve confronto e um PM foi atingido na barriga. Ele foi socorrido e levado para o Hospital Federal de Bonsucesso.

O militar foi operado e não corre risco de morte. Durante o cerco aos criminosos, uma equipe do 22º BPM (Maré) apreendeu um fuzil calibre 762 que foi abandonado na saída 9B da Linha Amarela. A arma apreendida pela polícia tem a inscrição “Tropa do TH”.

16/10/2017

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