Com arrefecimento da pandemia, Governo de Alagoas e Cooperativa Pindorama potencializam oportunidades a quilombolas em visita técnica

Quando se ouve ou se ler o termo cooperativismo — que em tese é a união de um grupo de pessoas com os mesmos interesses buscando o crescimento através de um trabalho compartilhado — pelo menos em Alagoas, logo todos lembram de uma marca: a Cooperativa Pindorama, localizada no litoral sul do Estado, a 88 Km de Maceió.

Desde 6 de dezembro de 1956, ela é referência e sucesso nesta seara. Foi nesta data que surgiu a Cooperativa Pindorama, formada por produtores de cana de Alagoas, ideia do franco-suíço René Bertholet. À época, o objetivo era ofertar emprego e renda para as famílias da região, desenvolvendo a qualidade de vida das pessoas em uma comunidade autossustentável, diminuindo, com isso, o êxodo rural.

E foi com o lema de seu fundador “Ninguém é forte sozinho”, apoiado em outra frase simbólica do geógrafo, economista e cientista social russo Piotr Kropotkin que disse que “a competição é a lei da selva e a cooperação é a lei da civilização”, que a Pindorama se tornou referência em cooperativismo no Nordeste e no Brasil.

Atualmente, a Pindorama tem 1.160 associados, colonos, que na sua maior parte reside no próprio lote com sua família. Na cooperativa, são exploradas diversas culturas agrícolas, como cana-de-açúcar; coco e todos os seus derivados; acerola, abacaxi, maracujá, açúcar, álcool 70° líquido e gel, manteiga, molhos e balas, além de pecuária bovina leiteira, avicultura e suinocultura, somente para ficar nesses.

O resultado da iniciativa é que o mix de produtos produzidos na cooperativa é conhecido por qualquer alagoano que se preze nas prateleiras dos supermercados locais e por aí afora.

 

Diversificação e distribuição de tentações gastronômicas em visita

Foi na busca da expertise da Pindorama, que cerca de 30 remanescentes quilombolas dos acampamentos Muquém, Filuz, Juçara e Mariana, dos municípios de União dos Palmares e Santana do Mundaú, na Zona da Mata alagoana, visitaram esta semana a Pindorama.

Com foco na diversificação da produção e perspectiva de incremento de renda nas comunidades, os remanescentes foram ver a possibilidade de levar beneficiamento e manejo a seu povo e habitat, onde estão aproximadamente 180 famílias.

O intuito da visita foi verificar in loco a possibilidade de diversificação da produção agrícola e economia de cooperação familiar e também com a preocupação em sustentabilidade.

“Estamos muito felizes com esta visita e cremos que um boa parte do que vimos aqui pode ser aproveitado em nossas comunidades”, disse Maria das Dores de Oliveira, conhecida como “Dorinha”, que faz parte da comunidade quilombola Muquém.

“Aproveitem toda nossa experiência e levem o máximo que puderem para fortalecer a agricultura familiar desses povos tão importantes para nossas raízes alagoanas e brasileiras”, disse o presidente da Cooperativa Pindorama, Clécio Santos, que recebeu de presente das mãos dos quilombolas, portfólios sobre a história dos povos e mimos gastronômicos de dar água na boca e tentadores, como bolos de massa puba, macaxeira, pés de moleque, tapiocas, beijus e afins.

Os remanescentes visitaram ainda numa área de quatro hectares, culturas de pimenta, alface, coentro, quiabo, tomate, couve, cebolinha e repolho.

 

Articulação e atenção ao Povos Tradicionais

O intercâmbio com a Cooperativa Pindorama foi possível graças à articulação do Gabinete Civil do Estado de Alagoas, por meio da Gerência de Articulação Social, que caiu em campo, literalmente, depois de mais de um ano no casulo por conta da pandemia que limitou as ações presenciais. Agora, com o avanço da vacinação contra o novo coronavírus em todo Estado e seguindo rigorosamente os protocolos sanitários ainda necessários, a ação se concretizou.

Na ocasião, um parceiro importante no projeto se fez presente: o Instituto de Inovação para o Desenvolvimento Rural Sustentável de Alagoas (Emater), que tem descentralizado um conjunto de ações inclusivas, voltadas para o fortalecimento do etnodesenvolvimento e autonomia das famílias beneficiárias, viabilizando políticas públicas, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e Fomento às Atividades Produtivas Rurais, além da própria ação de Assistência Técnica e Extensão Rural

“É um prazer disponibilizar nossa expertise nesta ação com os quilombolas capacitando-os através de nossos técnicos quanto à organização social e acessibilidade às políticas sociais e produtivas”, ressaltou o presidente da Emater, João Paulo, que recepcionou os remanescentes quilombolas.

“É uma oportunidade de propiciar crescimento das comunidades dos Quilombos, assim como todos os povos tradicionais em todas as áreas em nosso Estado. Esse olhar diferenciado para os Quilombos em especial vem desde 2015, como política pública do governador Renan Filho e do secretário do Gabinete Civil, Fábio Farias, assim como da Emater”, ressaltou a gerente de Articulação Social, Edenilsa Lima.

 

Uma parceria com olhar diferenciado

Essa não é a primeira vez que o trabalho da Gerência de Articulação Social ocorre com os quilombolas do Vale do Mundaú envolvendo a Pindorama e a Emater.

Em 2018, Quando o Vale do Mundáu, principal produtor de citros do Brasil, tendo a laranja lima como o principal oásis desta cadeia produtiva, o município de Santana do Mundaú – cerca de 105 Km de Maceió – se tornou há quase seis anos alvo da mosca negra. A praga, que ataca mais de 300 espécies de plantas, como citros (laranja, limão e tangerina), atacou quase 100% dos laranjais da região, provocando uma redução superior a 40% na produção local, gerando prejuízos a quase dois mil agricultores familiares que dependem diretamente desta produção.

Foi dando real sentido à palavra clichê da moda, “empoderada”, mesmo com a tal mosca “bagunçando” a principal atividade econômica da região, o fato não foi capaz de neutralizar os sonhos de cerca de 20 mulheres lutadoras e empreendedoras da localidade que, não se fizeram de rogadas, e criaram alternativas para sobreviver ao dano econômico.

Pertencentes a três comunidades quilombolas de Santana do Mundaú Filuz, Jussara e Mariana arregaçaram as mangas e com o intuito de ajudar os maridos numa solução para vencer a crise da cultura da laranja lima, fundaram, há cinco anos, a Cooperativa de Produção de Agricultura da Mulher Quilombola.

A ideia da cooperativa à época surgiu graças à intermediação feita pela Gerência de Articulação Social do Gabinete Civil. Foi aí que, pela primeira vez, esta parceria propiciou às batalhadoras do Vale do Mundaú conhecerem a experiência exitosa de um dos maiores exemplos de cooperativismo de agricultura familiar do Nordeste e no Brasil, a Pindorama.

Hoje em Alagoas, segundo Edenilsa Lima, estão certificadas pela Fundação Palmares 70 comunidades quilombolas.

 

As “Paulas’ da Pindorama: uma atração à parte

Ana Paula, Maria Paula, Paula Taissa e Taiane Paula. Quatro meninas-irmãs com personalidades próprias, diferentes, apesar de algo em comum no nome como sugere a introdução desta reportagem: todas carregam a marca “Paula”.

Outra coisa em comum entre as ‘Paulas” é que as quatro trabalham juntinhas, lado a lado, são uma espécie de atração, ou melhor, trabalhadoras cooperadas na papelaria que leva o nome do fundador da Pindorama, René Bertholet, localizada em uma das fábricas da cooperativa. E isso, como não poderia deixar de ser, chamou atenção dos visitantes quilombolas.

É na fábrica Bertholet onde são fabricados produtos como vassouras de vasculhar, as de varrer e, claro, onde ocorre todo o processo de transformação do papel.

“Estamos encantados com o trabalho dessas quatro ‘Paulas’ que nos inspiram para que levemos essa experiência para nossas comunidades”, disse Quitéria Ferreira, uma das visitantes remanescentes quilombolas.

“É um prazer para a gente poder explicar todo esse processo aqui na nossa área para pessoas interessadas em replicar conhecimento e tornar possível produção e sobrevivência aliada à sustentabilidade de comunidades como as dos quilombolas”, ressaltou Ana Paula, a mais experiente das irmãs “Paulas”.

O fato é que as meninas-irmãs ‘Paulas’ cooperadas da Pindorama fizeram tanto sucesso que receberam uma salva de palmas dos visitantes entusiasmados.

 

Uma ex-modelo como exemplo na cooperativa

Outra parte que encantou os visitantes foram as explicações da ex-modelo gaúcha de fama internacional Milena Sampaio, autodidata que brindou a todos com as possibilidades do aproveitamento da fibra e da casca de coco e suas múltiplas utilidades para beneficiamento do produto.


“Estou aqui há um ano na Pindorama, graças à bondade dos diretores que acreditam nas possibilidades do aproveitamento deste trabalho e desse produto que pode ter um retorno bacana, mas com muita sustentabilidade”, destacou Milena, que trabalha com uma equipe de sete pessoas e graças as suas explicações e simpatia não se furtou, como ex-modelo que é, ao assédio de fotos e cliques dos visitantes.

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