Carta aberta ao senador alagoano Renan Calheiros

Senador,

Como Vossa Excelência é sabedor há muito tempo, ‘na política o jogo é bruto’. A recente passagem por terras alagoanas do atual presidente da República mostra que às vezes a política também é vergonhosa. Com o intento de reverberar xingamento que seu filho tinha proferido anteriormente na Comissão Parlamentar de Inquérito que apura responsabilidades durante a pandemia, Bolsonaro reproduziu a fala chula do seu rebento mais velho, chamando o senador alagoano mais uma vez de va ga bun do. Cercado por meia dúzia de fanáticos seguidores, o presidente foi ovacionado por tal ilicitude verbal dita por um suposto chefe de Estado.

Sabemos que xingamentos em política ou fora dela são ‘normais’, longe de mim querer ser o ‘carola’ ruborizando de vergonha, mas acho que não cai bem para um presidente da República, ainda mais de um dos maiores países do mundo. Aliás, não me recordo de nenhum presidente brasileiro que tenha usado o púlpito presidencial em solenidade oficial para atacar adversários políticos de forma tão grosseira e vil.

Senador, Vossa Excelência tem larga experiência política, tendo sobrevivido desde os tempos da ‘Nova República’, passando por FHC, Lula, Dilma e Temer. Agora, no governo do ex-militar, Vossa Excelência terá que se reinventar mais uma vez, pois o jogo é bruto, brutíssimo.

Ao relatar a CPI que pode culminar com o impeachment do presidente Jair Bolsonaro, o senhor atraiu para si toda a fúria do ‘gabinete do ódio’, que dizem ser comandado pelo filho do presidente, chamado de Carluxo. Nas redes sociais e grupos de zap povoam vídeos, fake news e toda sorte de ‘notícias’ dando conta de uma série de acusações pesadas e leves contra o clã Calheiros, tudo numa sinfonia teleguiada para destruir reputações.

Ao vir a Alagoas com o claro intuito de xingar Renan Calheiros (pai) e Renan Filho (atual governador de Alagoas), Jair Bolsonaro deixa claro que não está nem perto da grandeza do cargo. Ele, deliberadamente, gastou milhões de reais em uma viagem com propósitos mesquinhos. Ao usar terras alagoanas para proferir ataques pessoais, numa baixaria chamais vista na história política nacional, o ex-militar perde totalmente o manto de civilidade que ainda restava no em torno do cargo que ocupa provisoriamente. Triste também ver que dois políticos de Alagoas aplaudiram tais insanidades verbais. Estou falando do senador Fernando Collor e do deputado federal Arthur Lira, atual presidente da Câmara.

Jair Bolsonaro passará para a história como um presidente que usou o cargo para atacar um adversário com baixarias. A mesquinhez do gesto presidencial é inominável.

Não quero aqui com estas palavras isentar o senador Renan Calheiros dos erros que já cometeu e ainda vai cometer politicamente, mas não poderia ficar calado diante de um ato tão pequeno, leviano e quase adolescente do presidente da República.

Senador, saiba que fiquei estarrecido ao ver as cenas do presidente do nosso país fazer gestos obscenos para manifestantes contrários a sua administração. Fiquei boquiaberto ao ver ele usar um ato de entrega de casas para fazer gestos em reverência a fuzilamento de pessoas.

Fica aqui a minha solidariedade neste momento que Vossa Excelência tem que segurar a onda de tudo isso para continuar firme na relatoria da CPI e, confirmando as suspeitas, definir culpabilidade a quem deliberadamente está fazendo o povo morrer sem vacina, sem dinheiro, sem emprego, sem perspectiva.

A afronta que Bolsonaro acredita ter feito ao senador Renan Calheiros ele o fez a todo o brasileiro que ouse lhe confrontar, que ouse lhe criticar. Um déspota de boca suja, isso é o que Bolsonaro. Como ele, inúmeras outras figuras foram jogadas na lata de lixo da história. Que assim seja.

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