As pequenas bizarrices produzidas pelo Ranking da Fifa

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Não parecia muito possível desde 2014, após as trágicas semifinais da Copa do Mundo, mas o Brasil está perto de voltar à liderança do Ranking da Fifa de seleções. Pois é, você não leu errado. Com as recentes atuações na Era Tite, a Seleção Brasileira pode tomar o topo do principal ranking mundial, sem vencer nenhum campeonato ou disputar uma final.

Antes de qualquer análise, vamos explicar o Ranking Fifa de uma forma que o leitor não fique embaralhado com as informações. Pegamos os resultados de uma seleção em qualquer tipo de confronto, seja por um amistoso ou pela Copa do Mundo. Esta pontuação é originada de uma média de pontos conseguidos nos últimos 12 meses, diferenciando-se apenas a importância da partida e o nível do adversário. Sendo assim, se um país enfrentar apenas adversários entre as 10 primeiras posições e vencer estes 10 amistosos, ele terá uma média altíssima ao fim da soma.

O conceito

De acordo com a Fifa, a fórmula é a seguinte: os pontos (P) são a soma de M (resultado), I (Importância da partida), T e C (força do adversário e confederação a que ele pertence). Portanto, para os ligados em matemática, a equação seria P = M x I x T x C. Como não estamos aqui para ensinar álgebra, mas sim falar de futebol, o contexto é um pouco mais simples que isso, como se pode perceber pelas legendas.

Exemplificando a questão: se o Brasil enfrentar e vencer por goleada as equipes de Haiti, Geórgia, Venezuela, Bolívia, Gabão, Namíbia e Fiji, não somará a mesma quantidade de pontos do que se vencesse apenas por 1-0 as seleções da Argentina, Espanha, Itália, Bélgica, Alemanha, Colômbia e França. Mesmo que haja um empate ou dois com os citados neste segundo grupo, a pontuação ainda pode ser superior, sobretudo se o duelo for válido por um torneio oficial. Soma-se o número de 200 pontos menos a posição da equipe no ranking. A Argentina, atual líder, tem 200 pontos de saída. Se alguém vencê-la, somará estes 200. Caso seja alguém abaixo, como por exemplo o Chile, em sexto, a conta fica em 200-6. Seleções abaixo da 150ª colocação valem apenas 50 pontos, o mínimo no ranking. Quanto mais qualificado o adversário, mais pontos somados. Apesar dos rodeios para explicar os critérios, o produto final não é de difícil compreensão.

Outra colinha que é preciso ter para entender melhor o ranking: a Fifa dá diferentes pesos para suas confederações. A Conmebol, por ter menos afiliados e mais seleções competitivas, tem o peso de 1.00. A Uefa tem 0.99 em virtude de San Marino, Liechtenstein, Ilhas Faroe, Gibraltar e outros países sem tradição no esporte que diminuem bastante a média dos gigantes e medianos. As demais confederações, a AFC (Ásia), OFC (Oceania), CAF (África) e Concacaf (América do Norte e Caribe) possuem 0.85 de peso.

Mas aí também temos mais uma soma a ser levada em conta, a de peso de cada partida. Amistosos valem 1.0, Eliminatórias para a Copa do Mundo ou torneio continental valem 2.5, jogos de competições continentais valem 3.0 e confrontos da fase final da Copa do Mundo valem 4.0. Assim fica fácil explicar a Argentina sempre no topo ou brigando pela liderança, já que o país jogou as últimas três finais possíveis em competições internacionais.

Até que faz sentido, mas…

Tudo bem, agora que você já entendeu a brincadeira, vamos ao que interessa. A última atualização do Ranking Fifa de seleções, em 20 de outubro, coloca a Argentina como líder, seguida por Alemanha, Brasil, Bélgica e Colômbia. Nos últimos 12 meses, os argentinos foram os únicos entre estes cinco líderes a disputar uma final, ainda que tenham sido derrotados pelo Chile. Os chilenos, bicampeões da Copa América, estão apenas em sexto.

Você deve se lembrar que a Bélgica (4º) chegou a liderar o ranking em 2015. E que por isso, se perguntou o que eles podem ter feito para alcançar esta posição. Com uma campanha absurda nas Eliminatórias para a Eurocopa, os belgas foram credenciados a ficar no topo e chegaram com moral na competição, mas caíram nas quartas de final para o País de Gales. Portugal (8º), que venceu a taça, só não somou mais pontos porque fez uma campanha aos trancos e barrancos com apenas três vitórias em sete jogos. A França (7º), que venceu cinco, empatou uma e perdeu outra, já ultrapassou os lusitanos na tabela.

Seria então o caso de equipes sul-americanas serem beneficiadas por esta conta? Afinal, 8 das 10 seleções da Conmebol estão entre as 50 melhores do mundo de acordo com este ranking. Teoricamente, qualquer confronto que não envolva Venezuela ou Bolívia valerá muito mais pontos do que um Alemanha x Gibraltar, por exemplo. O pior colocado sul-americano entre os 50 do topo é o Paraguai, que ocupa o 37º posto. E outra: como não há nenhuma fase classificatória para a Copa América, todos os dez representantes podem ter a chance de vencer e conseguir um resultado de peso 3.0 no ranking. Na Europa, são 54 países lutando por 24 vagas na Eurocopa e 13 na Copa do Mundo (a 14ª é da Rússia, que recebe a edição de 2018), o que diminui para menos da metade o número de times que podem disputar um torneio oficial.

Uma arrancada de Brasil e Argentina até a semifinal de um torneio, que seja, já vale muito mais do que a de um europeu que consegue estar entre os quatro melhores de sua competição continental. É o exemplo do País de Gales, que mesmo com grande campanha nas Eliminatórias e a presença nas semifinais da Euro, ocupa apenas o 11º lugar no ranking. E é esta a aberração presente na ascensão ligeira do Brasil ao segundo posto. A primeira partida sob o comando de Tite foi em 1º de setembro, contra o Equador (19º), com o placar de 3-0. Desde então, foram mais quatro vitórias contra Colômbia (5º), Bolívia (80º), Venezuela (68º) e Argentina (1º).

Como a Argentina declinou bastante e o Brasil voltou a vencer, a diferença entre eles no ranking caiu para apenas 211 pontos. Os argentinos somam 1621, a Alemanha está com 1465 e o Brasil com 1410. Em quesito de comparação, a Argentina lidera mesmo tendo vencido só uma partida de suas cinco últimas (contra o Uruguai, 9º), somando mais duas derrotas e dois empates. A Alemanha, desde que foi eliminada na Eurocopa em 7 de julho, venceu seus cinco jogos (quatro pelas Eliminatórias da Copa) contra Finlândia (101º), Noruega (81º), República Tcheca (40º), Irlanda do Norte (36º) e San Marino (201º).

É possível que vejamos um novo líder em pouco tempo, se a Argentina continuar nesta péssima fase e alemães e brasileiros vencerem seus compromissos nesta Data Fifa que encerra as atividades internacionais de 2016. E enquanto não chega a próxima Copa do Mundo, teremos de nos contentar com um ranking desigual para avaliar quem é a grande seleção do momento. Por tudo que vem mostrando, o Brasil pode até ser um líder justo, mas os pontos e a tabela da Fifa não refletem ou ignoram a crise técnica e a ausência de resultados do fim da Era Dunga, em junho deste ano. Um inferno muito recente para ser desconsiderado.

 

Yahoo

15/11/2016

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