Árbitro que deixou futebol por homofobia diz que muitos sairão do armário

Jesús Tomillero abandona futebol após receber insultos.
Jesús Tomillero abandona futebol após receber insultos.

Há pouco mais de um mês, um jovem árbitro espanhol, Jesús Tomillero, que tem apenas 21 anos e se prepara para exercer tal função há uma década, resolveu abandonar o futebol. Pelo menos por um tempo. O motivo? Homofobia. Depois do golpe inicial, ele buscou se levantar, resolveu comprar a briga, é um militante de sua causa, e, aos poucos, já consegue fazer barulho.

Foram dois incidentes com Jesús. O primeiro em um jogo de categorias de base entre Peña Madridista Linense e Mirador de Algeciras. Após assinalar um impedimento, o roupeiro do time local se dirigiu a ele e o insultou com termos de baixo calão. O agressor levou uma multa de 30 euros (R$ 118). No mês passado, novamente, desta vez na Terceira Divisão Andaluz, entre Recreativo Portuense e San Fernando.

“As pessoas me insultam na rua e no campo como se fosse algo corriqueiro e normal. É realmente muito incômodo”, disse Jesús Tomillero ao LANCE!.

De lá para cá, recebeu apoio, por exemplo de Casillas, e de Carlos del Cerro Grande, um dos principais árbitros da Espanha. Outro que se manifestou favoravelmente foi Pablo Iglesias, candidato à presidência do país.

Porém, reclama que a Federação Andaluz e o Comitê de Árbitros pouco fizeram. Ele resolveu não deixar tudo por isso mesmo e vai se entregar à causa. Criou a associação Roja Directa Andalucía LGTB (Cartão Vermelho Direto), e recebeu um ilustre convite para fazer um discurso no Parlamento Europeu em Bruxelas.

O principal objetivo do jovem árbitro de La Línea de la Concepción, pequena cidade na província de Cádiz, na Andaluzia, é lutar pela igualdade. Ele é filiado ao Partido Popular (PP), o mesmo que fez o convite para ir à capital belga. Aliás, dedicar-se à política é um objetivo que Jesús tem bastante claro, e pretende levar sua luta a todo o país.

Confira abaixo a entrevista completa com Jesús Tomillero.

Depois do que aconteceu e da luta que você começou, acredita que outros profissionais do esporte vão falar mais abertamente sobre a homossexualidade?

Penso que outros árbitros vão falar sobre o assunto depois de mim. São profissionais que têm a obrigação de fazê-lo. É uma situação dizer o que pensa. Muitos vão sair do armário. O mundo do futebol é complicado, tem um ambiente muito machista. Mudar essa mentalidade é uma tarefa ingrata. Mas temos que seguir lutando para cedo ou tarde acabar com o preconceito.

Você teve apoio de jogadores e de outras pessoas relacionadas ao futebol?

O único jogador que me apoiou foi Casillas. Temos apoio de partidos e do presidente do parlamento europeu. Precisamos dos clubes e mais ainda das associações espanholas. No país, falta gente com mentalidade forte e valente contra o preconceito. As pessoas têm medo do que os outros vão pensar. É preciso tomar iniciativa, como foi na Inglaterra.

E entre os árbitros?

Tenho o apoio do árbitro que apitou a final da Copa do Rei, entre Barcelona e Sevilla (Carlos del Cerro Grande). Depois do jogo, ele me convidou para jantar e me ofereceu ajuda. É um grande ídolo que tenho.

E como você viu a reação da federação?

A Federação precisa ser mais enérgica. Multaram as pessoas que me ofenderam em apenas 30 euros (menos de R$ 120). É um valor ridículo. Até uma criança pode pagar. Até agora, muito pouco foi feito.

Você está se movimentando para ser um militante pela causa?

Na Espanha, pensam que um árbitro homossexual não pode apitar uma partida. Contra isso, faço o melhor que posso. Respeito e educação estão acima de tudo. Tenho uma associação na Andaluzia, a primeira de árbitros esportivos no combate à homofobia. Precisamos pensar em leis para não passarmos por episódios desagradáveis de discriminação.

E no campo político?

Temos que resistir no Parlamento Europeu, pressionando para que elaborem leis contra a homofobia. Discutir prisões para comportamentos homofóbicos é fundamental. É momento para trabalharmos em conjunto. Pertenço ao Partido Popular (PP) e estou trabalhando em leis justas para o tema.

O que você fala para um jovem, de qualquer lugar, que é homossexual e está no mundo do futebol?

Que as pessoas não tenham medo de lutar pela igualdade de gênero e sexo. Que sejam livres e pratiquem esporte, sem importar se são heterossexuais, homossexuais ou bissexuais. Isso deveria ser irrelevante.

Site:esporte.uol.

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