Apagamento de mulheres negras através da história

Sendo vistas como peças na engrenagem que mantinha a estrutura escravocrata funcionando, as mulheres não tinham outra escolha a não ser fazer o que lhes mandavam. Foram silenciadas desde cedo e ensinadas a seguir e não a liderar. Já que a outra opção era o açoite, elas obedeciam e trabalhavam, mesmo sobrevivendo em condições precárias, com a intenção de continuarem vivas.

“Nossas cabanas eram velhas e mal-acabadas, feitas de estacas. Algumas fendas eram tapadas com lama e musgo, outras não. Nossas camas não eram boas, só armações de estacas pregadas na parede com velhos colchões rasgados jogados por cima. Claro que era difícil dormir, mas para os nossos ossos cansados depois das longas jornadas de trabalho na lavoura, a sensação era boa. Eu cuidava das crianças quando era pequena e tentava fazer a limpeza da casa como a senhora mandava. E então, assim que fiz dez anos, o senhor disse: ‘Leve essa preta para aquela plantação de algodão’.”, descreveu Jenny Proctor, ex-escravizada.

Apesar das mulheres serem ditas como o ‘sexo frágil’, enxergadas apenas como mães e donas de casa, essa teoria não funcionava para as negras. As únicas vezes que eram vistas como mulheres, era para compará-las a animais reprodutores. Já que os “donos de escravos” lucravam não somente com o trabalho pesado delas, mas também com a venda dos seus filhos.

Esse passado sombrio marcado pela escravidão e por lutas interminaveis é muitas vezes esquecido, ignorado e escondido entre as linhas dos livros de história. É assim que as mulheres negras que viveram essas lutas são apagadas. Dandara, Margarida Maria Alves e Marta Vieira, possuem trajetórias completamente diferentes, mas a luta das três se entrelaça e reflete a garra que a mulher negra é obrigada a ter para sobreviver.

Fabricante de armas. Rainha. Guerreira. Defendeu seu povo e seus ideais. Foi dona de si na vida e na morte. Lutou pelo quilombo tanto quanto seu marido, mas ainda assim é tratada como lenda e escondida atrás da sombra de Zumbi dos Palmares. Quem foi Dandara?

São poucos os documentos sobre seus feitos e existem dúvidas sobre ela ter nascido aqui ou na África. Já que a maioria do que está documentado sobre Dandara está em sites de movimentos negros, “mas o que a historiografia não supre, a literatura busca resolver. As crenças populares abraçam, recriam e a boca do povo favorece”, escreveu a jornalista Dandara Tinoco, para o portal O Globo, em 2014.

Sua história só começou a ser contada a partir do séc. XVII quando já atuava junto ao Zumbi no Quilombo dos Palmares, território esse que, na época, pertencia a Pernambuco e hoje é parte de União dos Palmares, município alagoano. Lá ela ajudava nas estratégias, atuava em batalhas e também participava das atividades do dia a dia, como plantio e caça. Era livre e por escolha decidiu ir em busca da libertação de outros. 

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De acordo com a historiadora Amanda dos Santos Lemos, Dandara também era uma exímia capoeirista e liderava as mulheres palmarinas durante os combates. “Sob sua liderança, parte do exército arrombava senzalas para libertar os negros escravizados e queimava plantações de cana gerando prejuízos aos senhores de escravos”, relata.  

As invasões a Palmares ganharam uma frequência maior, por parte da Holanda, em 1630 e em 1678 Ganga Zumba, filho de Aqualtune, líder da comunidade e tio de Zumbi assinou um “tratado de paz” com o governo da província de Pernambuco que libertava os palmarinos.

Esse acordo se tratava de libertação para eles e de correntes e chicotes para outros irmãos. Eles poderiam comercializar os produtos que produziam – e plantavam – e os palmarinos presos em combates, desde que fossem nascidos no quilombo, também ganhariam liberdade. No entanto, a maior condição era de que eles denunciassem escravizados que escapassem das fazendas.

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Pintura a oléo de Manoel Victor (1955)

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Pintura a oléo de Manoel Victor (1955)

Segundo o escritor Eduardo Fonseca Júnior, esse tratado foi o “estopim que polarizou o povo palmarino e culminou na ascensão da liderança de Zumbi”, que assumiu o comando do quilombo com o apoio de Dandara. Ela queria mais do que uma aliança que os forçava a entregar outros irmãos ao tronco. Ganga Zumba foi envenenado por palmarinos insatisfeitos no mesmo ano que assinou o ajuste.

Em seis de fevereiro de 1694 o Quilombo dos Palmares foi atacado e os três filhos que ela teve com Zumbi – Motumbo, Harmódio e Aristogíton – foram mortos em combate. Dandara foi encurralada e a tradição oral, reforçada pelos historiadores, conta que ela pulou de um penhasco, pois como sempre foi dona de seu destino preferiu a morte do que a senzala.

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Foto: Reprodução/ Internet

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Foto: Reprodução/ Internet

Depois de sua morte, Zumbi reconstruiu o quilombo e ela foi esquecida no abismo do imaginário popular, apagada atrás da grandeza instituída a seu marido. Seu nome significa princesa guerreira, mas ela tomou posse de rainha e está marcada nas raízes do Brasil.

Dandara é exemplo para as lutadoras e abolicionistas que vieram a seguir e tomaram sua vida e morte como um tributo contra a escravidão. Mas mesmo depois de tantos anos ainda tentam apagar sua história.

Uma prova disso pode ser vista em Maceió. O nome de Dandara foi dado a uma praça, localizada no bairro da Jatiúca, em 1995, com a intenção de homenageá-la e de resgatar sua luta. O local passou a ser um ponto de encontro para jovens e movimentos sociais negros que constantemente realizavam manifestações da cultura afro-brasileira no local. Mas desde 2019, um projeto que visa mudar o nome da praça começou a tramitar na Câmara de Vereadores.

A intenção de alguns parlamentares é mudar o nome para Nossa Senhora da Rosa Mística, que é uma igreja católica que fica situada na praça. Ação que segundo o Ministério Público do Estado de Alagoas fere os artigos 215 e 216 da Constituição Federal.

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No dia 13 de maio de 2021 o MPE ajuizou uma ação civil pública, com tutela provisória de urgência, contra o Município de Maceió e a Câmara de Vereadores, com o intuito de manter o nome da praça, impedir o crime de racismo ambiental e afastar a inconstitucionalidade da lei municipal. Caso seja descumprido uma multa no valor de R$ 1.000,00 deverá ser paga ao MPE por dia de descumprimento.

“Caso essa lei criada para substituir o nome da praça viesse a prevalecer estaríamos diante da materialização de uma das nefastas facetas do racismo, nesse caso o ambiental, uma ofensa ao princípio da laicidade religiosa, sem falarmos na violência contra os aspectos históricos e culturais, protegidos pela constituição”, declarou o promotor de justiça Jorge Doria.

Mesmo depois de mortas as memórias das mulheres negras continuam sendo anuladas. Precisando ser defendidas contra o racismo enraizado na sociedade e as tentativas de invalidar suas trajetórias as reduzindo ao silêncio.

Era fim de tarde, ela estava na janela vendo seu filho pequeno se divertir em frente a sua casa. Os vizinhos seguindo a vida e conversando nas calçadas. Até que todo o ruído se fez silêncio e do silêncio irrompeu um estrondo. Uma espingarda carregada de pregos enferrujados, um único tiro no rosto e um recado.

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Casa onde Margarida Maria Alves foi assassinada

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Casa onde Margarida Maria Alves foi assassinada

Margarida Maria Alves morreu porque não tinha medo de defender os direitos do seu povo. Ela era líder dos trabalhadores rurais de Alagoa Grande, Paraíba, e sua morte, sete dias depois dela ter completado 40 anos, foi uma tentativa de silenciar uma luta que persiste até hoje. Em honra a sua memória, a Marcha das Margaridas foi fundada para continuar defendendo os camponeses da exploração.

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A última Marcha das Margaridas realizada nas ruas foi em 2019 (Foto: Reprodução/ Facebook)

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A última Marcha das Margaridas realizada nas ruas foi em 2019 (Foto: Reprodução/ Facebook)

“Eles [latifundiários] estão com medo da nossa organização e da nossa união, porque eles sabem que podem cair oito ou dez pessoas, mas jamais cairão todos diante da luta por aquilo que é de direito devido ao trabalhador rural, que vive marginalizado debaixo dos pés deles”, afirmou Margarida em um discurso feito em 1° de maio de 1983, cerca de oito meses antes de ser assassinada.

Ela nasceu em cinco de agosto de 1943, na Paraíba e viveu a vida toda no Brejo Paraibano. Que é uma das áreas com o maior índice de violência em 1983, ano de sua morte, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA)

Foi a caçula de nove filhos de Alexandrina Conceição e Manuel Lourenço Alves. Com oito anos começou a trabalhar na lavoura para ajudar com o sustento da casa e por ser um serviço que exige tempo, precisou deixar a escola tendo estudado apenas até a quarta série do ensino fundamental. Também era rendeira e fazia de tudo para garantir a renda da sua família.

Aos 28 anos casou-se com Severino Casimiro Alves e com 32 anos, em 1975, teve seu primeiro filho que batizou de José de Arimatéia. Na mesma época em que nasceu seu filho, ela ingressou na política já trazendo revolução, sendo a primeira mulher a ocupar o cargo de presidência do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande (PB).

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Sindicado dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande (Foto: Reprodução/Internet)

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Sindicado dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande (Foto: Reprodução/Internet)

Margarida ficou dez anos à frente do sindicato e neste período moveu mais de 600 processos trabalhistas contra fazendeiros e donos de usinas, com a intenção de assegurar aos trabalhadores rurais os direitos que deveriam lhes ser garantidos.

Ela lutava por jornada justa de trabalho, seguindo as oito horas diárias, carteira assinada, férias e 13° salário. Quando foi assassinada haviam 72 ações que ela moveu correndo na Justiça. Outro dos seus feitos foi fundar o Centro de Educação e Cultura do Trabalhador Rural, para incentivar a agricultura familiar.

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(Foto: Arquivo/ Contag)

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(Foto: Arquivo/ Contag)

Enfrentou o Grupo da Várzea, que contava com a participação de sessenta fazendeiros. O grupo tinha seus interesses defendidos por cinco deputados estaduais, três federais, e cinquenta prefeitos. Seu maior conflito foi com Aguinaldo Veloso Borges, que liderava o Grupo da Várzea e era dono da Usina Tanques, a maior da região. O genro de Aguinaldo, José Buarque de Gusmão Neto, foi acusado de contratar o pistoleiro de aluguel que matou Margarida.

Sua determinação e luta foram os motivos de seu assassinato. Cerca de duas mil pessoas foram ao seu enterro e cinco mil na sua missa de sétimo dia. Foram carroças, cavalos, caminhões e pessoas a pé, todos em marcha. 

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Notícia sobre um protesto realizado no dia da missa de sétimo de Margarida. (Foto: Reprodução/ Internet)

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Notícia sobre um protesto realizado no dia da missa de sétimo de Margarida. (Foto: Reprodução/ Internet)

“Do sangue derramado de Margarida outras Margaridas nascerão!”, dizia a faixa colocada em praça pública em sua homenagem. E hoje ela é lembrança, exemplo e expressão. Já que as camponesas de Paraíba se intitulam de “fortes como uma margarida”.

12 de agosto de 1983, data de sua morte, é considerado o Dia Nacional de Luta Contra a Violência no Campo e Pela Reforma Agrária. Em 1988 ela ganhou o prêmio Pax Christi Internacional e em 2002 a Medalha Chico Mendes de Resistência. Todos prêmios póstumos. Seu nome também foi dado à Fundação de Defesa dos Direitos Humanos de João Pessoa, capital da Paraíba.

O maior prêmio que seria a prisão dos mandantes, ainda não foi conquistado, este ano em agosto fizeram 38 anos de que sua morte foi abafada, os culpados vivem suas vidas enquanto ela virou memória. Margarida foi incluída, pelo Ministério da Justiça, na lista de anistiados políticos no ano de 2016. E continua presente, resistente em todas as mulheres e camponeses que persistem na luta seguindo seu legado.

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Foto: Arquivo Pessoal

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Foto: Arquivo Pessoal

“Não fugimos da luta, e é mais fácil vocês ficarem sabendo que morremos do que fugimos correndo. Vamos conquistar os nossos direitos”,  disse Margarida num ato organizado em 1° de maio de 1983.


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“Me chamavam de mulher-macho. Muito preconceito. Cidade do interior, todo mundo te conhece. E naquela época meninas nunca jogavam bola. Jogavam handebol, vôlei, qualquer outra coisa. Eu era a única na cidade que gostava de jogar futebol. Aquilo era absurdo para os moradores. Muita gente falava mal de mim, perguntava: ‘Como a mãe dela deixa? Como os irmãos deixam? “ ‘, disse Marta em uma entrevista concedida à Revista Trip em 16 de julho de 2014.

Marta teve uma infância pobre, é a mais nova de seis filhos e nasceu em Dois Riachos, município do sertão de Alagoas localizado a cerca de 155 quilômetros da capital Maceió. Foi abandonada pelo pai ainda criança e sua mãe, Tereza, criou ela os irmãos sozinha.

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Nessa época ela já precisava se esconder só por ser uma mulher jogando futebol (Foto: Arquivo Pessoal)

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Nessa época ela já precisava se esconder só por ser uma mulher jogando futebol (Foto: Arquivo Pessoal)

Só entrou na escola aos nove anos, pois a família não tinha condições financeiras nem para comprar o material escolar.  Mas aos seis anos se interessou pelo futebol, jogava com os primos na casa de sua avó, onde ficava enquanto a mãe estava trabalhando.

Era a única menina do time da escola e futuramente seus treinos aconteceriam de maneira improvisada, embaixo de uma ponte. Jogava escondido por sofrer preconceito, já que os moradores conservadores da região consideravam ousadia ela querer jogar futebol e a chamavam de “mulher macho”.

“Isso será apenas o começo, porque você vai ser parte de algo maior. Você vai ser parte da mudança do futebol feminino. De mostrar para outras meninas que sentiram que não pertenciam, que elas, sim, pertencem,” refletiu Marta em uma carta escrita em 2017 para sua versão de 14 anos.

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Entrada da cidade de Dois Riachos (Foto: Reprodução/ Internet)

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Entrada da cidade de Dois Riachos (Foto: Reprodução/ Internet)

Em um de seus jogos, o professor de outra escola ameaçou tirar seu time de campo se ela fosse jogar no campeonato local. A pequena Marta nunca imaginaria que depois de todo o preconceito sofrido em sua cidade natal o seu nome estaria estampado na entrada de Dois Riachos, que agora é a “ terra da jogadora Marta”. Terra onde sua mãe mora até hoje e para onde ela pretende voltar depois que se aposentar.

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Foto: El País

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Foto: El País

Ela coleciona títulos, sendo a pessoa que ganhou mais vezes o prêmio de Melhor do Mundo da Fifa. Também é a melhor jogadora da história do futebol feminino e a maior artilheira da Copa do Mundo de futebol feminino. Outro grande título é o de maior artilheira da seleção brasileira, superando Pelé.  

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Prêmios conquistados por Marta

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Prêmios conquistados por Marta

Marta lutou contra o machismo e contra todos que disseram que ela não seria capaz de alcançar seus sonhos. A sua pequena versão não escutou as palavras de encorajamento que ela escreveu numa carta em 2017,  mas meninas de agora escutam e a enxergam como modelo de garra e de mulher.

 “Lute contra o preconceito. Lute contra a falta de apoio. Lute contra tudo isso — os meninos, as pessoas que dizem que você não pode.” 

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Infográfico sobre a carreira da Rainha Marta

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Infográfico sobre a carreira da Rainha Marta

Ela não é sinônimo de representatividade somente nos campos, mas também fora deles. Em janeiro deste ano Marta anunciou seu noivado com sua companheira de time Toni Deion Pressley.  “Mais um capítulo da história que estamos escrevendo juntas”, anunciou a jogadora através das redes sociais. Mostrando mais uma vez que nasceu para derrubar as barreiras do preconceito. Apesar de conquistar tanto e de ter ganho nove troféus, sendo seis vezes a melhor jogadora de futebol do mundo. Seu salário não se compara ao de jogadores como Messi, Cristiano Ronaldo e Neymar.

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Em 2017, jogando pela seleção brasileira, Marta marcou 103 gols e seu salário anual era de U$ 400 mil dólares (R$ 2,1 milhões de reais). Isolado, esse valor pode não parecer baixo, mas comparando com o salário de Neymar em 2017 a diferença é nítida. Ele marcou apenas 50 gols pelo Brasil neste ano, tendo uma média de gols cerca 48,56% menor que a de Marta. Seu rendimento foi baixo, mas seu salário de U$ 14,5 (R$76,5 milhões) anuais, reflete o machismo e a desvalorização das mulheres no ramo.

Outras questões a serem abordadas na diferença de salário é a escassez de patrocínio e falta de mulheres em cargos de liderança no futebol. Seja na Confederação Brasileira de Futebol (CBF), nas federações estaduais, nas diretorias dos clubes, na arbitragem ou em qualquer departamento que envolve o futebol feminino. Elas não estão no comando e por isso são obrigadas a aceitar decisões masculinas sobre suas carreiras.

A trajetória de Marta é um retrato do preconceito que está enraizado na sociedade brasileira. Seu passado sofrido de precisar se esconder para fazer o que gosta se tornou apenas uma lembrança dolorida. Agora ela é exemplo, não somente de profissional como de mulher, para todas que desejam alçar voos mais altos num presente de novas lutas.

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