Abrigo de inúmeras espécies ameaçadas, Esec de Murici completa 20 anos de criação

A Estação Ecológica (Esec) de Murici, em Alagoas, completou 20 anos de criação na última sexta-feira (28/05). A unidade de conservação, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), preserva os remanescentes do ecossistema de Mata Atlântica nordestina, e inúmeros animais endêmicos e em risco de extinção. Nos últimos anos, a gestão da Unidade de Conservação (UC) tem reforçado ações de proteção à fauna. Entre as ações estão o aumento da fiscalização, criação do corredor ecológico, soltura de milhares de animais resgatados, incentivo à pesquisa, educação ambiental, monitoramento diário dentro da Esec e a parceria com os órgãos ambientais como o Instituto de Meio Ambiente de Alagoas (IMA) e o Batalhão de Polícia Militar Ambiental de Alagoas (BPA) nas operações de combate aos crimes ambientais.

“Temos muitos motivos para comemorar essa data, pois avançamos muito na proteção e na conservação da UC, mas temos desafios como a construção de uma sede administrativa dentro da unidade, ajudando a inibir de forma mais contundente a presença de pessoas estranhas na Esec.”, ressalta o chefe da Esec de Murici, Marco Freitas.

Segundo ele, o ICMBio, com o apoio dos parceiros, realiza seis grandes operações de fiscalização por ano que envolvem os municípios que compõem a APA e a Esec. Essas ações têm reduzido a caça dentro da unidade e o aprisionamento de pássaros silvestres dentro de gaiolas, além da equipe perceber um aumento significativo de animais cinegéticos dentro da unidade. De 2017 até maio, foram realizadas, em parceria com o IMA e o BPA, 26 operações de fiscalização que duraram, em média, seis dias.

“A parceria com os órgãos ambientais permitiu o reforço e a ampliação ao combate dos crimes ambientais nos dez municípios do entorno da Esec, promovendo uma proteção mais efetiva aos animais. Além da conservação das nascentes de água, importantes para o abastecimento na região, e a manter a integridade física da vegetação, e das florestas”, ressalta Freitas.

Segundo o balanço das ações de fiscalização do período de janeiro de 2009 até maio de 2021, o ICMBio aplicou 143 multas por crimes ambientais. Neste período, as ações de fiscalização resgataram e soltaram na natureza 3.900 aves, além da apreensão de 160 espingardas, 141 armadilhas de disparo, 171 tatuzeiras, 4.650 gaiolas, tatuzeiras e alçapões, 145 bichos abatidos (como tatu-verdadeiro, cuandu, paca, cutia, preá, quati, entre outros), e ainda 48 pessoas foram presas em flagrante.

Educação ambiental

A educação ambiental é um dos objetivos da gestão da unidade de conservação. Para isso, tem um grupo de voluntários que está mudando o modo de produção agrícola tradicional atualmente em prática para uma produção de alimentos de forma mais sustentável em duas comunidades de assentamento do entorno da unidade de conservação. No ano passado, foram plantadas 270 mudas, doadas pelo Instituto para a Preservação da Mata Atlântica (IPMA) no assentamento Dom Helder. O grupo de voluntários também plantou 125 árvores na Escola Estadual Professora Benedita Maria Rufino de Chagas Coelho em Murici. As mudas de quatro espécies nativas (sabonete, ingá, ipê rosa e aroeirinha) foram doadas também pelo IPMA. “Foi um reflorestamento urbano e paisagístico, além de um trabalho social e ecológico”, explica Freitas.

Incentivo à pesquisa

A UC, com 6.131 hectares, tem incentivado a pesquisa científica dentro da unidade. A região de Murici é considerada a mais rica em espécies de aves endêmicas e ameaçadas de extinção das três Américas. Recentemente, os pesquisadores descobriram duas espécies de aves endêmicas na Esec, e que já estão ameaçadas de extinção, a surucuá-de-murici (da família Trogonídae) e a corujinha-de-alagoas. A estimativa é de que existem apenas 90 casais de surucuá-de-murici, que foi descrita em um artigo em março deste ano, no Zoological Jounal of the Linnean Society. Já a corujinha-de-alagoas, criticamente ameaçada de extinção, vive restrita nas florestas de mata atlântica no estado de Alagoas e Pernambuco.

A Esec de Murici protege mais de 17 aves ameaçadas de extinção global e outras 31 ameaçadas de extinção em nível nacional. Uma destas aves é a choquinha-de-alagoas com cerca de 20 indivíduos conhecidos, e vive somente em um lugar específico dentro da UC. Atualmente, o pássaro mobiliza pesquisadores e conservacionistas de diversas instituições para reverter o destino de desaparecimento da espécie, que perdeu habitat por conta do desmatamento. A unidade abriga outras aves criticamente ameaçadas de extinção como o zidedê-do-nordeste, o cara-pintada, o jacu-de-alagoas, o vira-folha-pardo e o rabo-branco-de-margarette. “Por isso, nosso cuidado tem sido extremo dentro da unidade, já que essas aves vivem numa área restrita dentro da unidade”, complementa Freitas.

Região rica em espécies endêmicas

A Esec de Murici abriga a jararaca-de-murici (Bothrops muriciensis), que é endêmica, ameaçada de extinção, com poucos indivíduos, e ocorre em floresta ombrófila densa. A unidade também protege o macaco guariba, espécie de hábitos herbívoros que tem como característica marcante o som emitido pelos machos que pode ser escutado a longas distâncias. A unidade é o lar do menor tamanduá (Cyclops) do mundo, que tem apenas 400 gramas de peso, de hábitos noturnos, descansa durante o dia entre as copas de árvores. Ainda entre os mamíferos se destacam como ameaçados de extinção quatro espécies de gato do mato, incluído a jaguatirica, a lontra e o cuandu-mirim, espécie ainda frequente, mas, que dependem totalmente das matas do Centro de Endemismo de Pernambuco, principalmente, em Alagoas e Pernambuco.

Na unidade de conservação têm ainda mamíferos como o porco do mato “caititu”, veado e a paca, sendo essas espécies extintas da maioria das áreas ainda florestadas do Nordeste. Já quanto aos anfíbios e répteis, existem na região pelo menos cinco espécies de anfíbios anuros (sapos e pererecas) endêmicos e ameaçados de extinção, além da jararaca-de-Murici.

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