Temer parte para ofensiva em última chance de salvar mandato

Temer parte para ofensiva em última chance de salvar mandato

Michel Temer tomou neste domingo (28/05) a ação mais explícita para salvar seu mandato. Em meio à crise provocada pela delação da JBS, o presidente decidiu tirar Osmar Serraglio do Ministério da Justiça e colocar no seu lugar Torquato Jardim, que ocupava o Ministério da Transparência, Fiscalização e Controladoria-Geral da União. Serraglio deve ser remanejado para antiga pasta de Jardim.

Com pouco experiência em áreas cruciais da Justiça, como segurança pública e administração penitenciária, Torquato Jardim é mais conhecido pela sua atuação de décadas em questões eleitorais. Ele já foi ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) entre 1988 e 1996 e é reconhecido por ter bom trânsito entre os membros do Supremo Tribunal Federal (STF), atesta o Terra.

A troca de cargos promovida por Temer ocorreu justamente a menos de dez dias da retomada pelo TSE do julgamento da ação que pode resultar na cassação da chapa Dilma-Temer 2014.

Semanas atrás, o Planalto estava confiante que o resultado do julgamento seria favorável para Temer ou que a ação seria pelo menos postergada indefinidamente. Com a delação da JBS, que implicou diretamente o presidente, o cálculo parece ter mudado. O meio político aposta que é certo que a chapa agora será condenada.

Restam dúvidas se a presença de uma figura como Jardim em um ministério tao importante poderá mesmo influenciar de alguma maneira o julgamento. Tradicionalmente, a pasta da Justiça é o canal de interlocução entre o Executivo e o Judiciário.

Em outra frente, a sua nomeação causa preocupação. Como o ministro da Justiça é o responsável por nomear o diretor-geral da Polícia Federal, já foi levantada a hipótese de que Jardim pretende trocar a cúpula da corporação, justamente em um momento em que o presidente é investigado pelo seu comportamento em relação à JBS.

A nomeação de Jardim já acendeu o sinal amarelo entre os delegados. Em nota, o presidente da Associação Nacional dos Delegados de Policia Federal (ADPF), Carlos Eduardo Sobral, disse “demonstrar preocupação” com a notícia da substituição:

“Os delegados de Policia Federal foram surpreendidos com a notícia da substituição, até mesmo porque desconhecem qualquer proposta de Torquato Jardim para a pasta.”

A posição de Sobral é oposta a que ocorreu quando Serraglio foi indicado para o cargo, em fevereiro. À época, a nota do chefe da ADPF parabenizou Serraglio e fez elogios a sua atuação como deputado.

Segundo o analista político Gaspard Estrada, da Sciences Po, de Paris, a troca do ministro evidencia que Temer se sente acuado. “Não é um presidente que tomou a decisão, mas um investigado pela Justiça que luta para preservar seu mandato”, opina. “Ele tenta se preparar para o pior.”

Serraglio, um deputado do Paraná ligado à bancada ruralista, raramente aparecia para defender o governo. Citado na Operação Carne Fraca, ele acabou se notabilizando pelas suas críticas a índios. Nos bastidores, era considerado fraco e sem controle sobre a Polícia Federal. Em uma das gravações da JBS, o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG), principal promotor da entrada dos tucanos no governo Temer, chamou Serraglio de “bosta” e disse que sua nomeação foi um “erro” de Temer porque o então ministro não nomeou “delegados amigos”.

29/05/2017

Jornal Rede Repórter - Click e confira!




Botão Voltar ao topo