Síndrome do pânico: quando o medo bate à porta

O coração disparou. O ar faltava. Parecia que não entrava no corpo. A mão formigava. Não estava calor, mas, de repente, ela suava. A sensação é de quase morte. Uma tontura. Uma fraqueza esquisita.

Você tenta se mexer, mas a alma não vai junto. Um aperto no peito lhe comunicava: era o fim. A vontade era de chorar. Mas assim? Na frente de todo mundo? Na rua? Desprotegida? Ou pior ainda, na frente dos filhos? Deixar as criaturas angustiadas sem saber o que fazer?

Podia ser um enfarte? Um princípio de AVC? Sim. Mas também pode ser uma crise de pânico. Os sintomas são físicos. Mas as causas, não. As emoções surgem como um tsunami. Saem destruindo tudo em volta. A sensação é de caos. De perda de controle da própria vida.

Quando virão? Onde? Com que intensidade? Esse é o medo de quem sofre de síndrome do pânico. Você tem um inimigo interno e não sabe quando será atacado. Apesar de ser interno, você não tem sobre ele o menor controle. Ao contrário, ele é que te controla.

O pânico é o dono do jogo. Você? Um triste fantoche. Sua vida não será mais a mesma. O medo é seu fiel companheiro. E vai cerceando sua vida inteira. Pequenos temores fazem com que você não consiga mais pegar um elevador. Ir ao cinema. Ficar em lugares muito movimentados, diz o Extra.

As crises não são longas. Duram, em média, dez minutos. Talvez o certo seja dizer que as crises não são longas para quem não sofre de síndrome do pânico. Para quem sofre, dez minutos podem ser uma eternidade.

Sem falar na ressaca que dá depois. Uma leseira, uma tristeza. Uma sensação de impotência. Impotência por não ter controle dos afetos, do próprio corpo, da própria vida. Bem difícil.

Você pode ter um ataque de síndrome do pânico uma única vez na vida. Para muitas, entretanto, as crises se repetem. É frequente a pessoa ir se isolando, ficando mais reclusa, em casa, fugindo de riscos de novas crises.

A síndrome do pânico é o organismo se defendendo de uma quantidade insuportável de angústia. Imagine uma panela de pressão. Quando tudo funciona bem, a fumaça sai pela válvula. Vai saindo aos poucos e mantém a pressão em nível suportável.

Quando a válvula dá defeito, a pressão não sai. Vai ficando presa dentro da panela até que a pressão seja tão insuportável que a panela explode. Voa feijão pelos ares, pelo teto, pelo chão. Isso é a crise do pânico.

A gente acha que aguenta o tranco. Não fala. Não desabafa. Não faz uma terapia, apesar de já não estar suportando a pressão. A gente acha que dá conta. Que vai passar. Mas não passa. A gente empurra com a barriga, até que explode numa crise de pânico.

A crise de pânico é um pedido de socorro que o corpo manda. Como se dissesse:

– Preste atenção, criatura. Você não aguenta mais. Busque ajuda.

Há duas ajudas para quem sofre (e como sofre) de síndrome do pânico. Uma é buscar um psiquiatra e começar com a medicação.

– Vou tomar tarja preta? Estou maluco agora?

Psiquiatras não são para malucos. São para pessoas que sofrem. A medicação entra para diminuir a intensidade dos afetos. Deixar a vida num nível mais suportável.

A segunda ajuda é a psicoterapia. A terapia é o processo de elaboração dos seus afetos. Uma forma de se conhecer melhor. Repensar sentimentos e atitudes. Reavaliar relações. Reler seu passado. Replanejar seu futuro.

Com a medicação e a psicoterapia, você vai aprendendo a lidar com seus medos e sua ansiedade. O pânico não aparece à toa. Ele tem um simbolismo. Ele precisa ser compreendido para ser controlado.

O início dos ataques de pânico começa com a mudança na respiração. O mais comum é a gente focar nas mudanças que começam a acontecer. E meio que se afogar nelas. Náuseas, irritação, tremedeiras, dores, tonteiras.

Se você perceber uma crise se aproximando, busque um lugar seguro. Sente. Respire fundo. Respire profundamente. Não é fácil, mas não se desespere. Tente manter a calma. Pode não parecer, mas vai passar. Sempre passa.

O medo é corrente pesada que a gente arrasta sem vontade de arrastar. Sem coragem de olhar para ver como se livrar dele. O medo pode proteger, sim. Evita perigos, faz com que se tenha cuidados. Ele é bom. Mas não nesse caso.

O medo não costuma ser bom companheiro. Come a pessoa quando a pessoa se nega a enfrentá-lo . Encare de frente. Olhe para dentro. Escute seu coração aflito. Ele tem muito a te contar.

Alguns caminhos são duros de se percorrer sozinho. Buscar ajuda não é fraqueza, nem covardia. Terapia é para os fortes. Para os que têm coragem e fome de viver. Para os que têm esperança numa vida mais leve. Não passe por isso sozinho. Procure ajuda.

11/10/2018

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