Produtores rurais bloqueiam principais estradas da França em protesto contra políticas do governo em impasse com acordo Mercosul-União Europeia

O bloqueio das principais estradas da França que chegam a Paris, convocado por produtores rurais, é o ápice de uma disputa de 11 dias entre o governo e representantes da categoria, que cobram medidas práticas para auxiliar o setor e tornar a produção menos custosa e mais competitiva. No cerne das pautas apresentadas pelos produtores, ao menos uma delas tem ligação com a política internacional: o acordo União Europeia-Mercosul.

O setor agrícola é culturalmente importante na França, embora o seu peso no PIB tenha caído drasticamente: de 18,1% em 1949, no período de reconstrução após a Segunda Guerra Mundial, para 2,1% em 2022, segundo dados oficiais. Apesar da queda de representatividade, ainda exerce influência importante na política interna e regional.

A negociação entre os blocos europeu e sul-americano se arrasta desde 1999, com a pressão dos setores agrícolas europeus — em grande parte, o francês — sendo apontada como analistas como um dos fatores-chave para nunca ter sido assinado. Enquanto os produtores europeus exigem de seus governos vantagens competitivas para suportar a entrada da produção estrangeira no bloco, os negociadores americanos denunciam as práticas como barreiras protecionistas, que prejudicariam os setores mais competitivos de países como Brasil, Argentina e Uruguai.

O impasse foi o principal ponto de discussão entre o governo brasileiro e o bloco europeu no ano passado, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pressionou seus sócios sul-americanos a não assinar os termos de uma side letter — espécie de adendo — proposta pelos europeus, para impor punição aos países que não cumprissem os termos do Acordo de Paris. Na época, Lula culpou os franceses pela cláusula, classificou os termos como “inaceitáveis” e disse que nem mesmo os países europeus cumpriam as metas do acordo sobre redução de emissão de carbono.

Em meio aos protestos, uma série de atores declararam apoio aos produtores. Na manhã desta segunda-feira, o Greenpeace exibiu uma faixa na Pont de la Concorde, em Paris, com o slogan: “Apoio aos agricultores. Parem os acordos de livre comércio”. O ministro da Agricultura, Marc Fesneau, indicou que novas medidas estão previstas para ser anunciadas “em 48 horas”.

O Gabinete de Macron tenta apresentar resposta às demandas internas. O premier Gabriel Attal anunciou uma série de medidas, como a eliminação do aumento da taxa do diesel para uso não agrícola e a ajuda a setores em crise. Ele também garantiu que não aprovaria a assinatura do acordo comercial negociado desde 1999 entre a UE e o Mercosul, mas os sindicatos consideraram as medidas insuficentes, e a pressão permaneceu. O setor produtivo na Espanha já anunciou protestos a partir da próxima semana.

O setor agrícola encampa batalhas similares em toda a Europa. Países como Alemanha, Polônia e Romênia enfrentam questionamentos, enquanto agricultores da Bélgica bloquearam uma importante rodovia no domingo, usando tratores, para apelar a mudanças na Política Agrícola Comum europeia (PAC).

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