Preto na final: Nayara insere discussão racial no BBB18

É sempre potencialmente inflamável abordar a questão racial em um País onde muitos negros preferem se declarar brancos e muitos brancos optam ignorar o racismo praticado no dia a dia.

Mas quando uma situação ocorre em horário nobre da TV, omitir-se deixa de ser uma alternativa. Lá vamos nós para a primeira controvérsia da décima oitava edição do ‘Big Brother Brasil’.

Na noite de domingo (4), durante a formação do Paredão, a jornalista Nayara usou o critério de raça para definir em quem votaria, diz o Terra.

“Eu voto no Mahmoud. Ele já me disse que, até por não ter tanto contato com o Viegas, votaria no Viegas”, disse a Tiago Leifert.

E então ela explicou: “Por ele (Mahmoud) representar uma ameaça a um candidato preto (Viegas), e eu gostaria muito de ver um dia um preto vencendo esse ‘BBB’, ou que consiga chegar mais perto, por esse motivo me sinto no dever de votar no Mahmoud”.

O voto de Nayara ajudou a colocar o sexólogo no Paredão, ao lado de Gleici e Jaqueline.

Ainda que seja visto como o País mais miscigenado do planeta, o Brasil possui uma peculiaridade: aqui, o conceito de raça está intrinsecamente ligado à aparência (o fenótipo).

Muitos negros não são considerados negros apenas por terem cabelo liso, ou nariz afilado, ou pele mais clara. Fora daqui, não há essa distinção às vezes tão conveniente.

No ‘BBB18’, Nayara e Viegas se destacam por terem características mais explícitas de negritude, ainda que outros competidores certamente sejam – em maior ou menor grau – afrodescendentes.

Não há nada de errado em tentar preservar o que muitos chamam de ‘cota de negros’ no ‘Big Brother’, mas quando isso é defendido de maneira tão veemente suscita necessária discussão sobre o tema.

Nayara erra ao insinuar que nunca houve um campeão negro no ‘BBB’. A babá Cida, da quarta edição, e a auxiliar de enfermagem Mara, da sexta temporada, podem ser consideradas negras, ainda que no Brasil sejam chamadas de ‘morenas’. Jean Wyllys, vencedor do ‘BBB5’, é afrodescendente.

Compreende-se que Nayara queira ver um campeão com a pele no mesmo tom que a dela e cabelo assumidamente crespo, algo nunca ocorrido no reality show mais amado e odiado da televisão brasileira.

Resta saber se o seu discurso racial e a cumplicidade com Viegas, baseada na etnia de ambos, serão assimilados e apoiados pelos telespectadores votantes.

Não deixa de ser estranho – e tão simbólico – que em um País com 54% de população negra, ter um ‘preto’ como vencedor de um programa de TV seja uma reivindicação social.

05/02/2018

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