PMs suspeitos de matar adolescente a tiros alegam legítima defesa, diz delegado

Três agentes, que estão presos, afirmaram que o pai do garoto, também baleado, atirou primeiro. Militares apontaram ainda ter informação de que casa era ponto de venda de drogas, em Goiânia.

Os três policiais militares presos suspeitos de matar a tiros o estudante Roberto Campos da Silva, de 16 anos, alegaram que agiram em legítima defesa, segundo o delegado responsável pelo caso, Marco Aurélio Euzébio Ferreira. O crime ocorreu na casa onde a vítima morava com a família, no Residencial Vale do Araguaia, em Goiânia. Segundo ele, os agentes também disseram que receberam informações de que no local funcionava um ponto de venda de drogas.

De acordo com Ferreira, os militares Paulo Antônio de Souza Junior, Rogério Rangel Araújo Silva e Cláudio Henrique da Silva alegam que o pai do adolescente, o mecânico Roberto Lourenço da Silva, de 42 anos, também baleado, atirou primeiro. “Eles disseram que revidaram os disparos, houve uma troca de tiros e, no confronto, pai e filho foram atingidos”, disse ao G1.

Segundo o delegado, Roberto realmente estava armado. No entanto, a madrastra do adolescente e o filho dela, de 14 anos, que estavam na casa e presenciaram o crime, já tinham confirmado esse fato e explicaram que o homem adquiriu o revólver para defesa pessoal depois que foi vítima de um assalto. As duas testemunhas ressaltaram em depoimento que os policiais já chegaram atirando.

O adolescente aconteceu na noite de segunda-feira (17). Segundo a Polícia Civil, os militares invadiram a casa da família e balearam pai e filho. O garoto, conhecido como Robertinho, morreu no local. Já o mecânico foi socorrido e levado ao Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo). O estado de saúde dele é considerado regular.

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública e Administração Penitenciária (SSPAP) informou que os policiais já foram ouvidos pela Corregedoria da Polícia Militar, que apura as circunstâncias do fato e acompanhará todo o trâmite legal.

Também em nota, a Polícia Militar de Goiás informou que os militares “encontram-se detidos no Presídio Militar”.

Desespero

Um vídeo gravado logo após o crime mostra o desespero da madrasta do adolescente. Nas imagens é possível ver que a mulher afirma que a casa foi invadida e alvejada por policiais militares e até questiona um homem, que seria um dos agentes, sobre os motivos (assista acima).

“Ai meu Pai do Céu. O Robertinho está lá caído no chão, meu Pai. Como é que fazem uma coisa dessas, a gente estava dentro de casa, sem fazer nada, aí chega a polícia atirando. Mataram o menino que não fez nada, é estudante”, disse. Em seguida, ela questiona o homem: “Porque você desligou a energia da nossa casa, moço? Você está mentindo, você desligou. O vizinho está de prova”, argumentou a mulher.

De acordo com a madrasta, a família estava em casa quando todas as luzes se apagaram. Assim, o pai e o menor saíram para ver o que tinha acontecido e ela e os outros dois filhos do casal, de 14 e 8 anos, ficaram no interior do imóvel.

Segundo a mulher, ao sair, as vítimas perceberam que todos os outros vizinhos tinham energia e já ficaram apreensivos, pois a família foi vítima de um assalto há três meses, quando foi feita refém e teve um carro roubado. Desde então, o pai comprou uma arma para se defender.

“Meu esposo colocou a escada no muro para ver o que tinha acontecido. Em seguida ele pegou a arma e foi em direção ao portão. Daí para frente só ouvi tiro de fora para dentro”, contou ela.

A mulher relatou que homens que estavam do lado de fora exigiam que Roberto Lourenço abrisse o portão, mas ele se recusou. “Primeiro eles atiraram do lado de fora, metralharam tudo, depois falaram para abrir o portão. Meu esposo se negou porque achou que fossem assaltantes. Quando atiraram do lado de fora já atingiram meu esposo e meu enteado. Eles arrombaram o portão e entraram atirando”, contou.

Drogas

De acordo com o delegado, os policiais, pertencentes ao Serviço Reservado da PM, tentaram justificar o motivo que os levaram a entrar na residência. “Eles disseram que receberam uma informação de que no local funcionava um ponto de venda de tráfico de drogas. Porém, não revelaram de onde nem como tiveram acesso a essa suspeita. No local, também não foi encontrado nenhum tipo de entorpecente”, destaca.

A dedução sobre a presença de drogas na residência foi mencionada pela madrasta de Robertinho, que estava na casa. Pedindo para não ter a identidade revelada, ela revelou que os suspeitos disseram.

Segundo ela, quando o trio entrou no quintal, falou: “Vou ensinar a vocês a atirar em policia” e deram mais tiros. “Executaram o filho do meu marido. Depois entram em casa e começaram a me pressionar perguntando por drogas. E eu falando que não tinha nada aqui em casa, mas eles perguntavam: ‘e a droga daquele que está morto caído lá fora? ‘. Nessa hora eu fiquei em pânico, descobri que eles tinham matado o Roberto Filho”, lamentou.

Durante o velório do estudante, que começou na noite de terça-feira (18), parentes levantaram a possibilidade de que os policiais trabalhavam com uma informação errada sobre a situação. O irmão de criação de Robertinho, de 14 anos, que não quis se identificar, afirmou ao G1 que eles procuravam pelo “dono de uma distribuidora”, sendo que Roberto é proprietário de uma oficina mecânica.

O delegado afirmou que está apurando essa questão, mas não pode dar mais detalhes para não atrapalhar as investigações.

Velório

Durante o velório do garoto, a mãe dele, a desempregada Sheyla Campos, lamentou a forma como o crime foi cometido. “Foi muita crueldade, a dor é muito grande. É a pior notícia para uma mãe, até agora não acredito. Ele era o melhor filho do mundo, um garoto excelente. Era da casa para a escola, um menino muito inteligente”, disse ao G1.

A despedida é realizada na casa da avó paterna de Roberto, a aposentada Ana Pereira da Silva. também muito abalada, destacou que vai se lembra do jeito cuidadoso do neto. “Ele era muito carinhoso e educado, um menino muito bom. Não merecia isso. Nem ele, nem o pai. A gente fica triste, é muito ruim, uma dor que nunca vai acabar. É como se retirasse algo da gente”, lamenta.

O tio do garoto, o pintor Valdir Lourenço da Silva, afirmou que o sobrinho não costumava sair muito de casa e tinha hábitos muito tranquilos para um adolescente de sua idade. “Ele só ia para a escola e para a catequese, aos sábados. Um menino excelente. O único vício dele era o videogame”, revela.

g1

19/04/2017

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