Onde estão as multidões? Portões se fecham para o clássico CSA x CRB

Sem a presença das torcidas, velhos rivais vão jogar para um Trapichão vazio

Baile sem música, praia sem sol. O clássico entre CSA e CRB será diferente neste domingo. Mais triste. Sem plateia, sem torcida, o jogo não será o que sempre foi. Vai faltar o grito que leva as camisas, o sopro da multidão que delira. No Trapichão, às 17h, o primeiro encontro dos rivais no Campeonato Alagoano terá os portões fechados. O futebol foi amordaçado pela violência.

A punição imposta pela justiça desportiva exige também uma reflexão. Será o primeiro clássico alagoano da história sem público, quase mudo. Qual o motivo do ódio? Um rival depende do outro para ser grande como é. A evolução de um exige que o outro se mexa, procure alternativas para superar o adversário. Tudo em campo, sempre. Pelo menos, deveria ser assim.

Ao longo do tempo, CSA e CRB muitas vezes trocaram de papéis. Um foi protagonista, o outro passou por momentos difíceis, mas sempre fizeram grandes jogos quando se encontraram. Azul e vermelho se completam na bandeira dos alagoanos e se respeitam quando os times estão no gramado. Nas jogadas, as cores até se misturam.

Vencer o rival é a conquista de uma estrela. Aumenta a confiança, recupera torcedores ausentes. O vencedor renova até o semblante. Jovens têm esperança, velhos voltam no tempo. Os perdedores querem logo a outra partida, onde tudo se renova. Tudo por causa do jogo em campo, tudo em razão do encanto que o futebol espalha.

Cadê as charangas? Onde estão as músicas dos times, que fazem ferver os jogadores? Cadê o abraço caloroso daquele amigo feito na hora do gol? Cadê os vendedores de picolé, o tio do amendoim? Onde estão agora as multidões? Vem o silêncio como resposta. Ernest Hemingway escreveu certa vez que um homem sozinho não tem chance. O futebol fica também assim sem a plateia. Desencanta.

O clássico foi cercado por um exército nos últimos anos. Guerra insana no estádio e fora dele. O Rei Pelé virou cenário de confrontos, de bombas, de medo, e as torcidas perderam o tom. A voz do Trapichão foi aos poucos perdendo a força, baixando o volume, enfraquecendo, até sumir de vez. Neste domingo, o vão na arquibancada dirá mais sobre o momento do que o canto triste, solitário, de quem perdeu o direito de ver o seu time num jogo mágico.

ge

19/02/2017

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