O real motivo pelo qual um estudo sobre anticoncepcional masculino foi interrompido

Por anos, cientistas vêm tentando criar métodos anticoncepcionais efetivos para homens para além da camisinha e da vasectomia. Um novo estudo mostra um avanço nesse sentido: uma injeção hormonal, capaz de retardar ou bloquear a produção de esperma, teve 96% de sucesso em prevenir a gravidez.

Foto por Sarah C/Flickr
Foto por Sarah C/Flickr

O problema está na forma como esse estudo foi repercutido na mídia: a Galileu, por exemplo, diz que o anticoncepcional foi “adiado por ter reações semelhantes ao feminino”. O Correio Braziliense, o iG Saúde e o portal Metrópoles seguiram na mesma linha.

Os homens realmente não conseguiram lidar com os efeitos colaterais – mau humor, acne, variações bruscas na libido – que as mulheres aguentam o tempo todo? Como explica o Vox, essa comparação não é exatamente válida.

Na verdade, a incidência dos efeitos colaterais nos homens era muito maior do que nas mulheres. Quase metade dos participantes desenvolveu acne, 25% sofreu com dores no local da injeção, mais de 20% teve variações no humor, e 15% relatou dor muscular.

Enquanto isso, como explica a ginecologista Jennifer Gunter em seu blog, um estudo sobre contraceptivos para mulheres “descobriu uma taxa de efeitos adversos de 2%”. A taxa de participantes com acne, por sua vez, era de 6,8% – contra quase 50% no estudo com homens.

Vinte homens abandonaram o estudo por causa dos efeitos colaterais; eram 320 no total. Eles relataram absurdos 1.491 eventos adversos, e os pesquisadores determinaram que boa parte deles foi causada pelo contraceptivo injetável.

Ainda assim, 75% dos homens queria continuar usando a injeção, de acordo com um comunicado à imprensa. “Apesar do número de eventos adversos maior do que o esperado, muitos participantes expressaram sua satisfação com o método e indicaram que suas parceiras estavam aliviadas por não terem que suportar o fardo da contracepção”.

No entanto, um dos dois comitês independentes que monitorava o estudo ficou preocupado, e resolveu intervir. Eis o que o estudo, publicado no Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism, diz:

Esta decisão [de encerrar os testes] se baseou na análise do estudo [e seus eventos adversos], e na conclusão de que os riscos para os participantes superavam os potenciais benefícios e a maior precisão do resultado de fazer todos contribuírem para a análise final.

O estudo foi realizado por cientistas de dez centros de pesquisa de oito países, liderados por Mario Festin, da OMS (Organização Mundial de Saúde).

Segundo a NPR, os cientistas ainda não desistiram: eles devem alterar as doses dos hormônios para chegar a níveis mais seguros; e talvez administrá-los de forma diferente, como em um gel ou um implante – em vez de uma injeção. Acredita-se, no entanto, que um anticoncepcional para homens só deve chegar ao mercado na próxima década.

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